Vale uma fortuna: este é o eletrodoméstico que todo mundo tem em casa e contém ouro de 22 quilates

por Lucas Rabello
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Você já imaginou que aquela pilha de celulares velhos, computadores quebrados ou até mesmo o micro-ondas esquecido no canto podem guardar pequenas fortunas? Pesquisadores da ETH Zurich, na Suíça, desenvolveram um método revolucionário para extrair ouro de dispositivos eletrônicos descartados usando um ingrediente surpreendente: resíduos da produção de queijo. A técnica não só é mais sustentável do que os processos tradicionais, mas também pode transformar o lixo doméstico em uma mina de metais preciosos.

O ouro escondido no lixo eletrônico

Todos os anos, bilhões de toneladas de eletrônicos são descartados no mundo. Segundo a União Internacional de Telecomunicações, apenas em 2021 foram gerados 57,4 milhões de toneladas de resíduos eletrônicos. Esses aparelhos contêm metais valiosos, como ouro, prata e paládio, mas a maioria acaba em aterros ou é incinerada, liberando substâncias tóxicas. A mineração tradicional para extrair esses metais, por sua vez, é uma das atividades mais poluentes do planeta, consumindo grandes quantidades de energia e usando produtos químicos perigosos.

Do queijo ao ouro: uma solução inusitada

A equipe suíça encontrou uma alternativa sustentável em um lugar improvável: a indústria alimentícia. Eles criaram uma esponja feita de nanofibrilas proteicas, derivadas de subprodutos da fabricação de queijo, como o soro de leite. Essas fibras, quando tratadas em condições ácidas e de alta temperatura, formam uma estrutura porosa capaz de “capturar” íons de ouro presentes em placas de circuito e componentes eletrônicos.

Como funciona o processo

O método é dividido em etapas simples, mas eficientes:

  1. Coleta de resíduos proteicos: Restos da produção de queijo, ricos em proteínas, são transformados em uma suspensão que vira uma esponja após um tratamento térmico e químico.
  2. Dissolução dos metais: Placas de circuito de computadores antigos são mergulhadas em uma solução ácida aquecida, que dissolve o ouro e outros metais presentes.
  3. Captura do ouro: A esponja de proteína é colocada na solução ácida, onde adsorve seletivamente os íons de ouro, deixando outros metais para trás.
  4. Transformação em pepitas: Após a captura, a esponja é aquecida, reduzindo os íons de ouro a escamas metálicas. Essas escamas são fundidas, resultando em pepitas com até 91% de pureza (equivalente a ouro 22 quilates).

O resultado é impressionante: com apenas 20 placas de circuito de computadores, os pesquisadores conseguiram produzir uma pepita de ouro avaliada em cerca de R$ 170.000 (considerando a cotação atual).

Quais aparelhos têm ouro?

O ouro é usado em componentes eletrônicos por sua excelente condutividade e resistência à corrosão. Embora cada dispositivo contenha quantidades mínimas (geralmente miligramas), a escala global torna o potencial de reciclagem enorme. Confira onde procurar:

  • Celulares e smartphones: Circuitos internos e conectores.
  • Computadores e notebooks: Placas-mãe, processadores e slots de memória.
  • Televisores e monitores: Conexões e placas de controle.
  • Eletrodomésticos: Micro-ondas, máquinas de lavar e aparelhos de ar-condicionado possuem circuitos com traços de ouro.
  • Câmeras digitais e impressoras: Componentes eletrônicos internos.

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Uma revolução na reciclagem

Além da eficiência, o método suíço reduz drasticamente o impacto ambiental. As esponjas de proteína são biodegradáveis e a técnica evita o uso de cianeto ou mercúrio, comuns na mineração tradicional. Outra vantagem é o aproveitamento de resíduos da indústria de laticínios, que normalmente exigiriam tratamento para descarte.

Com o volume de lixo eletrônico crescendo cerca de 3% ao ano, tecnologias como essa podem transformar um problema ambiental em uma oportunidade econômica. Países como o Brasil, que gerou 2,1 milhões de toneladas de resíduos eletrônicos em 2021, segundo a ONU, poderiam se beneficiar dessa inovação, combinando sustentabilidade e geração de renda a partir de materiais que hoje são subaproveitados.

Enquanto a técnica ainda está em fase de testes industriais, a mensagem é clara: aquela pilha de eletrônicos esquecida no fundo do armário pode valer muito mais do que você imagina.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.

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