Ao longo da história, a raridade de sorrisos em fotografias antigas intrigou muitos, levando a várias teorias. Uma crença comum era que as pessoas se abstiam de sorrir devido à má saúde dental, um problema frequente antes dos avanços na odontologia moderna. No entanto, essa teoria não se sustenta ao considerar indivíduos conhecidos por terem bons dentes que ainda assim escolhiam não sorrir em fotografias. Além disso, a prevalência de problemas dentários na época significava que eles não eram necessariamente vistos como algo desagradável. Um exemplo disso é Lord Palmerston, o Primeiro-Ministro Britânico a partir de 1855, que era considerado atraente apesar de faltar vários dentes.
Outra teoria sugerida eram os longos tempos de exposição exigidos pelas câmeras antigas, variando de 5 a 30 minutos, o que tornava impraticável e desconfortável para os sujeitos manter um sorriso. Embora isso possa explicar parte da seriedade nas primeiras fotografias, não leva em conta a falta de sorrisos em pinturas antigas ou por que os sorrisos não se tornaram mais comuns em fotografias após 1840, quando os tempos de exposição foram significativamente reduzidos para menos de um minuto.
A relutância em sorrir em fotografias, no entanto, pode ser atribuída às percepções sociais e culturais da época. Sorrir era frequentemente associado à frivolidade e não era considerado uma expressão digna de ser capturada e imortalizada. Mark Twain, o renomado autor de “As Aventuras de Tom Sawyer” e “As Aventuras de Huckleberry Finn”, articulou um sentimento comum da era, enfatizando a importância das fotografias como documentos sérios e duradouros e criticando a noção de capturar um “sorriso tolo e idiota” para a posteridade.
Nicholas Jeeves, em seu exame detalhado do assunto, aponta que no século 17, sorrisos abertos na vida e na arte eram geralmente associados às classes baixas, aos embriagados, aos ingênuos e aos artistas. Essa perspectiva foi ecoada em “As Regras do Decoro e Civilidade Cristãos” por João Batista de La Salle em 1703, que condenava a exposição dos dentes como contrária ao decoro e à civilidade, argumentando que a natureza forneceu lábios para ocultá-los.
A evolução da fotografia e a mudança gradual nas normas sociais eventualmente tornaram o sorriso mais aceitável e comum em fotografias. A capacidade de tirar várias fotografias e capturar uma variedade de expressões ampliou significativamente a gama de emoções retratadas nas imagens. Hoje, sorrir em fotos é frequentemente visto como um gesto de felicidade e amizade, um contraste marcante com as atitudes do passado.
A transformação nas práticas fotográficas e as atitudes em relação ao sorriso levantam questões sobre como expressões contemporâneas, como o “duck face”, serão percebidas por gerações futuras. A proliferação da fotografia, especialmente com o advento da tecnologia digital e das redes sociais, levou a uma explosão no número e na variedade de imagens que as pessoas tiram, muitas vezes apresentando expressões e poses que poderiam ter sido impensáveis no passado. Essa mudança sublinha a natureza mutável da fotografia e seu papel na captura e reflexão das normas e atitudes sociais.