Quando falamos em textos sagrados, poucos podem se gabar do vasto alcance e influência generalizada da Bíblia. Ela engloba vários livros que narram histórias, mitos, poesias, profecias e ensinamentos, e tem sido a pedra angular para várias crenças ao redor do mundo. Uma pergunta frequentemente feita é: quantos livros existem na Bíblia? Mergulhe neste guia completo para desvendar este antigo livro, sua estrutura e dar uma breve olhada em alguns dos livros excluídos.
Quantos livros tem cada Bíblia
A Bíblia não é apenas um único livro, mas sim uma coleção de muitos. Contudo, o número varia conforme as tradições religiosas.
- Bíblia Protestante: Possui 66 livros, divididos entre o Antigo e o Novo Testamento.
- Bíblia Católica: Conta com 73 livros, sendo os textos adicionais comumente chamados de livros “Deuterocanônicos” ou “Apócrifos”.
- Bíblia Ortodoxa Oriental: Embora seja muito semelhante à versão católica, inclui ainda mais livros, totalizando cerca de 78, embora este número possa variar ligeiramente dependendo das tradições ortodoxas específicas.
Os livros Deuterocanônicos, também conhecidos como “Apócrifos” no contexto protestante, são um conjunto de escritos aceitos pela Igreja Católica Romana e pela Igreja Ortodoxa no cânon bíblico, mas não são reconhecidos como parte do cânon por igrejas protestantes e por algumas outras denominações cristãs.
O termo “Deuterocanônicos” significa “segundo cânon” e foi adotado pela Igreja Católica para se referir a esses livros que foram discutidos e finalmente aceitos em concílios ecumênicos, como os Concílios de Hipona (393 d.C.) e Cartago (397 e 419 d.C.), e mais tarde no Concílio de Trento (1545-1563).
São eles:
Tobias: Relata a história de Tobias, que, guiado pelo anjo Rafael, realiza uma viagem. A narrativa inclui temas como fidelidade, casamento e cura.
Judite: É a história de uma viúva que decapita o general assírio Holofernes para salvar Israel.
Sabedoria: Também conhecido como o Livro da Sabedoria de Salomão, é uma coleção de reflexões sobre a sabedoria, a justiça e o amor divino.
Eclesiástico: Também conhecido como Sirácida ou Sabedoria de Jesus, filho de Sirá, é semelhante aos Provérbios hebraicos e contém máximas sobre a vida cotidiana.
Baruque: Atribuído a Baruque, secretário do profeta Jeremias, este livro contém exortações e reflexões sobre o exílio dos judeus na Babilônia.
Primeiro e Segundo Macabeus: Estes livros contam a história da revolta dos Macabeus contra o domínio selêucida no século II a.C. e a subsequente restauração do culto no Templo de Jerusalém.
Adições a Ester: Fragmentos adicionados ao livro de Ester, que não estão presentes no texto hebraico.
Adições a Daniel: Incluem a Oração de Azarias, o Cântico dos Três Jovens, a história de Susana e a história de Bel e o Dragão.
Por que esses livros não fazem parte do cânon bíblico das igrejas protestantes?
A não inclusão dos livros Deuterocanônicos no cânon bíblico das igrejas protestantes tem raízes históricas, teológicas e contextuais. Aqui estão as principais razões:
Tradição Judaica: Uma das razões primárias é que os Deuterocanônicos não fazem parte do cânon hebraico (o Tanakh), que foi a Bíblia do judaísmo. Durante o período do Segundo Templo, houve debates entre os judeus sobre quais livros deveriam ser considerados sagrados. Os livros que agora são chamados de Deuterocanônicos estavam entre os disputados. Por volta do final do primeiro século d.C., os rabinos judeus em Jamnia (ou Jabne) parecem ter formalizado o cânon do Tanakh sem os Deuterocanônicos. Os Reformadores, desejando retornar às “origens” da fé e usar os textos como sua principal autoridade, optaram por seguir o cânon hebraico em vez do cânon ampliado usado pelos cristãos de língua grega e latina.
A Reforma Protestante: Durante a Reforma no século XVI, os reformadores, como Martinho Lutero, desejavam simplificar e “purificar” a fé cristã, removendo tradições e práticas que não viam como fundamentadas nos livros. Lutero, em particular, colocou os livros Deuterocanônicos em uma seção separada de sua tradução da Bíblia para o alemão, indicando sua visão de que eles eram “úteis e bons para ler”, mas não possuíam a mesma autoridade que os outros livros.
Diferenças Teológicas: Alguns dos ensinamentos e histórias contidos nos livros Deuterocanônicos não estavam em total alinhamento com as crenças teológicas dos Reformadores. Por exemplo, o livro de 2 Macabeus contém referências a orações pelos mortos, uma prática que os reformadores rejeitaram.
Disponibilidade dos Manuscritos: Em muitos casos, os manuscritos hebraicos originais de alguns dos livros Deuterocanônicos se perderam e estavam disponíveis apenas em grego (como parte da Septuaginta). Isso levou a questionamentos sobre a autenticidade e autoridade de tais livros.
Decisões dos Concílios: A decisão da Igreja Católica no Concílio de Trento (1545-1563) de afirmar oficialmente os Deuterocanônicos como parte de seu cânon foi em parte uma resposta à Reforma. No entanto, essa decisão solidificou ainda mais a rejeição protestante desses livros.
Os Dois Testamentos
Para entender quantos livros a Bíblia tem, é fundamental dividi-la:
O Antigo Testamento: Esta seção antecede o nascimento de Jesus Cristo e estabelece a base histórica e profética para o Cristianismo. Na Bíblia Protestante, contém 39 livros, enquanto as versões Católica e Ortodoxa têm textos adicionais.
O Novo Testamento: Aceito universalmente por todas as denominações cristãs, este testamento possui 27 livros. Destaca a vida, ensinamentos, morte e ressurreição de Jesus Cristo e os primeiros anos da Igreja Cristã.
Os Livros Excluídos da Bíblia
Embora os livros canônicos sejam amplamente aceitos, muitos outros não foram incluídos oficialmente. Esses textos excluídos ou “apócrifos”, embora valiosos para alguns, não são reconhecidos universalmente na Bíblia. Alguns notáveis incluem:
O Livro de Enoque: Uma antiga obra religiosa judaica que aborda a queda dos Vigilantes, seres angélicos que geraram os Nefilins com mulheres humanas.
O Evangelho de Tomé: Composto por 114 ditos atribuídos a Jesus, é um texto não-canônico que alguns estudiosos acreditam que fornece insights sobre a teologia cristã primitiva.
O Evangelho de Judas: Este texto polêmico apresenta uma narrativa diferente sobre Judas Iscariotes, sugerindo que ele traiu Jesus a seu próprio pedido.
O Pastor de Hermas: Uma obra literária cristã do século II, foi considerada canônica por alguns cristãos primitivos, mas posteriormente excluída.
Se você quiser saber mais sobre esses e outros livros excluídos da Bíblia, temos um artigo sobre o assunto.
Conclusão
A Bíblia é, sem dúvida, um dos textos mais influentes e amplamente lidos da história humana. Sua complexa compilação ao longo dos séculos reflete as variadas tradições e crenças de comunidades cristãs em todo o mundo. O fato de haver diferentes números de livros aceitos por diferentes tradições cristãs destaca a diversidade e a riqueza de interpretações e tradições dentro do cristianismo.
A não inclusão de determinados textos, como os Deuterocanônicos ou os livros apócrifos, ilustra as disputas teológicas e históricas que moldaram a formação do cânon bíblico. Ao explorar não apenas os textos canônicos, mas também os apócrifos, ganhamos uma visão mais profunda da evolução do pensamento religioso e das nuances da fé cristã.