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Tigre da Tasmânia se torna o primeiro animal extinto a ter seu RNA extraído

Lucas R.

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Tigre da Tasmânia se torna o primeiro animal extinto a ter seu RNA extraído
Extração de RNA do Tigre-da-Tasmânia está revolucionando a biologia e abrindo debates éticos sobre a ressurreição de espécies.

No âmbito da história natural, o Tigre-da-Tasmânia sempre foi uma criatura envolta em mistério e fascínio. Conhecido pelos cientistas como Thylacinus cynocephalus, esse marsupial carnívoro listrado desapareceu da ilha da Tasmânia na década de 1930. Por décadas, parecia que o Tigre-da-Tasmânia estava relegado aos anais da história, uma triste narrativa de extinção e perda. Mas prepare-se, porque essa enigmática criatura está fazendo um retorno surpreendente, não na carne, mas por meio de seu material genético.

Imagine a empolgação quando uma equipe sueca de cientistas anunciou que havia extraído com sucesso o RNA de um espécime de Tigre-da-Tasmânia com 132 anos. Para aqueles que talvez não estejam familiarizados com as complexidades da biologia molecular, vamos simplificar. Enquanto o DNA serve como o projeto arquitetônico da vida, o RNA é o diligente operário da construção que lê os planos e monta o edifício. Em outras palavras, o DNA nos diz quais genes uma espécie possui, mas é o RNA que revela quais genes estão ativamente “ligados” para produzir proteínas. O problema? O RNA é muito mais frágil que o DNA e se decompõe muito mais rapidamente, tornando sua recuperação uma façanha científica.

Então, qual é o grande lance sobre extrair RNA do Tigre-da-Tasmânia? Em primeiro lugar, a equipe liderada pelo bioinformata Emilio Mármol-Sánchez e pelo biólogo molecular Marc Friedländer usou um protocolo especialmente modificado para realizar essa extração. O espécime em que trabalharam estava no Museu de História Natural de Estocolmo desde 1891. Embora não seja o RNA mais antigo já recuperado — essa honra vai para um canídeo de 14.300 anos e um ser humano mumificado de 5.300 anos — o Tigre-da-Tasmânia é o primeiro animal verdadeiramente extinto a ter seu RNA recuperado.

Agora, vamos nos aprofundar nas implicações. As sequências de RNA oferecem um vislumbre raro em genes regulatórios específicos do Tigre-da-Tasmânia, como microRNAs, que estão extintos há mais de um século. Isso é revolucionário porque permite que os cientistas explorem a biologia única do Tigre-da-Tasmânia, desde seus comportamentos de caça até seus ciclos reprodutivos. Além disso, o RNA pode nos ajudar a entender como os músculos e a pele da criatura funcionavam no nível molecular. Essas são informações inestimáveis para os esforços em andamento para ressuscitar o Tigre-da-Tasmânia, um empreendimento tentador, mas eticamente complexo.

Ah, a ética. A simples ideia de trazer de volta uma espécie extinta abre uma caixa de Pandora de dilemas éticos. Devemos ressuscitar uma criatura que foi apagada pela natureza ou, mais provavelmente, pela imprudência humana? Quais seriam as ramificações ecológicas de reintroduzir uma espécie que está ausente há tanto tempo? Essas são perguntas que não podem ser respondidas apenas pela ciência, mas devem ser consideradas à medida que oscilamos na beira de transformar a ficção científica em fato científico.

Mas a história não termina aí. A extração de RNA de espécies extintas como o Tigre-da-Tasmânia também poderia revolucionar nosso entendimento da evolução viral. Ao estudar o viroma de RNA nesses espécimes antigos, poderíamos obter insights sobre como os vírus evoluíram ao longo de milênios, oferecendo potencialmente novas vias para combater pandemias modernas.

Ao ponderarmos essas questões científicas e éticas, não nos esqueçamos da intrigante jornada de como um Tigre-da-Tasmânia de uma ilha remota na Austrália acabou em um museu sueco. É um testemunho do alcance global da curiosidade científica, uma curiosidade que continua a expandir os limites do que sabemos sobre vida, morte e o espaço tentador entre os dois.

Em conclusão, o Tigre-da-Tasmânia, outrora um símbolo pungente de extinção, ressurgiu como um farol de possibilidade científica. Seu RNA não apenas nos ofereceu uma janela para um mundo há muito perdido, mas também levantou uma série de questões éticas e científicas com as quais estamos apenas começando a lidar. À medida que nos encontramos nessa fascinante interseção entre passado e futuro, uma coisa é clara: a história do Tigre-da-Tasmânia está longe de terminar. É uma narrativa que continua a evoluir, assim como a ciência que está trazendo-a de volta à vida, um gene de cada vez.

O estudo foi publicado na Genome Research.

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Editor-chefe do portal Mistérios do Mundo desde 2011. Adoro viajar, curtir uma boa música e leitura. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.