Síndrome do Protagonista: O que é e como as mídias sociais a influenciam

por Lucas Rabello
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Nas últimas décadas, as redes sociais se transformaram em uma parte quase inseparável do dia a dia. Compartilhamos fotos de viagens, detalhes das refeições, conquistas profissionais e até registros de treinos na academia. Tudo vira conteúdo. Mas o que parece uma simples troca de experiências pode esconder um fenômeno preocupante: o síndrome do protagonista. Esse termo, usado por psicólogos, descreve a sensação de ser o centro de um universo virtual, onde cada postagem é encarada como um capítulo de um reality show pessoal.

O conceito surge da ideia de que, ao publicar constantemente detalhes da vida, começamos a acreditar que cada ação nossa é relevante — ou até fascinante — para os outros. Um café da manhã vira um close-up digno de likes; uma caminhada no parque, um vídeo com trilha sonora dramática. A recompensa imediata de curtidas e comentários reforça a ilusão de que somos os astros principais de um espetáculo sem fim. E, assim, a necessidade de compartilhar se torna quase compulsiva.

Quando a validação virtual vira uma armadilha

Plataformas como Instagram e TikTok são projetadas para oferecer gratificação instantânea. Um estudo da Universidade de Harvard aponta que receber likes ativa as mesmas áreas do cérebro estimuladas por recompensas materiais, como comida ou dinheiro. Esse mecanismo cria um ciclo vicioso: quanto mais postamos, mais buscamos aprovação alheia. Para alguns, isso pode evoluir para comportamentos narcisistas, nos quais a autoestima depende diretamente do engajamento online.

O problema se agrava entre jovens. Pesquisas mostram que adolescentes que passam mais de 3 horas por dia em redes sociais têm o dobro de risco de desenvolver sintomas de ansiedade e depressão. A exposição constante a perfis editados — com corpos “perfeitos”, relacionamentos ideais e rotinas impecáveis — gera comparações irreais. Mesmo sabendo que muitas imagens são filtradas ou encenadas, a mente humana tende a internalizar esses padrões, levando a sentimentos de inadequação.

A solidão na era da hiperconexão

Paradoxalmente, quanto mais conectados, mais isolados podemos nos sentir. Um relatório de 2023 da Organização Mundial da Saúde (OMS) associou o uso excessivo de redes sociais ao aumento de casos de solidão em adultos entre 18 e 35 anos. A interação superficial — comentários rápidos, emojis, shares — não substitui conversas profundas ou contato físico. Além disso, a pressão para manter uma imagem pública “perfeita” leva muitos a esconderem vulnerabilidades, aprofundando a sensação de desconexão.

Como encontrar equilíbrio?

Especialistas sugerem estratégias práticas para reduzir os efeitos negativos. Primeiro, definir limites de tempo: aplicativos como Instagram e Facebook permitem configurar alertas diários. Segundo, priorizar interações reais: marcar encontros presenciais ou chamadas de voz ajuda a fortalecer laços genuínos. Terceiro, praticar a autorreflexão: antes de postar, questionar se a motivação é compartilhar algo significativo ou apenas buscar validação.

Outra dica é diversificar as fontes de autoestima. Envolver-se em hobbies offline, como esportes, voluntariado ou cursos, ajuda a construir confiança baseada em conquistas reais, não em números virtuais. Para pais, o conselho é monitorar o uso das redes por crianças e adolescentes, incentivando atividades criativas sem telas.

O desafio, no fim das contas, é lembrar que a vida não precisa de plateia para ser vivida. As redes sociais são ferramentas, não um palco obrigatório. Escolher com consciência o que — e por que — compartilhar pode ser o primeiro passo para evitar que o protagonismo virtual ofusque a realidade.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.

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