O comportamento animal, especialmente de seres tão complexos e cativantes como a orca, é um reino cheio de mistérios. Imagine isso: Você está na costa do Noroeste do Pacífico, observando as magníficas orcas nadando. De repente, você as vê atacar e matar um boto. No entanto, intrigantemente, elas não comem sua presa. Por quê? Esse é o enigma que tem feito os pesquisadores se questionarem por décadas.
Essas orcas, conhecidas como orcas Residentes do Sul, são únicas. Elas não são apenas quaisquer orcas; são um grupo ameaçado com sua própria cultura e identidade genética, somando cerca de 75. O que é ainda mais fascinante é sua dieta especializada – seu prato preferido é o salmão chinook, outra espécie ameaçada. Os dois estão tão entrelaçados que, se o salmão desaparecer, as orcas podem seguir o mesmo destino. Mas, diante dessa preferência, por que o súbito interesse nos botos, especialmente se eles não são para consumo?
Mergulhando profundamente nesse mistério, uma equipe internacional vasculhou seis décadas de interações entre essas orcas e botos no Mar de Salish, abrangendo tanto a Colúmbia Britânica, no Canadá, quanto Washington, nos EUA. O que era uma vez um incidente esporádico tornou-se um tema recorrente, expandindo-se pela comunidade das orcas.
Sarah Teman, da SeaDoc Society, opinou: “Essas orcas são o epítome da complexidade. A maneira como estão atacando botos, passando-o por gerações, é um testemunho de sua cultura em evolução.” No entanto, ela foi rápida em sublinhar que essas orcas não estão desenvolvendo um gosto por botos, afirmando: “O salmão é para elas o que a cultura e tradição são para nós. Sua sobrevivência está atada ao salmão.”
Deborah Giles, da Wild Orca, também deu sua opinião, enfatizando as profundas diferenças culturais entre orcas que comem peixe e aquelas que consomem mamíferos marinhos. Embora seja tentador pensar: “Por que não simplesmente mudar o cardápio?”, não é tão simples. O vínculo que estas orcas compartilham com o salmão vai além da mera alimentação; é uma parte de sua identidade. Isso nos traz de volta à pergunta de um milhão de dólares: por que atacar os botos?
Várias teorias intrigantes surgiram. Uma sugere que é tudo por diversão – uma forma de brincadeira social. Como muitos seres inteligentes, orcas se unem através da brincadeira. Atacar botos pode ser a versão delas de uma atividade em grupo, fomentando unidade e camaradagem. Outra hipótese joga luz sobre um ângulo de sessão de prática. As orcas poderiam estar usando botos como “alvos móveis”, aprimorando suas habilidades de caça para quando enfrentam o verdadeiro desafio – pegar salmão. E há a teoria comovente do “mau maternar”. As orcas, especialmente as fêmeas, podem estar confundindo os botos mais fracos com membros doentes de sua própria espécie, tentando fornecer cuidados. Esse comportamento não é totalmente novo; orcas foram vistas carregando seus jovens falecidos de forma semelhante.
Giles aprofunda-se mais, observando: “Devido à desnutrição, impressionantes 70% das gravidezes entre as orcas Residentes do Sul terminam tragicamente em abortos espontâneos ou mortes neonatais. Isso pode estar levando a esse comportamento de cuidado deslocado.”
Esta pesquisa, publicada no Marine Mammal Science, não só desvenda o comportamento das orcas, mas também lança luz sobre uma questão premente. A diminuição da população de salmão não é apenas um problema das orcas; é uma crise iminente para todo o ecossistema. À medida que a intricada teia da vida em nossos oceanos se torna mais aparente, o chamado à ação se torna ainda mais urgente. Precisamos agir agora, não apenas pelas orcas ou pelo salmão, mas pelo delicado equilíbrio da vida sob as ondas.