Rússia devolve corpo de jornalista ucraniana sem ‘órgãos internos’, deixando população indignada com alegações de tortura

por Lucas Rabello
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A guerra entre Rússia e Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022, já custou milhares de vidas e histórias que jamais serão totalmente contadas. Entre elas, está a de Viktoriia Roshchyna, uma jovem repórter ucraniana cujo corpo foi devolvido à família em condições tão chocantes que levantaram questões sobre práticas brutais em territórios ocupados.

Viktoriia, de 27 anos, trabalhava como correspondente de guerra para uma emissora ucraniana. Desde os primeiros dias do conflito, ela se deslocava para áreas de risco no leste e sul da Ucrânia, documentando os impactos da invasão russa. Em março de 2022, seu nome ganhou destaque quando desapareceu durante uma cobertura na cidade de Berdiansk, então ocupada pelas tropas russas. A emissora para a qual trabalhava anunciou nas redes sociais que a jornalista havia sido capturada pelo Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB). Após pressão internacional, ela foi libertada dias depois.

Mas o pesadelo não terminou. Em agosto de 2023, Viktoriia desapareceu novamente. Desta vez, as investigações indicam que ela estava em uma região controlada pela Rússia, possivelmente tentando entrevistar fontes locais. Por meses, seu paradeiro foi desconhecido, até que, em abril de 2024, organizações de direitos humanos confirmaram que ela estava em um centro de detenção russo.

Viktoriia Roshchyna desapareceu em agosto de 2023

Viktoriia Roshchyna desapareceu em agosto de 2023

A tragédia chegou ao ápice em setembro de 2024, quando Viktoriia morreu sob custódia. De acordo com relatos do The Independent, ela estava sendo transportada de uma prisão em Taganrog, no sul da Rússia, para Moscou, quando veio a óbito. As causas exatas da morte ainda não foram divulgadas, mas o corpo da jornalista apresentava marcas que revelam um final agonizante.

Em fevereiro de 2024, seu corpo foi repatriado junto com outros 756 ucranianos que estavam em território russo. A família, porém, recebeu um cadáver mutilado: órgãos internos, como fígado e rins, haviam sido removidos. Segundo o relatório de uma investigação conjunta de veículos de mídia, citado pela CBS News, a retirada das vísceras pode ter sido uma tentativa de esconder evidências de tortura.

Acredita-se que a falecida jornalista foi torturada enquanto estava em cativeiro

Acredita-se que a falecida jornalista foi torturada enquanto estava em cativeiro

Yuriy Belousov, chefe do Departamento de Crimes de Guerra do Ministério Público da Ucrânia, detalhou que o laudo forense identificou fraturas nas costelas, lesões no pescoço, hemorragias e marcas suspeitas de choques elétricos nos pés. Além disso, sinais de autópsia realizada na Rússia foram encontrados, mas sem explicações sobre a extração dos órgãos.

Viktoriia é a primeira e única jornalista ucraniana confirmada a morrer em cativeiro russo desde o início da guerra, segundo a organização Forbidden Stories, que defende a liberdade de imprensa. Seu caso expõe os riscos extremos enfrentados por profissionais que cobrem conflitos em zonas ocupadas, onde a falta de transparência e a violação de direitos humanos são frequentes.

A Ucrânia já abriu processos para investigar as circunstâncias da morte da repórter, mas a cooperação internacional esbarra na recusa russa em fornecer informações. Enquanto isso, o retorno de corpos sem órgãos virou um padrão preocupante: pelo menos outros três casos similares foram registrados desde o início de 2024, segundo grupos de direitos humanos.

A história de Viktoriia Roshchyna não é apenas sobre os horrores da guerra. É um alerta sobre o preço pago por quem busca a verdade em meio ao caos — e sobre os limites da crueldade em conflitos onde a informação virou arma.

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.