Simulação assustadora mostra como médico deixou mosquito matá-lo para provar que eles transmitiam doenças

por Lucas Rabello
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No início do século XX, a humanidade ainda enfrentava sérias dificuldades para entender e controlar doenças tropicais. Uma delas, a febre amarela, havia causado milhares de mortes ao longo de séculos, especialmente entre viajantes e populações em regiões tropicais.

Os sintomas eram devastadores: calafrios, febre, dor de cabeça, náuseas e vômitos, que podiam evoluir para a chamada fase “tóxica”, caracterizada por olhos e pele amarelados, urina escura e falência de órgãos. Para muitos, essa fase era fatal.

Foi nesse cenário que surgiu Jesse William Lazear, médico norte-americano e membro da Comissão da Febre Amarela do Exército dos Estados Unidos. Ao lado de colegas como Walter Reed, James Carroll e Aristides Agramonte, ele participou de pesquisas cruciais para identificar a forma de transmissão da doença.

Jesse William Lazear foi uma das figuras mais influentes na descoberta de uma vacina contra a febre amarela

Jesse William Lazear foi uma das figuras mais influentes na descoberta de uma vacina contra a febre amarela

Nascido em 1866, Lazear trabalhava como residente no Hospital Johns Hopkins, com foco em malária e febre amarela. Em 1900, foi enviado a Cuba como cirurgião assistente do Exército norte-americano. No país caribenho, passou meses investigando a hipótese proposta em 1881 pelo médico cubano Carlos Finlay: a de que mosquitos seriam os vetores responsáveis por transmitir a febre amarela.

Lazear já tinha experiência prévia no manejo de mosquitos e utilizou larvas para aprofundar seus experimentos. Em setembro de 1900, escreveu à esposa dizendo acreditar estar “no caminho do verdadeiro germe”. Pouco depois, decidiu ir além: deixou-se picar por um mosquito infectado, numa tentativa arriscada de confirmar a teoria.

A escolha foi fatal. Dias depois, Lazear começou a apresentar febre intensa e olhos amarelados. Os sintomas avançaram rapidamente até que passou a vomitar uma substância escura, característica da fase mais grave da doença. Em 25 de setembro de 1900, apenas duas semanas após escrever à esposa, o médico morreu aos 34 anos.

Na época, acreditava-se que sua morte havia sido fruto de um acidente, como se ele tivesse sido picado sem saber que o inseto estava infectado. Porém, em 1947, o médico Phillip S. Hench encontrou registros nos cadernos de Lazear que indicavam que o experimento fora intencional. Ele havia se tornado voluntariamente cobaia de sua própria pesquisa.

Mais de um século depois, uma simulação criada pelo canal Zack D. Films recriou os últimos dias de Lazear. O vídeo mostra sua evolução clínica após a picada: a febre inicial, a icterícia e os vômitos escuros que precederam a falência dos órgãos.

Embora tenha perdido a vida, suas descobertas ajudaram a confirmar de forma decisiva a teoria de Carlos Finlay sobre a transmissão da febre amarela. Esse conhecimento abriu caminho para estratégias de combate à doença, desde medidas de controle de mosquitos até o desenvolvimento de vacinas.

Em 1937, o cientista sul-africano Max Theiler criou a vacina 17D, utilizando uma cepa atenuada do vírus. Extremamente eficaz, ela passou a oferecer proteção vitalícia contra a febre amarela, salvando milhões de vidas em todo o mundo e consolidando a importância do trabalho pioneiro de pesquisadores como Lazear.

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.
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