Há dez anos, um evento trágico em Seffner, na Flórida, Estados Unidos, chamou a atenção do mundo para os perigos imprevisíveis dos sumidouros — depressões naturais que se abrem no solo sem aviso. Na madrugada de 1º de março de 2013, Jeffrey Bush, de 37 anos, dormia em seu quarto quando o chão sob sua casa desmoronou. Em questão de minutos, um buraco de 6,1 metros de largura e 30,5 metros de profundidade engoliu não apenas o cômodo, mas também a vida do jovem, cujo corpo jamais foi recuperado.
Sumidouros, como o que tragou Jeffrey, são formados quando tipos de rochas solubles — como calcário, gesso ou dolomita — entram em contato com água ligeiramente ácida. Na Flórida, onde o terreno é rico em calcário, a água da chuva absorve dióxido de carbono ao passar pela atmosfera, formando ácido carbônico. Esse processo, ao longo de milhares de anos, dissolve as rochas subterrâneas, criando cavernas invisíveis. Quando o teto dessas cavidades desmorona, o solo superficial cede, abrindo crateras que podem engolir casas, carros e até pessoas.
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O buraco tem cerca de 6 metros de largura (Fox13).
Naquela noite fatídica, Jeremy Bush, irmão de Jeffrey, chegou à casa após receber um chamado desesperado de seu cunhado. Ao abrir a porta do quarto, deparou-se com um vazio: a cama, o armário e Jeffrey haviam desaparecido, substituídos por um abismo. Em entrevista à Fox13, uma década depois, Jeremy descreveu a cena: “Pulei imediatamente no buraco e comecei a cavar. Ouvi ele gritar: ‘Jeremy, por favor, me ajuda!’. Mas a terra continuava deslizando, e não consegui alcançá-lo”. Equipes de resgate chegaram rapidamente, mas o risco de novos deslizamentos tornou a operação perigosa. Após horas de buscas, a decisão foi encerrar os trabalhos — Jeffrey permaneceu sob toneladas de terra.
O local se tornou um símbolo de luto. Nos anos seguintes, a cratera reabriu duas vezes: em 2015 e 2023. Na primeira reabertura, uma mistura de água e cascalho foi usada para preencher o vazio, mas o material vazou gradualmente. Em 2023, o sumidouro reapareceu, menor, porém ainda ameaçador. Desta vez, autoridades injetaram 150 toneladas de uma nova mistura para estabilizar o solo. O terreno, adquirido pelo governo local após o acidente, permanece isolado por duas camadas de cerca, impedindo acesso público.
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Jeremy ficou muito emocionado ao revisitar o sumidouro (Fox13).
Jeremy, que visita o local regularmente, compartilhou com a WFTS a dor de testemunhar a reabertura: “Não passa um dia sem que eu pense nele. Ouvir seus gritos naquela noite… é algo que nunca me abandona. Este é o único lugar onde posso estar perto dele”. Apesar da tristeza, ele reconhece a importância das medidas de segurança: após 2013, o condado de Hillsborough comprou imóveis vizinhos para evitar novas tragédias.
Embora sumidouros sejam comuns em regiões com base de calcário, casos fatais são raros. O incidente de Seffner alertou comunidades sobre a necessidade de monitoramento geológico, especialmente em áreas vulneráveis. Sensores e estudos do subsolo ajudam a identificar riscos, mas a imprevisibilidade dessas formações naturais ainda desafia especialistas.
Hoje, a casa onde Jeffrey Bush viveu foi demolida, e o terreno transformado em um espaço vazio e silencioso. Para Jeremy, é um memorial improvisado — um lugar de lembranças e respeito. Enquanto autoridades garantem que a área está segura, a história permanece como um exemplo dos caprichos da natureza, capaz de transformar o cotidiano em pesadelo em poucos segundos.