Os Estados Unidos já contribuíram de várias formas positivas para o avanço da humanidade, mas precisamos concordar que eles também estiveram por trás de alguns dos episódios mais lamentáveis da história.
Como esquecer, por exemplo, das bombas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, na década de 40? As bombas Little Boy e Fat Man lançaram um ar de preocupação e temor no mundo inteiro, deixando várias nações atentas contra o poderio dos EUA. E em meio a todo esse cenário, se formou uma acirrada corrida armamentista, que entrou para a história como ‘Guerra Fria’.
Em 29 de agosto de 1949, já dentro do período da Guerra Fria, a União Soviética realizou o seu primeiro teste envolvendo uso de armas atômicas. Isso acabou lançando ainda mais lenha na fogueira, incentivando outras nações a se dedicarem na busca de novas armas, cada vez mais poderosas e letais.
Temendo que os soviéticos passassem a ocupar um lugar de liderança dentro do cenário armamentista, os americanos tentaram se adiantar na criação de armas termonucleares ainda mais potentes, com novos métodos de lançamento. E foi dentro desta perspectiva que os EUA surgiram com o Projeto Plutão, que tinha como objetivo o desenvolvimento de motores a jato, movidos a energia nuclear, que seriam utilizados em mísseis de cruzeiro.
O projeto foi encabeçado por Theodore Charles Merkle, que era o homem responsável por administrar o programa SLAM (sigla em inglês para Míssil Supersônico de Baixa Altitude). Utilizando propulsão nuclear, o alcance do SLAM era considerado infinito, podendo voar por cerca de 180 mil quilômetros, ou até mais que isso, até que o combustível terminasse. Para que tudo funcionasse de forma adequada, a ideia era de que os reatores do SLAM produzissem mais de 500 megawatts de potência, operando a uma temperatura de 2500ºC.
Segundo os projetistas encarregados na construção do míssil, ele poderia matar até mesmo pelo barulho insuportável que produziria ao passar por cima das cidades. E se isso não fosse o suficiente para matar uma pessoa, a radiação gama e os nêutrons presentes no reator fariam esse serviço.
E para se ter uma ideia ainda mais clara do poder de destruição desta arma, enquanto os mísseis de cruzeiro eram projetados para carregar apenas uma ogiva até o alvo, o SLAM poderia transportar, além da ogiva, 16 bombas de hidrogênio. Essas bombas poderiam ser largadas ao longo do caminho até o destino final.
O problema é que, com tanto poder de destruição, testar o SLAM definitivamente não era uma tarefa fácil. Isso porque uma vez que o reator fosse acionado, ele não deixaria de funcionar até que atingisse o alvo ou ficasse completamente sem combustível. Isso sem contar em toda a destruição que ele causaria ao redor de onde passasse no caminho.
Em 14 de maio de 1961, engenheiros americanos ligaram o reator em um vagão de trem por apenas alguns segundos, em condições totalmente controladas, com combustível limitado e outras medidas de segurança. Pouco tempo depois, outro teste foi realizado, deixando o reator funcionar por cerca de 5 minutos. Mas estes foram os únicos testes realizados durante o Projeto Plutão.
Felizmente para toda a humanidade, os mísseis SLAM nunca foram disparados contra nenhum tipo de alvo. Em 1º de julho de 1964, o projeto foi oficialmente cancelado, devido à preocupações envolvendo o potencial destrutivo da arma. De forma extraoficial, algumas fontes dizem que os Estados Unidos também temiam que a União Soviética poderia responder de forma ainda mais incisiva caso os EUA demonstrassem ter desenvolvido uma arma deste tipo.
Caso os mísseis realmente tivessem saído do papel, é impossível prever o que poderia ter acontecido com o nosso planeta.
Leonardo Ambrosio tem 26 anos, é jornalista, vive em Capão da Canoa/RS e trabalha como redator em diversos projetos envolvendo ciências, tecnologia e curiosidades desde 2014.