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Por que é quase impossível um cidadão escapar hoje da Coreia do Norte?

Lucas R.

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Por que é quase impossível um cidadão escapar hoje da Coreia do Norte?
Aqueles que tentam fugir da Coreia do Norte correm o risco de enfrentar longos períodos de prisão ou, em casos extremos, execução.

A Coreia do Norte se destaca como uma entidade única no cenário global, principalmente devido às suas políticas rigorosas que restringem seus cidadãos de sair sem a prévia permissão do estado. Tal ato é rotulado como traição pelo governo norte-coreano, e as penalidades para isso são severas. Aqueles que ousam desafiar esta lei correm o risco de enfrentar longos períodos de prisão ou, em casos extremos, execução. Esse nível de controle se estende até mesmo ao movimento interno dentro do país. Para viajar de uma província para outra, os cidadãos precisam de permissões oficiais, enfatizando o aperto do estado sobre sua população.

Restrições e Controle Interno na Coreia do Norte

A comunidade internacional tem consistentemente reconhecido a Coreia do Norte por seu alarmante histórico de direitos humanos, que permanece incomparável no mundo moderno. As políticas opressoras do país se manifestam de várias maneiras. Por exemplo, todos os homens são obrigados a servir no exército por um mínimo de dez anos. A liberdade de expressão, um direito fundamental em muitas nações, é praticamente inexistente na Coreia do Norte. A mídia é totalmente controlada pelo estado, garantindo que a narrativa permaneça a favor do regime e vozes críticas sejam silenciadas.

A Anistia Internacional, em seu relatório de 2017, lançou luz sobre a sombria situação dentro do país. A organização estimou que cerca de 200.000 prisioneiros políticos estavam detidos em toda a Coreia do Norte. Esses prisioneiros enfrentam condições terríveis, incluindo trabalho forçado, tortura e, em alguns casos, execução sumária. O sistema legal do país é tão rigoroso que indivíduos podem ser condenados à prisão perpétua apenas por sua associação com um infrator. Um caso particularmente angustiante que ganhou atenção internacional foi o de uma criança de dois anos condenada à prisão perpétua em 2009, segundo o The Economic Times. Os pais da criança foram encontrados com uma Bíblia, um contrabando estrangeiro, levando a essa punição extrema.

Coreia do Norte

A Nação Mais Isolada do Mundo

Mídias e conteúdos estrangeiros são estritamente proibidos dentro das fronteiras da Coreia do Norte. O estado impõe severas penalidades àqueles que são pegos contrabandeando, distribuindo ou consumindo tal conteúdo. Essas penalidades podem variar de prisão perpétua à morte. Essa postura coloca a Coreia do Norte entre um punhado de nações, incluindo Irã, Arábia Saudita e Somália, que ainda realizam execuções públicas.

Estrangeiros que visitam a Coreia do Norte não estão isentos do olhar atento do estado. Eles estão sob constante vigilância durante sua estadia. O regime garante que os visitantes sejam expostos apenas a experiências selecionadas, mostrando-lhes apenas o que deseja que vejam. Alguns estrangeiros enfrentaram graves consequências por infrações aparentemente menores. Um caso notável é o do turista americano Otto Warmbier, que visitou a Coreia do Norte em 2016. Warmbier foi preso por supostamente tentar roubar um pôster de propaganda. Esse ato levou a uma sentença de 15 anos de trabalho forçado, segundo a BBC. Tragicamente, ele retornou aos EUA em estado vegetativo e faleceu pouco depois.

Desafios e Rotas de Fuga da Coreia do Norte

Dado esse cenário, não é surpresa que a Coreia do Norte seja frequentemente percebida como a nação mais isolada e secreta do mundo contemporâneo. Os desafios de escapar do país ou contrabandear itens para dentro ou fora são imensos. A Dinastia Kim trabalhou diligentemente para garantir esse isolamento, aproveitando a geografia natural do país. A leste e oeste, o Mar do Japão e o Mar Amarelo atuam como barreiras. Embora esses mares possam oferecer rotas de fuga, as patrulhas vigilantes da Marinha norte-coreana tornam tais tentativas perigosas.

A Coreia do Sul, com sua promessa de prosperidade e sua política de reconhecer todos os coreanos como seus cidadãos, é o farol de esperança para muitos desertores norte-coreanos. No entanto, chegar à Coreia do Sul é um desafio formidável. A Zona Desmilitarizada (DMZ), uma fronteira fortemente fortificada, se apresenta como uma barreira quase intransponível entre as duas nações. Esta fronteira é repleta de muros, arame farpado e milhões de minas terrestres, tornando qualquer tentativa de travessia extremamente perigosa.

Historicamente, para aqueles desesperados para escapar do regime opressor da Coreia do Norte, a fronteira norte com a China ou Rússia apresentava uma rota mais viável. As relações que a Coreia do Norte mantém com esses países têm sido menos hostis, resultando em fronteiras menos vigiadas. Especialmente durante os meses de inverno, quando rios como o Yalu e Tumen congelam, ou durante o verão quando estão rasos, desertores e contrabandistas encontravam oportunidades para atravessar. No entanto, escapar para a China ou Rússia era apenas o começo de uma jornada perigosa.

Por que é quase impossível um cidadão escapar hoje da Coreia do Norte?

Tanto a China quanto a Rússia têm acordos de extradição com a Coreia do Norte. Isso significa que desertores pegos nesses países correm o risco de serem deportados de volta à Coreia do Norte, onde enfrentariam graves consequências, incluindo prisão e possível execução. Portanto, para muitos desertores, o objetivo não era se estabelecer na China ou Rússia, mas continuar sua jornada para outros países vizinhos que lhes ofereceriam santuário.

Mongólia, Tailândia e Vietnã surgiram como refúgios seguros para esses desertores. Esses países, reconhecendo a cidadania sul-coreana dos norte-coreanos, os deportariam para a Coreia do Sul. Essa política ofereceu um vislumbre de esperança para muitos em busca de uma vida melhor. A jornada, no entanto, estava repleta de perigos, pois os desertores tinham que atravessar terrenos desafiadores, evitar detecção e confiar em contrabandistas que nem sempre tinham seus melhores interesses em mente.

A década de 1990 viu um aumento significativo nas deserções, uma consequência direta do colapso da União Soviética, que havia sido um principal apoiador financeiro da Coreia do Norte. Com seu principal benfeitor desaparecido e enfrentando pesadas sanções financeiras de países como Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul, a economia da Coreia do Norte despencou. Esse declínio econômico, combinado com desastres naturais, levou a uma grave fome. Estima-se que entre 1994 e 1998, a fome resultou na morte de 300.000 a 3,5 milhões de norte-coreanos.

Essa situação crítica levou a um aumento nas deserções e também deu origem a uma classe de contrabandistas que traziam bens essenciais e mídia estrangeira. No início dos anos 2000, milhares de norte-coreanos estavam desertando anualmente. A maioria fazia seu caminho através da China, eventualmente chegando à Tailândia, Vietnã ou Mongólia, e de lá, seriam enviados para a Coreia do Sul.

Mudanças (pra pior) na Era Kim Jong-un

No entanto, o cenário das deserções sofreu uma mudança significativa em 2011. A morte de Kim Jong-il, o então líder supremo, e a subsequente ascensão de seu filho, Kim Jong-un, marcaram uma nova era para a Coreia do Norte. Kim Jong-un, determinado a manter seu controle sobre a nação e prevenir qualquer forma de dissidência, intensificou os esforços para conter deserções e contrabando. Sob sua liderança, as patrulhas de fronteira foram fortalecidas e as punições para desertores e suas famílias tornaram-se ainda mais severas. Hoje, é praticamente impossível um cidadão escapar da Coreia do Norte.

Em conclusão, enquanto as barreiras geográficas e políticas rigorosas da Coreia do Norte sempre tornaram a fuga desafiadora, a determinação de seu povo em buscar uma vida melhor levou a incríveis histórias de bravura e resiliência. A comunidade global continua a observar a Coreia do Norte de perto, esperando por um futuro onde seus cidadãos possam desfrutar dos direitos e liberdades fundamentais que muitos consideram garantidos.

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Editor-chefe do portal Mistérios do Mundo desde 2011. Adoro viajar, curtir uma boa música e leitura. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.