Temida “síndrome de Kessler” pode transformar teoria científica em catástrofe iminente, resultando na ausência de internet, celulares ou viagens aéreas

por Lucas Rabello
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O conceito de detritos espaciais evoluiu de uma preocupação teórica nos anos 1970 para um problema urgente que ameaça a infraestrutura tecnológica moderna. Os cientistas da NASA, Donald Kessler e Burton Cour-Palais, foram os primeiros a propor o que ficou conhecido como síndrome de Kessler, descrevendo um cenário em que a densidade de objetos na Órbita Baixa da Terra (LEO, na sigla em inglês) atinge um ponto crítico.

A zona de LEO, que se estende até aproximadamente 1.930 km da superfície da Terra, está cada vez mais congestionada com satélites operacionais, espaçonaves fora de uso e diversos tipos de detritos espaciais. Essa região é especialmente valiosa para operações espaciais devido à sua proximidade com a Terra, o que permite lançamentos mais econômicos em termos de combustível e imagens de alta qualidade.

Observações recentes da comunidade científica indicam uma aceleração significativa na congestão orbital. “O número de objetos no espaço que lançamos nos últimos quatro anos aumentou exponencialmente”, disse Vishnu Reddy, professor da Universidade do Arizona, em Tucson. A situação tem piorado desde a primeira grande colisão entre objetos orbitais em 1957.

A NASA identificou um padrão preocupante: “Foguetes gastos, satélites e outros lixos espaciais se acumularam em órbita, aumentando a probabilidade de colisão com outros detritos.” Essa acumulação cria o potencial para uma cascata de colisões, onde os detritos de um impacto podem desencadear colisões adicionais, gerando ainda mais detritos em um ciclo autoalimentado.

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O lixo espacial pode acabar com a humanidade como a conhecemos

Dan Baker, diretor do Laboratório de Física Atmosférica e Espacial da Universidade do Colorado, expressou preocupações urgentes em dezembro de 2024: “A menos que façamos algo, estamos em perigo iminente de tornar uma parte inteira do nosso ambiente ao redor da Terra inutilizável. Precisamos levar isso a sério.”

As implicações de um evento de síndrome de Kessler seriam de longo alcance. A sociedade moderna depende fortemente da tecnologia de satélites para várias funções críticas. Sistemas de GPS, essenciais para a aviação, previsão do tempo, agricultura e operações marítimas, seriam comprometidos. Conectividade com a internet e redes de telecomunicações sofreriam graves interrupções, à medida que as redes de satélites deixassem de funcionar.

A situação atual na LEO já demonstra sinais de saturação, com cerca de 1.000 alertas diários de colisão. O lançamento planejado de milhares de satélites adicionais, incluindo os do programa Starlink, da SpaceX, aumentará ainda mais a densidade de objetos em órbita.

O ambiente espacial enfrenta uma pressão adicional devido a satélites desativados e outros objetos espaciais não funcionais que continuam a orbitar a Terra. Esses itens, combinados com novos lançamentos, contribuem para o aumento da congestão na LEO. Sem intervenção, o risco de desencadear uma reação em cadeia de colisões aumenta, potencialmente tornando as rotas orbitais cruciais inutilizáveis para operações espaciais futuras.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.