Henry Ford, homem famoso por revolucionar o modus operandi da indústria automobilística, entrou para a história também de forma inusitada em 1928, quando tentou fundar sua própria cidade em solo brasileiro: A Fordlândia.
A ideia era transformar esta cidade, fundada às margens do Rio Tapajós, no Pará, em uma potência na produção de borracha. O material produzido na cidade deveria servir para fornecer as matérias-primas necessárias para a fabricação dos seus carros. No entanto, nem tudo saiu como esperado.

Planejada para abrigar até 10 mil pessoas, que trabalhariam de acordo com a cultura de trabalho americana, hoje a cidade está totalmente abandonada, ilustrando o que pode ser considerado uma das maiores utopias do século 20.
Henry Ford transformou a indústria dos veículos automotores em 1908, quando lançou o primeiro automóvel acessível financeiramente à população em geral: o Ford Model T, que custava cerca de 260 dólares à época. Se fôssemos trazer esse valor para os dias de hoje, estaríamos falando de algo em torno de 3835 dólares. Antes do lançamento do Model T, os veículos eram um privilégio pertencente apenas às classes mais ricas e abastadas. E para que o carro popular pudesse continuar sendo fabricado em grandes quantidades, era necessário um suprimento constante de pneus de borracha, bem como outras peças que faziam parte da produção.
Entre os anos de 1879 e 1912 o Brasil era uma grande potência na produção de borracha, principalmente por conta das plantações na Amazônia. Esse cenário mudou um pouco depois que Henry Wickham levou sementes para as colônias britânicas na Índia, onde não haviam tantas pestes e fungos para atacar as plantações – algo que acontecia em território brasileiro.
Demorou cerca de 10 anos para que as colônias britânicas passassem, então, a ser responsáveis por 75% da produção global de borracha. Isso fez com que o Reino Unido eventualmente aumentasse os preço, desagradando o “modo americano de produção”. Vários nomes importantes da indústria americana, como Thomas Edison, tentaram produzir borracha por conta própria, mas não conseguiram sucesso. Foi quando Henry Ford decidiu tentar.
Pensando em levar as plantações de borracha para onde pertenciam originalmente, Ford iniciou o assentamento da Fordlândia, ignorando todas as dificuldades de criar uma plantação de estilo britânico em meio às florestas brasileiras.
Para que seus planos fossem vistos com bons olhos pelas autoridades brasileiras e pelo povo que vivia nos arredores, Ford dizia sempre que não estava indo para a América do Sul para fazer dinheiro, e sim para “desenvolver essa terra fértil e maravilhosa”. Vale ressaltar que Ford não era conhecido por explorar seus funcionários, dados os padrões da época. Mesmo em tempos de recessão nos Estados Unidos, a planta industrial de Ford em Dearborn, Michigan, pagava algo em torno de 5 dólares por dia para seus funcionários. Pode até parecer pouco, mas para os padrões da época era um salário consideravelmente alto.
Então, para garantir os seus 2,5 milhões de acres de terra no Pará, Ford garantiu que 7% de todo o lucro da Fordlândia iria para o governo brasileiro, bem como prometeu uma parcela dos lucros para o governo local após 12 anos de operação. Com isso, Henry Ford não precisou pagar nada pela terra. Mesmo assim, teve de investir cerca de 2 milhões em suprimentos e materiais para que a cidade fosse construída totalmente do zero.
No entanto, por conta da má administração de Willis Blakeley, homem designado por Ford para cuidar das plantações, e do seu sucessor, Einar Oxholm, as coisas não correram como esperado. Como as árvores foram plantadas muito próximas umas das outras, reflexo da falta de experiência de Blakeley, as pestes rapidamente se proliferaram nas plantações.

Pior que as pestes foram as justas revoltas protagonizadas pelos trabalhadores, que deixaram suas casas para trabalhar na ideia excêntrica de Ford esperando ganhar 5 dólares por dia. Na prática, entretanto, os funcionários estavam ganhando apenas o equivalente a 0,35 dólares por um dia de trabalho. Mais do que isso, os trabalhadores eram obrigados a abandonar seus costumes locais, e precisavam comer comidas enlatadas típicas dos Estados Unidos, bem como viver em residências americanas, que em muito diferiam das brasileiras.

Eventualmente, os funcionários se revoltaram e decidiram se voltar contra o sistema de produção da Fordlândia. Durante as fervorosas manifestações, o Exército precisou intervir para conter os trabalhadores. E esse foi o começo do fim do sonho de Ford.

Em meados de 1940, as operações de Ford no Brasil contavam com apenas 500 empregados, e a produção estava muito abaixo daquilo que era planejado pelo empresário. Para piorar ainda mais a situação, uma doença se espalhou pelas plantações de Ford durante a Segunda Guerra Mundial, danificando permanentemente o seu negócio.
Foi então que, em 1945, Ford vendeu suas plantações tanto em Fordlândia como em Belterra para o governo brasileiro, por apenas 250 mil dólares, apesar de ele ter investido mais de 20 milhões nelas. Atualmente, companhias brasileira ainda exploram a região de Belterra, mas Fordlândia permanece completamente abandonada.