Primeiros escaneamentos 3D do Titanic revelam novos detalhes sobre as últimas horas do navio há 113 anos

por Lucas Rabello
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Há mais de um século, o RMS Titanic naufragou no Oceano Atlântico Norte, mas só agora a tecnologia permitiu revelar seus segredos como nunca. No dia 14 de abril de 1912, quatro dias após partir de Southampton, na Inglaterra, com destino a Nova York, o navio colidiu com um iceberg às 23h40. Duas horas e quarenta minutos depois, ele desapareceu nas profundezas, levando consigo mais de 1.500 vidas e deixando cerca de 700 sobreviventes.

Desde então, seus destroços repousam a 3.810 metros abaixo da superfície, envoltos em mistérios que desafiam historiadores e exploradores. Agora, um avanço revolucionário em escaneamento 3D trouxe à tona uma reconstrução digital que promete reescrever partes dessa história.

A novidade foi possível graças a uma colaboração entre a National Geographic e a Atlantic Productions, que resultou no documentário Titanic: The Digital Resurrection. O filme apresenta um “gêmeo digital” do navio, criado a partir do maior escaneamento subaquático em 3D já realizado.

Você pode ver o "gêmeo digital em tamanho real" em Titanic: The Digital Resurrection (YouTube/National Geographic).

Você pode ver o “gêmeo digital em tamanho real” em Titanic: The Digital Resurrection (YouTube/National Geographic).

Para alcançar esse feito, a empresa Magellan, especializada em mapeamento de águas profundas, enviou dois robôs operados remotamente — batizados de Romeo e Juliet — até o local do naufrágio em 2022. Durante três semanas, os equipamentos capturaram aproximadamente 715 mil imagens e medições a laser, gerando 16 terabytes de dados, volume equivalente ao armazenamento de 6 milhões de livros digitais.

O resultado é uma réplica virtual tão precisa que, projetada em tamanho real na lateral de um armazém, permitiu que pesquisadores “caminhassem” ao lado do Titanic e examinassem detalhes mínimos. Entre as descobertas está uma válvula de vapor aberta na sala das caldeiras, possivelmente usada para manter um gerador de emergência ativo durante o naufrágio. Além disso, o modelo confirmou que o navio está dividido em duas partes principais: a proa e a popa, separadas por 792 metros. Enquanto a proa permanece relativamente preservada, a popa apresenta sinais de destruição intensa.

Até então, não havia consenso sobre como a popa se desintegrou. O escaneamento 3D revelou que o casco dessa seção afundou em linha reta, enterrando-se no leito oceânico de forma quase intacta. Ao analisar os dados, o historiador e ex-oficial naval Parks Stephenson propôs uma teoria: a popa teria girado em espiral durante a descida, colidindo violentamente com o fundo do mar e se despedaçando. “O Titanic é a última testemunha ocular do desastre, e ela ainda tem histórias para contar”, afirmou Stephenson.

O gêmeo digital também destacou objetos antes invisíveis em expedições convencionais, como louças, sapatos e partes da estrutura corroída pela água salgada. Esses elementos oferecem pistas sobre os momentos finais do navio, como a possível tentativa da tripulação de manter sistemas essenciais em funcionamento até o último instante. Além disso, a precisão do modelo permite estudar ângulos inacessíveis em mergulhos reais, já que a escuridão e a pressão extrema a 3.810 metros de profundidade limitam a visibilidade e o tempo de exploração.

Projetos como esse não apenas preservam patrimônios históricos ameaçados pela degradação natural, mas também democratizam o acesso a locais antes restritos a poucos especialistas. O gêmeo digital do Titanic se junta a outras reconstruções 3D de sítios arqueológicos, como Pompeia e as pirâmides do Egito, que combinam tecnologia e ciência para desvendar o passado. Com essa ferramenta, pesquisadores de todo o mundo podem investigar cada centímetro do navio sem riscos, abrindo caminho para novas interpretações sobre um dos eventos mais estudados — e ainda cheios de lacunas — do século XX.

Enquanto o documentário prepara seu lançamento, o legado do Titanic ganha uma nova dimensão. A réplica digital não apenas imortaliza os destroços, mas também oferece uma janela para o que aconteceu naquela noite gelada de 1912. Cada imagem, cada medida a laser, conta uma parte da história de um navio que continua a fascinar gerações — agora, com uma clareza sem precedentes.

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.

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