Quando pensamos em alucinações, imaginamos fenômenos que não são reais – criados, de certo modo, por alguma coisa em nossas mentes. Mas de uma perspectiva, essas ilusões visuais são tão reais quanto qualquer outra coisa que possamos ver.
Anil Seth, um neurocientista e diretor do Sackler Centre for Counsciousness Science da Universidade de Sussex, investiga a base biológica do tema consciência, que ele define como o estado de “como ser” um organismo (por exemplo, algo como ser um rato, mas não uma caneca de café, etc). E ele quer entender como isso molda a forma como experimentamos o mundo.

“Mais ambiciosamente, queremos uma teoria unificada da percepção”, disse Seth sobre o objetivo do laboratório. “Tempo, visão, audição… queremos explicar isso”.
O Sackler Centre é a base do mundo da neurociência de Seth, mas também filósofos, físicos, cientistas computacionais e artistas – criando um quadro multidisciplinar através do qual se pode olhar para questões da mente e do cérebro. Seth e sua equipe estão aplicando uma série de métodos e ferramentas – da ciência computacional e da realidade virtual à imagem cerebral – para identificar os mecanismos que compõem a consciência.
Da maneira como Seth explica, nossas percepções são uma combinação de impulsos elétricos e previsão. O cérebro combina sinais sensoriais, os processa no contexto do que conhece do passado e adivinha o que está acontecendo em tempo real. Por exemplo, podemos ver um objeto através do córtex visual, mas o que nos ajuda a identificar esse objeto é o compêndio de informações passado que acumulamos até aquele ponto.
É por isso que ele diz que nossa realidade consciente é tão semelhante à alucinação – a única diferença é que nós coletivamente concordamos com essas alucinações em particular e as consideramos realidade. “Nós não apenas passivamente percebemos o mundo, nós o geramos ativamente”, disse ele em uma TED Talk de 2017, que você pode conferir a seguir (há legendas em português):
https://www.youaatube.com/watch?v=lyu7v7nWzfo
Seth, que cresceu em Oxfordshire, na Inglaterra, ficou fascinado pela consciência por volta dos 19 anos através das lentes da matemática e da física. Na Universidade de Cambridge, ele começou a devorar livros sobre o assunto enquanto estudava ciências naturais. Em A Mente Nova do Rei, Roger Penrose, um físico matemático, postulou que algumas partes da mente humana nunca seriam replicadas por uma máquina. Em Consciouness Explained, o cientista cognitivo Daniel Dennett descreveu a consciência como um aglomerado de atividade cerebral, em vez de uma entidade centralizada. Mas Seth não estava satisfeito com essas explicações.
“Eu disse: ‘algo está faltando aqui'”, disse Seth. “Acho que isso me deu motivação para pensar que quero saber mais”.
Seth continuou estudando o cérebro depois da universidade. Ele fez mestrado em Sistemas de Conhecimento na Universidade de Sussex em 1996 e disse que a academia forneceu os recursos e professores para ajudá-lo a explorar diferentes caminhos de abordar a consciência e como ela determina o que percebemos, da psicologia aos dados de imagem cerebral. Ele começou a analisar o comportamento e o cérebro e como eles eram influenciados pelo ambiente de alguém.

Mas ele não achava que fosse possível estudar especificamente a ideia central da consciência até 2001, quando foi ao Instituto de Neurociências, em San Diego, Califórnia, para trabalhar com Gerald Edelman, um biólogo ganhador do Prêmio Nobel, que argumentou que a mente e a consciência eram puramente biológicas. Explicado em seu livro Neural Darwinism, a teoria de Edelman é focada em como a genética e o meio ambiente influenciam a maneira como os neurônios do cérebro interagem e se reproduzem para criar a consciência.
“Aqui foi a primeira vez que as pessoas não estavam apenas estudando a consciência, mas estudando o cérebro [nesse contexto]”, disse Seth.
Seu papel em San Diego foi diverso: Seth passou seu tempo construindo robôs com arquitetura cerebral que imitava o cérebro humano. Os robôs foram encarregados de resolver problemas de percepção visual ou labirintos. Depois disso, Seth precisava encontrar uma maneira de continuar sua exploração da consciência.

Em 2006, Seth voltou para a Inglaterra e chegou à Universidade de Sussex. Ele lentamente encontrou apoio para seu novo laboratório e construiu uma equipe para estudar como o cérebro constrói o conceito do eu e do mundo ao seu redor.
“É necessário que os filósofos profissionais aprendam neurociência e cientistas como eu se alfabetizem com a filosofia”, disse ele sobre o processo.
Seth disse que espera que haja uma aplicação ainda maior de seu trabalho quando se trata de saúde mental. Entender a consciência, ele disse, poderia ajudar a descobrir alguns dos mecanismos de distúrbios complexos como esquizofrenia e delírios. Agora, segundo ele, a psiquiatria pode muitas vezes ficar aquém desse tipo de tratamento. “Você pode suprimir os sintomas das pessoas, mas não a causa”.