Por que os gatos amam as caixas de papelão?

por Lucas Rabello
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Se você já vive com um gato, certamente notou uma cena curiosa: diante de uma cama macia ou um brinquedo caro, o animal ignora tudo e escolhe uma simples caixa de papelão abandonada no chão. Esse comportamento, tão comum quanto intrigante, não é aleatório. Por trás da atração felina por caixas de papelão estão motivos que combinam instinto, conforto e até necessidades emocionais. Vamos entender por que esse objeto tão simples se transforma no paraíso dos gatos.

O primeiro segredo está na temperatura. Os gatos têm o corpo ligeiramente mais quente que o nosso, em média 37 °C, e adoram ambientes que conservem esse calor. O papelão, por sua estrutura porosa, age como um isolante térmico natural. Nas estações frias, mantém o calor do animal, e no verão, ajuda a dissipá-lo, criando um microclima ideal para sonecas. Além disso, a textura áspera do material é perfeita para deitar — nem muito lisa, nem muito fofa —, permitindo que o gato se acomode sem escorregar ou afundar. É como um colchão térmico que também serve de playground.

O papelão atua como um isolante térmico natural que ajuda a manter a temperatura corporal do felino próxima a 37 °C

O papelão atua como um isolante térmico natural que ajuda a manter a temperatura corporal do felino próxima a 37 °C

Falando em brincadeiras, o papelão é um verdadeiro curinga. Enquanto muitos arranhadores comerciais são feitos de materiais difíceis de arranhar, como plástico ou corda muito resistente, o papelão cede com facilidade às unhas afiadas. Isso permite que o gato libere energia, desgaste as unhas naturalmente e, de quebra, marque território através do cheiro deixado pelas glândulas em suas patas. É uma atividade tripla: exercício, manutenção física e demarcação de espaço. E quando o objeto já está todo arranhado? Aí entra a diversão de morder, rasgar e até “redesenhar” a caixa, algo que brinquedos tradicionais não permitem.

Mas não é só sobre diversão. Esconder-se dentro de caixas é um comportamento ligado à sobrevivência. Na natureza, felinos selvagens buscam tocas ou espaços apertados para se proteger de predadores e surpreender presas. Mesmo domesticados, os gatos mantêm esse instinto. Uma caixa com apenas uma entrada oferece sensação de segurança: o animal pode observar o ambiente sem ser visto, reduzindo a ansiedade em situações novas ou barulhentas. Um estudo da Universidade de Utrecht, na Holanda, comprovou isso. Ao analisar 19 gatos em um abrigo, os que tinham acesso a caixas se adaptaram 30% mais rápido ao ambiente, mostrando menos estresse já no terceiro dia.

Arranhar, morder e destruir papelão é uma maneira de liberar a tensão e canalizar o tédio.

Arranhar, morder e destruir papelão é uma maneira de liberar a tensão e canalizar o tédio.

A altura também é um fator. Embora muitas caixas fiquem no chão, algumas são posicionadas em prateleiras ou móveis, atendendo a outro instinto: a preferência por pontos elevados para vigiar o território. Se a caixa estiver em um local alto, melhor ainda — o gato ganha um esconderijo estratégico com vista privilegiada.

Porém, é preciso atenção se o animal começar a comer pedaços de papelão. Morder é normal, mas engolir pode indicar problemas como estresse extremo, tédio ou até deficiências nutricionais. A ingestão frequente de materiais não alimentares, chamada de pica, exige acompanhamento veterinário. Para evitar isso, especialistas sugerem enriquecer o ambiente com brinquedos interativos e oferecer alternativas seguras para morder, como ossos de borracha específicos para felinos.

E os outros materiais? Almofadas, bolsas de papel e túneis de tecido até divertem os gatos, mas nenhum rivaliza com o papelão. Tecidos são menos resistentes para arranhar, e superfícies lisas não retêm calor. Além disso, caixas são gratuitas (ou quase) e fáceis de substituir. Quando uma fica destruída, basta outra para renovar a diversão. Veterinários como Juan Enrique Romero destacam que a versatilidade do papelão é imbatível: funciona como cama, brinquedo, esconderijo e ferramenta de relaxamento.

Um detalhe interessante é que o tamanho da caixa importa. Espaços um pouco apertados, onde o gato precisa se “espremer” levemente, são mais atraentes. Isso simula a sensação de estar envolto em um abraço, aumentando a sensação de proteção. Por outro lado, caixas muito grandes podem não despertar o mesmo interesse, já que não oferecem a mesma contenção física.

Até a cor do papelão pode influenciar. Embora os gatos não enxerguem todas as cores como nós, tons mais escuros absorvem mais calor, tornando-se opções preferidas no inverno. Já caixas claras, que refletem luz, são mais buscadas em dias quentes. É um ajuste fino entre comportamento instintivo e adaptação ao ambiente.

Para os tutores, essa preferência felina é uma vantagem. Além de econômico, o papelão é reciclável e pode ser transformado em brinquedos personalizados — basta cortar janelas, amarrar caixas umas às outras ou pendurar pedaços com cordas. E quando o objeto perde a graça, é só substituí-lo sem culpa. Como resumiu a veterinária Helen Crofts em uma entrevista: “Enquanto humanos se preocupam em comprar o último modelo de arranhador, os gatos só querem o que funciona. E o que funciona, muitas vezes, veio dentro de uma embalagem de delivery”.

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.

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