Desde que os registros começaram, há mais de um século, o Monte Everest tem sido um desafio mortal para alpinistas que ousam enfrentar o pico mais alto do mundo. Com aproximadamente 8.849 metros de altitude — equivalente a quase 20 vezes a altura do Empire State Building —, a montanha já cobrou a vida de centenas de pessoas.
Dados do Himalayan Database apontam 335 mortes, enquanto a Wikipedia registra 341. Entre os que não sobreviveram, estima-se que cerca de 200 corpos permaneçam preservados no gelo e nas encostas, mesmo com os recentes esforços do governo do Nepal para remover restos humanos durante operações de limpeza.
A presença desses corpos é um lembrete silencioso dos perigos extremos da escalada. Muitos alpinistas relatam a experiência perturbadora de passar por corpos congelados durante a subida, um aspecto que poucos estão verdadeiramente preparados para enfrentar. A britânica Bonita Norris, que conquistou o cume do Everest em 2010, conhece bem essa realidade.
Bonita Norris: De Iniciante a Recordista
Aos 22 anos e sete meses, Bonita Norris entrou para a história como a mulher britânica mais jovem a alcançar o topo do Everest. Seu feito durou dois anos, até ser superado por Leanna Shuttleworth, então com 19 anos. O que torna a história de Norris ainda mais impressionante é que ela só descobriu o montanhismo aos 20 anos, durante uma palestra que mudou sua vida.
“Estava em uma palestra onde dois alpinistas descreveram a vista do Everest. Eles mencionaram ver a curvatura da Terra do topo. Naquele momento, soube que precisava escalar aquela montanha”, contou Norris, hoje com 37 anos, em entrevista ao UNILAD. Sem experiência prévia, ela começou a treinar em montanhas como o Monte Snowdon, no País de Gales, que tem apenas 1.085 metros — uma fração mínima da altitude do Everest. Dois anos depois, estava no cume do Himalaia, embora a visão da curvatura terrestre tenha ficado escondida pelas nuvens.
O Código Não Escrito dos Alpinistas
Durante suas expedições, Norris enfrentou situações que vão além do esforço físico e mental. Ela descreve um “código não escrito” entre alpinistas: a aceitação de que corpos em certas áreas da montanha não podem ser resgatados sem colocar mais vidas em risco. “Já vi de perto, em várias montanhas, pessoas que perderam a vida. Na zona da morte, recuperar um corpo é quase impossível”, explicou.
A “zona da morte” começa aos 8.000 metros de altitude, onde o oxigênio é tão escasso que o corpo humano entra em colapso. Jeremy Windsor, médico e alpinista que escalou o Everest em 2007, comparou a experiência a sobreviver com apenas 25% do oxigênio disponível ao nível do mar. Nessas condições, cada passo exige um esforço sobre-humano, e até funções básicas, como respirar, tornam-se um desafio.
Para Norris, a presença de corpos na montanha é um alerta constante. “Cada dia na montanha é uma questão de vida ou morte. Ver esses cenários nos faz repensar nossas prioridades. O mais importante não é chegar ao topo, mas voltar em segurança para a família”, refletiu.
Aventura no Cotidiano: Como Manter a Chama Acesa
Enquanto o Everest simboliza o extremo do espírito aventureiro, uma pesquisa da montadora Dacia revelou que a maioria das pessoas perde a vontade de se aventurar por volta dos 36 anos. Fadiga física e mental, pressão financeira, rotina e responsabilidades familiares estão entre as causas. Para o público mais jovem, como a Geração Z, esse declínio começa ainda mais cedo — aos 13 anos.
Norris, hoje mãe de dois filhos, defende que a aventura não precisa ser grandiosa. “Comecem pequeno. Há guias no site da Dacia com ideias simples, como observar as estrelas ou construir uma cabana no jardim. São atividades gratuitas e acessíveis”, sugeriu. A campanha da marca incentiva as pessoas a buscar “aventuras cotidianas” em 2025, mostrando que é possível reconectar-se com a curiosidade e a coragem, independentemente da idade.
A história de Bonita Norris e os dados sobre o Everest reforçam uma lição simples: aventura e risco andam de mãos dadas, mas a busca por desafios pode — e deve — ser adaptada à realidade de cada um. Seja escalando uma montanha ou explorando o quintal de casa, o essencial é manter vivo o desejo de descobrir.