Na última semana, os Estados Unidos entraram em mais um capítulo de tensões comerciais com seus vizinhos. Donald Trump, o 47º presidente do país, anunciou tarifas consideradas “catastróficas” contra Canadá, México e China, acusando os países de não cumprirem promessas para conter o fluxo de drogas ilegais e imigração irregular. A medida, que entrou em vigor em 4 de fevereiro, inclui taxas de 25% sobre produtos canadenses e mexicanos e 10% sobre chineses. Para reforçar a decisão, Trump declarou “emergência nacional” com base na Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional, um mecanismo raramente usado.
O anúncio da Casa Branca justifica as tarifas como uma forma de pressionar os três países a combaterem a produção e o tráfico de fentanil, um opioide sintético responsável por milhares de mortes por overdose nos EUA. O documento afirma que, apenas na fronteira norte, foram apreendidas quantidades suficientes da droga para matar 9,8 milhões de americanos no último ano fiscal. Além disso, alega que as travessias ilegais pelo Canadá atingiram números recordes nos últimos quatro anos.
A resposta canadense foi imediata. O primeiro-ministro Justin Trudeau anunciou a imposição de contra-tarifas de 25% sobre US$ 155 bilhões em produtos americanos, incluindo setores estratégicos como automóveis e alimentos. Em declaração pública, Trudeau alertou que as medidas terão “consequências reais para o povo americano” e criticou a postura de Trump, afirmando que a decisão “cria divisão, não união”.
Mas a polêmica não parou por aí. No dia 2 de fevereiro, Trump usou sua rede social, Truth Social, para sugerir uma solução inusitada: que o Canadá se tornasse o “51º estado” dos EUA. Em uma publicação cheia de críticas, ele questionou os subsídios americanos ao país vizinho, alegando que os EUA não precisam de produtos canadenses, como energia, carros ou madeira. “Sem essa ajuda massiva, o Canadá deixaria de existir como nação viável. Duro, mas verdadeiro!”, escreveu. A proposta, segundo ele, traria “impostos muito mais baixos” e “proteção militar superior” aos canadenses, além de eliminar tarifas.
Do outro lado da fronteira sul, o México também reagiu. A presidente Claudia Sheinbaum rejeitou categoricamente as acusações de que o governo mexicano mantém alianças com organizações criminosas. Em coletiva de imprensa no dia 31 de janeiro, ela afirmou que o país tem “Plano A, B, C” para responder às decisões dos EUA, mas destacou que o diálogo deve ocorrer “entre iguais, sem subordinação”. Sheinbaum reforçou o compromisso de defender a soberania nacional e a dignidade do povo mexicano.
Enquanto os três países se preparam para os impactos econômicos das tarifas, a sugestão de Trump sobre a anexação do Canadá gerou debates intensos. Especialistas em relações internacionais apontam que a ideia não tem base legal ou histórica, já que o Canadá é uma nação independente desde 1867 e não há movimentos significativos no país em favor de uma união política com os EUA. Além disso, as tarifas impostas pelo governo americano podem afetar diretamente setores interdependentes, como a indústria automotiva, que depende de peças fabricadas em ambos os lados da fronteira.
A tensão comercial ocorre em um ano eleitoral nos EUA, onde Trump busca retornar à presidência. Analistas veem as tarifas como uma estratégia para fortalecer sua imagem de “líder durão” em temas como segurança e imigração. Enquanto isso, canadenses e mexicanos aguardam os próximos passos, com o comércio bilateral entre os três países — que movimenta mais de US$ 1 trilhão por ano — em risco de desaceleração.
O desfecho dessa disputa ainda é incerto, mas uma coisa é clara: as relações na América do Norte estão longe de ser estáveis.