Um pequeno dispositivo que descartamos esconde ouro de 22 quilates Um pequeno dispositivo que descartamos esconde ouro de 22 quilates

por Lucas Rabello
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Você já imaginou que o computador velho guardado no armário pode esconder uma pequena fortuna? Pesquisadores da ETH Zurich, na Suíça, descobriram uma maneira inovadora de transformar dispositivos eletrônicos descartados em ouro puro — e o segredo está em um ingrediente surpreendente: resíduos da fabricação de queijo.

A técnica, que promete ser eficiente e amigável ao meio ambiente, substitui os produtos químicos tradicionais por uma “esponja” feita de proteínas do soro do leite, um subproduto da indústria láctea. Essas proteínas, quando tratadas em condições controladas de acidez e temperatura, formam uma rede de nanofibras capazes de atrair e prender partículas de ouro presentes em placas de circuito e outros componentes eletrônicos.

Da Proteína ao Metal Precioso

O processo começa com a desmontagem de aparelhos descartados, como computadores antigos. As partes metálicas são dissolvidas em uma solução química, liberando íons de ouro. Em seguida, a esponja de proteínas é mergulhada nesse líquido, onde atua como um ímã microscópico, capturando apenas os íons de ouro e ignorando outros metais. Depois de saturada, a esponja é aquecida, transformando os íons em flocos dourados, que são fundidos para criar uma pepita.

Em um teste prático, os cientistas usaram 20 placas-mãe obsoletas e conseguiram extrair 450 miligramas de ouro de 22 quilates — equivalente a 91% de pureza, com uma pequena porcentagem de cobre. Se vendida no mercado, essa quantidade valeria cerca de 33 dólares. O resultado não só comprova a eficácia do método, mas também revela o potencial escondido em pilhas de lixo eletrônico, que hoje são descartadas sem aproveitamento.

placas-mãe

Economia Circular: Ouro que Gera Mais Ouro

Além de reduzir a necessidade de mineração — atividade com alto impacto ambiental —, a técnica tem um apelo econômico irresistível. Segundo os cálculos da equipe, cada dólar investido no processo pode retornar até 50 dólares em ouro recuperado. Essa relação custo-benefício supera métodos convencionais, que frequentemente usam substâncias tóxicas e consomem mais energia.

A inovação também dá um novo propósito a resíduos da produção de queijo, que antes seriam descartados. Ao unir sustentabilidade e tecnologia, os pesquisadores abrem caminho para uma forma inteligente de enfrentar dois problemas globais: o acúmulo de lixo eletrônico e a demanda por metais preciosos.

Com milhões de toneladas de dispositivos descartados anualmente, a possibilidade de extrair recursos valiosos de forma limpa e lucrativa pode revolucionar não apenas a reciclagem, mas também a própria ideia de como enxergamos o “lixo” tecnológico. Quem diria que o futuro da mineração estaria em uma combinação de queijo e placas de circuito?

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.