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Afinal, por que as pessoas estão estocando tanto papel higiênico?

Leonardo Ambrosio

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Surto de coronavírus faz com que pessoas no mundo inteiro corram para os supermercados para estocar o máximo possível de mantimentos.

O pânico acerca do surto de coronavírus não demorou para tomar proporções mundiais. No mundo inteiro, pessoas estão em quarentena (obrigatórias ou não) em suas próprias casas, e temendo os riscos de um vírus até então desconhecido. Nos grandes centros, onde a Covid-19 ataca com mais força, as pessoas já começam a se movimentar no sentido de estocar alimentos e outros produtos – o que é desencorajado pela grande maioria das autoridades.

Em vários países do mundo, incluindo o Brasil, alguns supermercados já precisaram limitar a venda de certos produtos a determinada quantidade. Entre os itens mais procurados, está obviamente o álcool em gel, recomendado pelos órgãos de saúde para frear a propagação desenfreada do vírus. Mas outros produtos também chamam a atenção, como é o caso do papel higiênico.

Na Internet, a história já virou uma espécie de “meme” a forma como alguns consumidores estão freneticamente enchendo seus carrinhos com rolos e mais rolos de papel higiênico, como se este fosse o produto mais importante para enfrentar um período de isolamento domiciliar. A CNBC recentemente entrevistou alguns psicólogos, que tentam explicar o que há por trás do comportamento destes consumidores.

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De acordo com Paul Marsden, psicólogo de consumo na ‘University of Arts London’, as pessoas estão sendo invadidas por uma necessidade quase involuntária de retomar o controle da situação, somada à vontade de comprar para controlar a forma como nos sentimos emocionalmente. Isso explica, inicialmente, a vontade de estocar qualquer tipo de mantimento e correr para o supermercado o mais rápido possível. “Isso ocorre pois as pessoas querem “retomar o controle” em um mundo onde parece que você perdeu o controle das coisas”, explicou.

Para Sander van der Linden, professor de psicologia social da Universidade de Cambridge, existem vários fatores em ação neste momento na cabeça das pessoas.

“Nos Estados Unidos, as pessoas estão recebendo mensagens conflitantes dos centros de saúde e da administração presidencial”, disse Sander. “Quando uma organização está dizendo que a situação é uma emergência, e a outra está dizendo que tudo está sob controle, isso faz com que as pessoas fiquem preocupadas”.

Sander se refere ao fato de que, nos EUA, o atual presidente Donald Trump vem adotando uma postura de encarar o surto de coronavírus como algo “menor do que parece”. Ao mesmo tempo, as autoridades de saúde do país afirmam que o cenário é realmente alarmante. No momento, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), 35 estados já registram casos de Covid-19. Ao todo, são cerca de 7700 casos confirmados no território estadunidense, com 118 mortes até as 21h10 (de Brasília) deste 18 de março de 2020.

“Quando as pessoas estão preocupadas, elas perdem um pouco a razão. Então elas olham o que as outras pessoas estão fazendo. Se as outras pessoa estão estocando, isso as leva a se envolver no mesmo comportamento”, explicou Sander.

Mas onde entra o papel higiênico nisso tudo?

Em uma tentativa de explicar o “hype” acerca do papel higiênico, o professor de psicologia Dimitrios Tsivrikos, da ‘University College London’, afirma que este produto de cerca se transformou no que ele chama de “ícone do pânico coletivo”.

“Em tempos de incertezas, as pessoas entram em um estado de pânico, que faz com que elas fiquem irracionais e completamente neuróticas. Em outras condições de desastre, como uma enchente, nós conseguimos nos preparar pois sabemos de quais produtos vamos precisar. Mas nós agora temos um vírus sobre o qual não sabemos nada”, afirmou o professor à CNBC, concordando também com van der Linden, no que diz respeito ao fato de que as pessoas deveriam ter uma voz mais clara e definitiva partindo das figuras de autoridade. “O público está recebendo conselhos conflitantes do governo e do varejo. Então as pessoas estocam. Eu culpo o sistema, por não ter uma voz unânime que nos diga exatamente o que fazer”.

Por outro lado, Peter Noel Murray, membro da Associação Americana de Psicologia e da Sociedade de Psicologia do Consumidor dos EUA, afirma que as autoridades não possuem o poder de acalmar este comportamento por parte da população.

“Se as autoridades estivessem consistentemente nos dizendo que este vírus não é um problema tão grande assim, isso não mudaria nada”, disse à CNBC.

Na opinião de Murray, as pessoas estão associando o surto atual a outros surtos bem conhecidos da cultura popular, em um movimento semelhante ao que ocorre quando tratamos de outras situações de emergência. Quando as pessoas ficam sabendo de um acidente aéreo, por exemplo, elas podem deixar de voar nas semanas seguintes por conta deste evento.

Neste caso, as pessoas poderiam estar associando o surto de coronavírus, por exemplo, ao surto da Gripe Espanhola, ocorrido em 1918, quando 50 milhões de pessoas morreram no mundo inteiro.

“Há (nestes momentos) uma super representação do medo, e a mente das pessoas precisa responder a esse tipo de sentimento. A necessidade de auto-afirmação é desencadeada, e isso nos leva a fazer coisas irracionais, como comprar papel higiênico para um ano inteiro. (Este sentimento) é mais forte do que a nossa noção de que talvez não seja assim tão necessário fazer isso”, explicou Murray.

Vale ressaltar que, no Brasil, a grande maioria das entidades varejistas afirma que não há necessidade de estocar alimentos e produtos de higiene por conta do surto de coronavírus, e que os supermercados estão preparados para a demanda e vão continuar abastecidos durante a crise.

É necessário ter em mente que, estocando suprimentos de forma desnecessária, você pode estar retirando a possibilidade de um outro consumidor encontrar o produto que precisa. E talvez, no fim das contas, você nem utilize todo o estoque adquirido. Em último caso, vale o bom senso.

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Leonardo Ambrosio tem 26 anos, é jornalista, vive em Capão da Canoa/RS e trabalha como redator em diversos projetos envolvendo ciências, tecnologia e curiosidades desde 2014.

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