No dia 28 de fevereiro, o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy desembarcou na Casa Branca em Washington DC para um encontro que prometia ser estratégico. Em vez de uma recepção diplomática, porém, ele foi surpreendido por críticas duras do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e do vice-presidente JD Vance. A conversa, que deveria reforçar a aliança entre os países, rapidamente se transformou em um confronto público.
Vance iniciou as acusações, afirmando que Zelenskyy estava sendo “desrespeitoso” com os EUA e com o próprio Trump. Em tom de reprovação, o vice-presidente declarou que o líder ucraniano “deveria estar agradecendo” ao governo americano. Trump, então, interveio com palavras ainda mais contundentes: “Você não está em posição de ditar como vamos nos sentir”, disse, acrescentando que a Ucrânia não estava “em uma boa situação” e que Zelenskyy havia “permitido” que o país chegasse a esse ponto.
A tensão subiu quando Trump alertou sobre os riscos de um conflito global: “Você está jogando com a vida de milhões de pessoas! Está brincando com a Terceira Guerra Mundial! E o que está fazendo é muito desrespeitoso com este país [EUA]”. As declarações, gravadas por jornalistas presentes, viralizaram rapidamente, gerando debates internacionais sobre o futuro do apoio americano à Ucrânia.
Três dias depois, em 3 de março, a Casa Branca confirmou uma decisão impactante: os Estados Unidos suspenderiam temporariamente toda a assistência militar ao país europeu. Um porta-voz do governo explicou que a medida visava “reavaliar a ajuda para garantir que ela contribua para uma solução”. A justificativa oficial foi alinhada ao discurso de Trump sobre a “busca pela paz”, com um recado direto aos aliados: “Precisamos que nossos parceiros também se comprometam com esse objetivo”.
O valor da ajuda e a reação russa
Desde o início da invasão russa na Ucrânia, há três anos, os EUA enviaram aproximadamente US$ 65,9 bilhões em equipamentos militares, incluindo armamentos, veículos blindados e sistemas de defesa aérea. A suspensão desse fluxo gerou preocupação imediata entre analistas, que veem a ajuda ocidental como crucial para a resistência ucraniana.
O Kremlin, porém, reagiu com otimismo. Dmitry Peskov, porta-voz do governo russo, declarou que a decisão americana “pode incentivar o regime de Kiev a buscar a paz”. Em entrevista à Reuters, ele afirmou: “É óbvio que os Estados Unidos têm sido o principal fornecedor desta guerra. Se pararem de enviar armas, isso será a melhor contribuição para a paz”.
Peskov também comentou as declarações de Trump sobre o desejo de “trazer paz à Ucrânia”, classificando-as como “bem-vindas”. No entanto, deixou claro que a Rússia aguarda ações concretas: “Recebemos informações sobre propostas nessa direção, mas vamos observar como a situação se desenvolve na prática”.
O contexto do conflito
A Ucrânia enfrenta uma guerra de desgaste desde fevereiro de 2022, quando tropas russas cruzaram as fronteiras em uma ofensiva que já causou centenas de milhares de mortes e deslocou mais de 10 milhões de pessoas. A ajuda militar internacional, especialmente dos EUA e de países da OTAN, permitiu que as forças ucranianas mantivessem resistência, recuperando territórios e equilibrando o conflito.
A mudança na postura americana, porém, abre um novo capítulo de incertezas. Enquanto o governo ucraniano nega qualquer intenção de ceder territórios em troca de paz, a Rússia insiste em negociações que reconheçam anexações já realizadas, como a Crimeia. Para especialistas, a suspensão da ajuda pode enfraquecer a posição de Kiev nas conversas, caso elas sejam retomadas.
Enquanto isso, a Europa se prepara para possíveis desdobramentos. Líderes da União Europeia reiteraram compromissos financeiros com a Ucrânia, mas a capacidade militar do bloco não substitui o poderio logístico dos EUA. O próximo movimento de Trump, que mantém influência mesmo fora do cargo, será decisivo para definir os rumos não apenas do conflito, mas das relações geopolíticas globais.