Por que as mulheres não são elegíveis para se tornarem o próximo Papa?

por Lucas Rabello
3 visualizações

Com a morte do Papa Francisco, nome de batismo Jorge Mario Bergoglio, no dia 21 de abril, o mundo se pergunta quem assumirá o comando da Igreja Católica. Enquanto o Conclave — reunião secreta de cardeais — se prepara para eleger o novo líder em uma votação que ocorrerá no mínimo 15 dias após o falecimento, uma certeza já divide opiniões: o sucessor será, inevitavelmente, um homem. Dos 138 cardeais elegíveis, todos são do sexo masculino, mantendo uma tradição que atravessa séculos.

A regra, estabelecida desde o século XIII, determina que apenas homens batizados podem ser escolhidos para o papado. Apesar de, teoricamente, qualquer homem solteiro e ordenado (como padre, bispo ou diácono) poder ser eleito, na prática, o cargo quase sempre recai sobre um cardeal. O obstáculo para as mulheres está enraizado em uma proibição mais profunda: a Igreja não permite que elas sejam ordenadas sacerdotes, excluindo-as automaticamente da lista de possíveis candidatas.

Essa realidade surpreende, considerando que Francisco foi um pontífice conhecido por quebrar padrões. Desde sua eleição em 2013, ele renunciou ao salário papal, optou por morar em uma residência simples no Vaticano em vez do tradicional Palácio Apostólico e defendeu pautas progressistas, como a inclusão de grupos LGBTQ+ e a luta contra as mudanças climáticas. Além disso, promoveu a diversificação geográfica do colégio cardinalício, nomeando religiosos de regiões como África e Ásia, e ampliou a presença feminina em cargos administrativos de alto escalão no Vaticano.

Ele não era estranho a quebrar algumas tradições

Ele não era estranho a quebrar algumas tradições

No entanto, quando o assunto é a ordenação de mulheres, Francisco manteve a postura tradicional. Em entrevista à America Magazine, ele explicou que, segundo a doutrina católica, o sacerdócio está vinculado ao “princípio petrino” — uma referência a São Pedro, considerado o primeiro papa —, que não inclui a figura feminina. Para ele, a Igreja é “esposa” e “mãe”, simbolizada pelo “princípio mariano”, associado à Virgem Maria. Essa visão reserva às mulheres um papel distinto, porém igualmente relevante, que ainda precisa ser “desenvolvido pela teologia”.

Apesar da limitação ao sacerdócio, Francisco reconheceu a importância de ampliar espaços para mulheres em outras áreas. Ele nomeou cinco mulheres para cargos estratégicos no Vaticano, como a irmã Raffaella Petrini, primeira secretária-geral do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano, e definiu essas mudanças como uma “revolução”. O papa também destacou que mulheres têm habilidades únicas para a gestão, afirmando que “a decisão de uma mulher é melhor” em certos contextos.

A exclusão feminina do papado, portanto, reflete uma tradição que permanece intocada, mesmo em meio a avanços em outras esferas. Enquanto a Igreja não revisar sua posição sobre a ordenação de mulheres, a possibilidade de uma papa seguirá distante. Porém, as transformações promovidas por Francisco — como a valorização de lideranças não europeias e a abertura de funções administrativas para mulheres — sugerem que o futuro pode reservar caminhos ainda inexplorados.

Enquanto isso, o próximo capítulo da história do Vaticano será escrito por um homem, seguindo um ritual imutável: cardeais trancados na Capela Sistina, votando em segredo até que a fumaça branca suba anunciando o novo líder de 1,3 bilhão de católicos ao redor do mundo.

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.

Você não pode copiar conteúdo desta página