Por que o símbolo do coração não se parece em nada com um coração de verdade?

por Lucas Rabello
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Dentro do seu peito bate um pedaço de músculo de aparência estranha, desprovido de qualquer traço romântico — seu coração. Curiosamente, todos concordamos em simbolizar esse órgão vital com um formato de coração bonito e simétrico que não se parece em nada com o seu verdadeiro equivalente. Por quê? Bem, ninguém parece muito incomodado com o erro histórico, mas vamos entender as origens desse equívoco anatômico.

Filósofos gregos antigos, incluindo o famoso Aristóteles, foram talvez os primeiros a atribuir características emocionais ao coração. As descrições de Aristóteles estavam um pouco fora da realidade, retratando o coração de maneiras que talvez inspirassem mais poesia do que precisão científica. Avançando para o século 13, encontramos os primeiros esboços do coração não como um músculo, mas como o símbolo do coração que conhecemos hoje. Seria Aristóteles o culpado por isso? É uma ideia tentadora.

O neurocirurgião holandês Pierre Vinken aponta para esses textos medievais como o berço do símbolo do coração, sugerindo uma ligação com as interpretações anatômicas criativas de Aristóteles. No entanto, há outra reviravolta nesta história. Alguns estudiosos argumentam que essa forma icônica foi derivada da folha de silphium, uma planta agora extinta que foi encontrada ao longo da costa norte-africana. Essa planta não era apenas um arbusto qualquer; era supostamente usada pelos gregos e romanos antigos como método de controle de natalidade, possuindo um fruto que se assemelhava — adivinhou — ao formato do coração.

À medida que os séculos passavam, esse símbolo se tornou universalmente reconhecido não por sua precisão anatômica, mas por seu significado metafórico, incorporando emoções, afeto e amor. Nos séculos 15 e 16, o símbolo do coração estava em toda parte, consolidando seu papel na cultura visual e literária.

Não foi até meados do século 20 que os cientistas acompanharam uma descoberta surpreendente. Quando injetaram plásticos nas artérias coronárias de cadáveres, os moldes resultantes se assemelhavam notavelmente ao símbolo clássico do coração. Essa descoberta foi ainda mais apoiada por técnicas posteriores que envolviam corantes de contraste, que permitiam uma visão mais clara de quão de perto o layout do sistema arterial imitava o formato tradicional do coração.

A injeção simultânea nas artérias coronárias direita e esquerda iluminava toda a circulação coronariana, revelando uma forma estranhamente familiar para qualquer pessoa que já tenha desenhado um coração. Essa semelhança serendipitosa levantou uma pergunta fascinante: os anatomistas antigos poderiam ter tido a tecnologia para realizar procedimentos semelhantes, possivelmente usando materiais como gesso?

Essa noção permanece especulativa, com pesquisadores propondo-a como uma explicação plausível para a precisão do símbolo do coração em comparação com as representações antigas. Eles sugerem que esses pioneiros na exploração do corpo humano podem ter tropeçado em um padrão visual nas artérias coronárias que antecipava as descobertas modernas por milênios.

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