As pessoas “realmente não sabem” como elas se parecem, diz professor

por Lucas Rabello
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Já se olhou no espelho ou tirou uma selfie e pensou: “Sou eu mesmo?” Você não está sozinho. Apesar de conviver com o mesmo rosto há anos, muitas pessoas se veem intrigadas com a própria aparência. Esse fenômeno é mais comum do que você imagina, e há uma explicação científica por trás disso.

O Espelho vs. A Selfie: Um Reflexo Confuso

Na era digital de hoje, somos constantemente bombardeados com imagens de nós mesmos – de espelhos a selfies, e em diversos dispositivos. Um usuário do Twitter descreveu bem essa confusão: “Não sei como se chama, mas alguém sente que não sabe realmente como parece? Como fotos que você tira de si mesmo e fotos que as pessoas tiram de você ou se olhando no espelho, são todas diferentes formas de você e isso é… frustrante, confuso e dá vontade de chorar.”

Esse sentimento ressoa com muitos, como compartilhou outro usuário: “Literalmente não me reconheço mais. Olho no espelho e juro que não sou eu, ou pelo menos não quem pensei que era nos últimos meses, como se tudo o que pudesse ver fosse uma pessoa totalmente diferente.”

A Ciência por Trás da Autoimagem

O professor Nicholas Epley, especialista em ciência comportamental na Universidade de Chicago Booth School of Business, esclarece esta questão intrigante. Ele explica: “O interessante é que as pessoas realmente não sabem como parecem. A imagem que você tem de si mesmo na sua mente não é exatamente a mesma que realmente existe.”

Um estudo liderado por Epley e Erin Whitchurch, publicado na Sage Journals em 2008, explorou mais profundamente esse fenômeno. A pesquisa, intitulada “Espelho, Espelho na Parede: Aprimoramento no Autorreconhecimento,” revelou algumas percepções fascinantes sobre como nos percebemos.

A Ilusão da Atração

O estudo descobriu que as pessoas tendem a se considerar mais atraentes do que realmente são. Em uma série de experimentos, os participantes foram mostrados versões morfadas de seus próprios rostos, com níveis de atratividade ajustados para cima ou para baixo em incrementos de 10 por cento. Quando solicitados a identificar sua imagem verdadeira, os participantes consistentemente escolheram as versões mais atraentes, muitas vezes selecionando rostos que eram 20 por cento mais atraentes do que sua aparência real.

Curiosamente, esse “viés de aprimoramento” não se limitou à autopercepção. Os participantes também escolheram versões mais atraentes ao identificar rostos de amigos, mas não ao olhar para estranhos. Isso sugere que nossa tendência de nos vermos (e aqueles próximos a nós) de maneira mais lisonjeira é um mecanismo psicológico profundamente enraizado.

A Natureza Automática do Autoaprimoramento

Epley observa que esse autoaprimoramento não é um processo consciente. O estudo descobriu que a seleção de imagens aprimoradas pelos participantes estava correlacionada com medidas implícitas de autoestima, mas não com medidas explícitas. Isso indica que nossa tendência de nos vermos como mais atraentes é “um processo relativamente automático, em vez de deliberativo.”

Por Que Isso Importa

Compreender essa peculiaridade da psicologia humana pode ser tanto reconfortante quanto esclarecedor. Explica por que às vezes nos sentimos desconectados de nossa imagem e por que nossa percepção de nós mesmos pode variar tanto dependendo do meio ou contexto.

Além disso, destaca a natureza subjetiva da autoimagem e o relacionamento complexo que temos com nossa própria aparência. Embora seja natural ter uma visão ligeiramente aprimorada de nós mesmos, também é importante manter uma autoimagem realista e saudável.

Então, da próxima vez que se sentir intrigado pelo seu reflexo ou por uma fotografia, lembre-se de que você não está sozinho. Como conclui Epley, “Você é um especialista no seu próprio rosto, mas isso não significa que você seja perfeito em reconhecê-lo.”

Talvez haja uma certa beleza nessa imperfeição – um lembrete de que nossos verdadeiros eus são mais do que apenas o que vemos no espelho ou em uma tela. Afinal, a imagem que projetamos para o mundo é apenas uma faceta de quem somos, e nossa percepção dela é tão complexa e em constante mudança quanto nós mesmos.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.