Por que o primeiro papa americano da história escolheu o nome Papa Leão XIV?

No dia 8 de maio, a Praça de São Pedro, no Vaticano, foi tomada por uma mistura de euforia e surpresa quando a fumaça branca subiu da Capela Sistina. Após menos de 48 horas de votação, o conclave anunciou um marco histórico: o cardeal americano Robert Prevost, nascido em Chicago, foi escolhido como o 267º papa da Igreja Católica. Pela primeira vez em mais de dois milênios, um pontífice nascido nos Estados Unidos assume o comando da maior instituição religiosa do mundo. Seu nome de regência, Leão XIV, imediatamente gerou debates e especulações sobre o rumo que sua liderança poderá tomar.

A eleição de um papa americano surpreendeu fiéis e analistas, já que o último pontífice não europeu antes do Papa Francisco foi o sírio Gregório III, no século VIII. Prevost, de 67 anos, tem uma trajetória pouco convencional: antes de se tornar bispo de Chiclayo, no Peru (2015-2023), liderou a Ordem de Santo Agostinho por 12 anos, onde se destacou por promover diálogo inter-religioso e projetos sociais em regiões pobres da América Latina. Seu domínio do espanhol e sua experiência pastoral em comunidades marginalizadas podem explicar, em parte, a rápida união dos cardeais em torno de seu nome.

A escolha do título “Leão XIV” não passou despercebida. O último papa a usar o nome Leão foi Leão XIII, que governou a Igreja de 1878 a 1903 e ficou conhecido por combinar tradição e modernidade. Foi ele quem publicou a encíclica Rerum Novarum, documento pioneiro que defendia direitos trabalhistas e criticava a exploração de operários durante a Revolução Industrial. Para especialistas, a homenagem sugere que Leão XIV pretende seguir um caminho semelhante: equilibrar conservadorismo doutrinal com ações voltadas a questões sociais urgentes, como desigualdade e migração.

A reação política não tardou. Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, usou sua rede social para celebrar a novidade: “Parabéns ao cardeal Robert Francis Prevost, agora Papa. É uma honra ter o primeiro papa americano. Ansioso para conhecer Leão XIV!” O comentário, porém, foi recebido com cautela por setores da Igreja, que preferem evitar associações diretas entre o novo pontífice e qualquer governo nacional.

Em seu primeiro discurso, diante de milhares de fiéis na Basílica de São Pedro, Leão XIV adotou um tom conciliador: “Que a paz esteja com todos. Seguiremos os passos do Papa Francisco, buscando ser uma Igreja missionária, que constrói pontes e acolhe com caridade”. A menção a Francisco não é casual: assim como seu predecessor, o novo papa defende uma abordagem mais aberta a diálogos com outras religiões e posições progressistas em temas ambientais.

Um detalhe intrigante permanece: por que “Leão XIV” e não outro nome? O número XIV indica uma ruptura com a sequência histórica, já que o último Leão foi o XIII. Especialistas lembram que, na tradição católica, o número 14 está associado a conceitos de transição e renovação — algo que pode refletir a ambição de unir diferentes correntes dentro da Igreja. Enquanto isso, o diretor da Sala de Imprensa do Vaticano destacou que o nome evoca “força intelectual e compromisso com a dignidade humana”, valores que marcaram Leão XIII.

Além de sua experiência no Peru, Leão XIV traz consigo uma característica rara: é fluente em quatro idiomas (inglês, espanhol, italiano e latim) e passou parte de sua formação teológica na África, onde trabalhou em missões humanitárias. Seu contato com realidades diversas, desde favelas peruanas até comunidades rurais em Gana, pode influenciar sua abordagem pastoral.

Agora, o mundo aguarda para ver como o primeiro papa americano conduzirá os mais de 1,3 bilhão de católicos em meio a desafios como secularização, escândalos financeiros e pressões por reformas internas. Seu pontificado já começa com um simbolismo potente: unir a herança de um nome histórico à expectativa de um futuro em transformação.