Você já parou para pensar sobre as armas nucleares globais? Uma rápida volta ao mundo mostra que quase todo continente tem pelo menos um país com capacidade nuclear. Europa, Ásia, Oriente Médio e até mesmo a África têm nações com a bomba. Mas, espera aí – esquecemos de uma região? E a América Latina? Bem, curiosamente, o Brasil (e toda a América Latina) se destaca como um caso único. Não só não possui potências nucleares, como também foi a primeira região densamente povoada a se declarar livre de armas nucleares. Mas por quê? Vamos descobrir.
Quando O Mundo Estava Em Alerta
Voltemos à segunda metade do século 20. O mundo tremia com a ameaça da devastação nuclear. A disputa da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética era destaque nas notícias. Mas surgiu outra preocupação: o medo da proliferação nuclear. Isso significava que, além destas superpotências, outros países, ou até mesmo grupos terroristas, poderiam ter acesso a armas nucleares. Alarmante!
Para combater isso, a iniciativa “Átomos para a Paz” foi lançada em 1953 pelo Presidente Eisenhower. O objetivo? Fornecer acesso à energia nuclear pacífica aos países, se prometessem não construir bombas. Pouco depois, em 1957, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) foi criada, e em 1968, o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares foi estabelecido.
Mas, mesmo com estas medidas, diversos países, da Europa à Ásia, desenvolveram armas nucleares. Todas as regiões, exceto a América Latina.
O Ponto de Virada: A Crise dos Mísseis de Cuba
Então, o que impediu a América Latina de entrar no clube nuclear? Nossa história começa com a crise dos mísseis de 1962. Lembra-se quando a União Soviética posicionou mísseis em Cuba, e parecia que o mundo estava à beira da Terceira Guerra Mundial? Esse evento mudou o jogo.
Luis Rodríguez, pesquisador da Universidade de Stanford, ilumina este momento crucial. Ele explica: “Vários países da América Latina, após testemunharem a crise dos mísseis, decidiram uma resposta coletiva para prevenir um repeteco em seu quintal.” Pense nisso: as tensões nucleares não eram apenas histórias nas notícias. Estavam bem ali, à porta.
Embora já existissem sentimentos prévios sobre desarmamento nuclear, especialmente vindos de países como a Irlanda na Europa e a Costa Rica na América Latina, a crise cubana agiu como o verdadeiro catalisador. Ryan Musto, outro especialista da Virginia, acrescenta: “A Crise dos Mísseis de Cuba foi o divisor de águas. O Brasil até sugeriu tornar a América Latina uma zona livre de armas nucleares para resolver a crise.” Esta era uma possível solução vantajosa para ambas as superpotências.
Embora esta iniciativa específica não tenha decolado, o sentimento persistiu. A América Latina estava determinada a garantir que não seria o próximo campo de batalha. Assim, em 1967, o Tratado de Tlatelolco foi assinado, proibindo todas as armas nucleares na América Latina e no Caribe.
Os Desafios
Não foi uma trajetória fácil. Países como o Brasil, que inicialmente apoiaram a ideia de uma zona livre de armas nucleares, mudaram de rumo. Logo após, o México assumiu a liderança, chegando a ganhar um Prêmio Nobel da Paz por seus esforços em 1982.
A Argentina, com sua crescente tecnologia nuclear, também foi um jogador hesitante. Ambas as nações estavam explorando o que foi chamado de “explosões nucleares pacíficas” – usando energia nuclear para tarefas não-militares, como abrir minas ou auxiliar projetos hidrelétricos. Rodríguez detalha: “Países como Brasil e Argentina desenvolveram programas nucleares de duplo uso, causando tensão com entidades internacionais.”
Não há evidências concretas de que qualquer um dos países tenha procurado ativamente armas nucleares, mas algumas facções dentro de seus governos pareciam inclinadas a isso.
Mudança de Maré
Felizmente, no início dos anos 1990, tanto o Brasil quanto a Argentina fizeram mudanças radicais. Eles se integraram ao Tratado de Tlatelolco e, pouco depois, ao Tratado sobre a Não-Proliferação de Armas Nucleares. O abandono de seus programas de desenvolvimento de mísseis sinalizou seu compromisso com a causa.
Várias razões podem explicar por que a América Latina, e em particular o Brasil e a Argentina, se abstiveram de se tornar nucleares. Musto aponta a falta de intensas rivalidades na região. Claro, Brasil e Argentina tinham suas diferenças, mas nada que provocasse uma corrida armamentista. Além disso, a transição para a democracia nos anos 1980 trouxe uma mudança de prioridades.
Há também o aspecto financeiro. Tornar-se nuclear é caro. Rodríguez enfatiza: “Estamos falando de muita infraestrutura, expertise e conhecimento.” E não é só o custo financeiro. As repercussões diplomáticas e as oportunidades perdidas em empreendimentos de energia nuclear pacífica são igualmente significativas.
Conclusão
A decisão da América Latina de renunciar às armas nucleares é um testemunho da paisagem política única da região e de suas experiências históricas. Em uma era em que muitos buscavam o poder nuclear, a América Latina traçou seu próprio caminho, garantindo um futuro mais seguro para seu povo. É uma história inspiradora, que nos lembra das possibilidades quando as nações se unem para o bem maior.