Por que não há cobras na Irlanda?

por Lucas Rabello
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São Patrício, conhecido como o santo padroeiro da Irlanda, é celebrado por ter introduzido o Cristianismo na nação. Sua narrativa engloba várias lendas e milagres, entre os quais o mais famoso é a alegação de ter banido todas as cobras da Irlanda. Essa história sugere que, após um jejum de 40 dias, São Patrício miraculosamente expulsou todas as cobras para o mar. No entanto, evidências científicas contradizem essa lenda, já que não há registro fóssil que indique a presença de cobras na Irlanda em qualquer momento da história.

A ausência de cobras na Irlanda não é única no país. Outras grandes ilhas, como Nova Zelândia, Islândia, Groenlândia, Havaí e Antártida, também compartilham essa característica. Esse fenômeno pode ser atribuído a fatores geográficos e climáticos, em vez de intervenções milagrosas. Especificamente, a última era do gelo, que durou aproximadamente de 120.000 a 10.000 anos atrás, desempenhou um papel crucial na configuração da distribuição atual de répteis. Durante esse período, o clima frio tornou a Irlanda e a Grã-Bretanha inóspitas para répteis, incluindo cobras.

Após o recuo do gelo, pontes de terra emergiram, conectando a Irlanda à Grã-Bretanha e a Grã-Bretanha ao continente europeu. Essa breve janela permitiu a migração de várias espécies. No entanto, à medida que o gelo derretia ainda mais e o nível do mar subia, essas pontes de terra submergiram, isolando a Irlanda antes que as cobras pudessem migrar para a ilha. Em contraste, a Grã-Bretanha viu a colonização de três espécies de cobras durante esse período. Hoje, o único réptil terrestre nativo da Irlanda é o lagarto comum ou vivíparo, que provavelmente chegou após o término da era do gelo.

A falta de cobras na Irlanda tem implicações para as políticas modernas e atitudes sociais em relação a esses répteis. Por exemplo, a Islândia impõe regulamentações rigorosas contra a importação e posse de cobras para preservar seu status livre de cobras, refletindo preocupações sobre o impacto ecológico potencial de espécies invasoras. Em contraste, a Irlanda mantém uma postura mais relaxada. O país não possui leis específicas proibindo a posse de cobras, e elas são até mesmo mantidas como animais de estimação, simbolizando um status quo no início dos anos 2000. O Zoológico Nacional de Répteis na Cidade de Kilkenny, o único zoológico de répteis da Irlanda, abriga várias espécies de cobras, mostrando a relação única da nação com esses répteis.

A razão por trás da leniência da Irlanda em relação à posse de cobras reside nas condições climáticas do país. Como animais de sangue frio, as cobras dependem de fontes externas de calor para regular sua temperatura corporal. O clima da Irlanda, caracterizado pela raridade de dias ensolarados, representa um desafio significativo para qualquer população potencial de cobras prosperar na natureza. Essa barreira natural reduz o risco de as cobras se tornarem invasoras, negando a necessidade de regulamentações rigorosas semelhantes às de outras regiões livres de cobras.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.