Na última terça-feira (22 de abril), um dos locais mais tranquilos da região de Kashmir, na Índia, transformou-se em cenário de horror. O prado de Baisaran, em Pahalgam, conhecido por suas paisagens serenas, foi alvo de um ataque armado que deixou 26 mortos. Enquanto o caos se desenrolava no solo, um turista desprevenido registrava seu momento de alegria em uma tirolesa, sem perceber que suas imagens acabariam documentando a tragédia.
Rishi Bhatt, um visitante que passeava com a família, estava gravando um vídeo durante o passeio aéreo quando, sem saber, capturou indiretamente os primeiros instantes do ataque. Distraído pela emoção do momento, ele não ouviu os disparos iniciais nem percebeu a multidão correndo em pânico abaixo dele. “Estava focado em filmar minha experiência”, contou Bhatt ao jornal The New Indian Express. Só ao pousar é que a realidade o atingiu: cinco a seis pessoas já haviam sido baleadas a poucos metros dali.
Os agressores, identificados como integrantes da Frente de Resistência (TRF), grupo classificado como terrorista pelos Estados Unidos, atacaram cerca de três dezenas de pessoas. Testemunhas relataram que os militantes interrogavam vítimas sobre sua religião antes de executá-las. Bhatt, sua esposa e seu filho conseguiram se esconder em uma depressão do terreno, mas não escaparam de presenciar mortes a curta distância. “Vi 15 a 16 turistas sendo atingidos. Meu filho e minha esposa gritavam”, descreveu. O tiroteio durou cerca de dez minutos, parou e recomeçou, até a chegada do exército indiano vinte minutos após o início da ação.
This is Insane. He’s Zip Lining Thru a Terrorist Attack Below Him and Has NO IDEA … https://t.co/Mg0ztz78Xt
— 𝕰𝖒𝕲 (@Emilio2763) April 28, 2025
O primeiro-ministro Narendra Modi reagiu ao episódio dois dias depois, durante um comício no estado de Bihar. Em discurso inflamado, prometeu perseguir os responsáveis “até os confins da Terra” e afirmou que “o terrorismo não ficará impune”. A TRF, surgida em 2019 como uma ramificação do grupo Lashkar-e-Taiba (LeT) — associado à Al-Qaeda e a Osama bin Laden —, já havia reivindicado outros ataques na região.
A tensão em Kashmir, território disputado por Índia e Paquistão desde a divisão dos dois países em 1947, intensificou-se nas últimas décadas. Após o ataque, autoridades indianas acusaram o Paquistão de apoiar os militantes, alegação negada pelo governo paquistanês. Enquanto isso, fontes policiais relataram à BBC que cerca de 1.500 suspeitos foram detidos para interrogatórios em operações de busca.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também se manifestou em sua rede social Truth Social, classificando o ocorrido como “notícia profundamente perturbadora” e reforçando o apoio americano à Índia no combate ao terrorismo.
O vídeo gravado por Bhatt, inicialmente destinado a guardar uma lembrança feliz, tornou-se um registro involuntário da violência que ainda assombra Kashmir. Enquanto as investigações avançam, sobreviventes como ele tentam processar o trauma de terem testemunhado, em pleno passeio turístico, a brutalidade de um conflito que persiste há gerações.