O avião que quase foi jogado em Brasília

por Lucas Rabello
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Em 1988, o Brasil estava passando por uma significativa crise econômica que levou muitas famílias ao desespero. Muitos culpavam José Sarney, então presidente do Brasil, pelas circunstâncias difíceis. Durante esse período, Raimundo Nonato Alves da Conceição, natural do Maranhão, cometeu um dos atos mais assustadores na história da aviação brasileira.

No dia 29 de setembro de 1988, um Boeing 737 operava o voo 375 da VASP de Rondônia para o Rio de Janeiro, transportando 104 passageiros. Raimundo Nonato embarcou na aeronave durante uma das paradas programadas no aeroporto de Confins, em Belo Horizonte. Sua intenção era sequestrar o avião e jogá-lo contra o Palácio do Planalto como um protesto violento contra a administração Sarney. Na época, os aeroportos não contavam com máquinas de raio-X nem detectores de metais, medida de segurança implementada apenas após os ataques de 11 de setembro, o que permitiu que Nonato embarcasse armado com um revólver calibre .32.

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O avião que quase foi jogado em Brasília

Logo após a decolagem, Nonato levantou-se e dirigiu-se à cabine de comando. Quando uma aeromoça tentou impedi-lo, Nonato disparou sua arma, ferindo-a de raspão. O piloto, percebendo o perigo, trancou as portas da cabine. No entanto, a ausência de portas reforçadas na cabine permitiu que Nonato atirasse na porta, atingindo vários instrumentos do cockpit e ferindo um membro da tripulação na perna. Isso forçou o capitão Fernando Murilo a abrir a porta da cabine.

Uma vez dentro, Nonato anunciou o sequestro e exigiu que o avião fosse redirecionado para Brasília. Enfrentando as ameaças duplas de um sequestrador armado na cabine e de combustível potencialmente insuficiente para alcançar a capital brasileira, o Capitão Murilo ativou o transponder da aeronave para sinalizar o código 7500, indicando um sequestro. A Força Aérea Brasileira respondeu prontamente enviando um jato de combate para acompanhar o voo.

As complicações escalaram quando os controladores de tráfego aéreo contataram o Boeing para confirmar a mudança de rota. Quando o copiloto Salvador Evangelista estendeu a mão para o rádio para responder, Nonato o atirou fatalmente na cabeça. Apesar do caos, o Capitão Murilo manteve a compostura e tomou medidas para economizar combustível, voando na altitude máxima com velocidade reduzida.

À medida que o avião se aproximava de Brasília, Nonato ordenou que o Capitão Murilo direcionasse o avião para o Palácio do Planalto. No entanto, Murilo, notando uma densa camada de nuvens abaixo, enganou Nonato sobre as condições de visibilidade para impedir que ele visse o alvo, ganhando tempo.

Nonato então exigiu que o avião fosse redirecionado novamente, inicialmente para Goiânia, mas insistindo em São Paulo. Sabendo que o combustível não duraria, o Capitão Murilo decidiu realizar uma manobra arriscada conhecida como “tumble”, girando o avião 360 graus. Isso não teve sucesso, e Nonato permaneceu de pé, levando Murilo a tentar uma descida em espiral acentuada para desorientar Nonato. Essa tática funcionou, fazendo com que Nonato perdesse o equilíbrio e caísse, permitindo que Murilo pousasse o avião em segurança em Goiânia, enquanto o avião ficava sem combustível ao tocar o solo.

Uma vez no chão, Nonato assumiu o controle do rádio da aeronave e exigiu outro avião para continuar até Brasília. A polícia elaborou uma estratégia para subjugar Nonato, escondendo um atirador de elite dentro da aeronave designada para transportá-lo. Quando Nonato embarcou nesse avião, fazendo o capitão e dois comissários de bordo reféns, o atirador disparou, iniciando um intenso tiroteio na pista. O confronto terminou com o Capitão Murilo ferido e Nonato dominado, mas vivo.

Nonato foi baleado três vezes, mas inicialmente sobreviveu; mais tarde, ele sucumbiu a uma condição infecciosa exacerbada por sua anemia falciforme. O capitão Fernando Murilo de Lima e Silva faleceu em 2020, aos 76 anos, devido a complicações cardíacas e diabetes. Ele é lembrado como um herói na aviação brasileira por sua atuação durante a crise, apesar de nunca ter recebido reconhecimento oficial da presidência brasileira.

 

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