Tenha cuidado se lhe oferecerem uma xícara de café em uma entrevista de emprego: isso pode definir o futuro da sua contratação

por Lucas Rabello
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No mundo competitivo das entrevistas de trabalho, até os menores gestos podem definir o sucesso ou o fracasso de uma candidatura. Um exemplo curioso que ganhou destaque recentemente envolve algo simples: uma xícara de café. O que parece um ato de cortesia comum esconde, na verdade, uma avaliação discreta — e decisiva — usada por alguns recrutadores para identificar características essenciais nos candidatos.

Trent Innes, ex-diretor geral da Xero e atual diretor de crescimento da SiteMinder (empresas de tecnologia), compartilhou uma prática incomum em entrevistas. Durante sua participação no podcast The Ventures, ele revelou que leva os candidatos à cozinha para oferecer uma bebida, geralmente café. O objetivo, porém, não está no café em si, mas no que acontece depois que a xícara é esvaziada.

O teste da xícara de café

Segundo Innes, o momento crucial ocorre quando o candidato termina de beber. Se ele deixa a xícara suja em cima da mesa ou em outro local da sala de entrevistas, sem se preocupar em levá-la de volta à cozinha, isso pode ser um sinal negativo. Para o recrutador, esse gesto aponta falta de proatividade, responsabilidade ou trabalho em equipe — qualidades que ele considera fundamentais.

Por outro lado, se o candidato recolhe a xícara e a leva até a cozinha, mesmo sem ser solicitado, demonstra uma postura colaborativa e atenta aos detalhes. “Isso mostra que você é uma pessoa que pensa no coletivo, que se importa com o espaço compartilhado e entende que pequenas ações fazem diferença”, explicou Innes. Para empresas que valorizam cultura organizacional, esse tipo de atitude pode pesar mais do que habilidades técnicas.

Cada vez mais recrutadores observam os pequenos detalhes dos candidatos. Devolver a xícara na cozinha pode mostrar mais do que você imagina sobre sua disposição para trabalhar em equipe.

Cada vez mais recrutadores observam os pequenos detalhes dos candidatos. Devolver a xícara na cozinha pode mostrar mais do que você imagina sobre sua disposição para trabalhar em equipe.

Por que empresas adotam testes informais?

A estratégia de Innes não é isolada. Grandes nomes do mercado, como o Google, são conhecidos por usar métodos não convencionais em processos seletivos. A empresa, por exemplo, já aplicou quebra-cabeças e perguntas aparentemente absurdas (“Quantas bolas de golfe cabem em um ônibus?”) não para testar conhecimento específico, mas para observar como os candidatos lidam com desafios inesperados.

Especialistas em recursos humanos explicam que gestos simples, como o da xícara, revelam traços que entrevistas tradicionais não capturam. Nervosismo, formalidade excessiva ou até a preparação intensa para perguntas técnicas podem mascarar o comportamento real do candidato. Já em situações cotidianas, como tomar um café, é mais fácil observar espontaneidade e valores como empatia e organização.

A polêmica: até que ponto esses testes são justos?

Nem todo mundo concorda que uma xícara deixada sobre a mesa deva influenciar uma contratação. Críticos argumentam que candidatos podem estar tão ansiosos durante a entrevista que esquecem detalhes básicos de educação. Um gesto isolado, defendem, não reflete necessariamente a personalidade ou a capacidade de trabalhar em equipe.

Por outro lado, histórias de sucesso reforçam a eficácia dessas observações. Saira Demmer, diretora geral da SF Recruitment, contou que, anos atrás, lavar xícaras usadas em uma reunião foi crucial para sua contratação. Enquanto outros candidatos focavam apenas em responder perguntas, ela percebeu que a sujeira acumulada na sala incomodava os entrevistadores e resolveu agir. Esse gesto, embora simples, mostrou sensibilidade e iniciativa — características que a levaram, anos depois, a assumir um cargo de liderança.

O que isso significa para quem está em busca de emprego?

O conselho é claro: em uma entrevista, cada ação conta. Mesmo que pareça exagero, é importante manter a atenção em detalhes como organização, educação e disposição para ajudar. Se um recrutador oferecer água, café ou até mesmo um documento para ler, preste atenção não só no que é dito, mas em como você interage com o ambiente.

Empresas modernas, especialmente na área de tecnologia, buscam profissionais que combinem competência técnica com inteligência emocional. Saber trabalhar em equipe, ter iniciativa e demonstrar respeito pelo espaço coletivo são habilidades tão valorizadas quanto dominar linguagens de programação ou técnicas de vendas.

Os recrutadores estão observando muito mais que suas respostas. Um simples gesto como devolver a xícara pode revelar habilidades cruciais, como trabalho em equipe e inteligência emocional.

Os recrutadores estão observando muito mais que suas respostas. Um simples gesto como devolver a xícara pode revelar habilidades cruciais, como trabalho em equipe e inteligência emocional.

Para além da xícara: outros gestos que fazem diferença

O teste do café é só um exemplo. Em entrevistas, recrutadores observam desde como o candidato cumprimenta a equipe até se oferece para arrumar a cadeira ao sair da sala. Chegar alguns minutos antes, desligar o celular e evitar falar mal de empregadores anteriores também são atitudes positivas.

Em resumo, a dica é tratar cada etapa do processo seletivo como uma oportunidade de mostrar não apenas o que você sabe, mas como você age. Afinal, habilidades técnicas podem ser ensinadas, mas valores como respeito e colaboração costumam ser intrínsecos — e é nisso que muitas empresas estão de olho.

Na próxima vez que alguém lhe oferecer um café durante uma entrevista, lembre-se: aquela xícara pode ser mais do que uma bebida. Pode ser seu passaporte para uma nova oportunidade.

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.

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