Elas espalham medo, violência, insegurança e geram consequências desastrosas para o mundo e para a humanidade. Guerras fazem parte da história da humanidade. As mais conhecidas foram as duas guerras mundiais, que duraram 4 e 6 anos, respectivamente. Juntas, elas mataram cerca de 100 milhões de pessoas.
A mais duradoura, a dos 100 anos, na verdade durou 116, e envolveu duas das maiores potencias europeias na Idade Média. A França e a Inglaterra. Mas, enquanto guerras aparentemente intermináveis duraram gerações, outras foram bem curtas.
Era 27 de Agosto de 1896. Reino Unido e o Sultanato de Zanzibar travaram um confronto militar que ficou conhecido como a Guerra Anglo-Zanzibari.
O conflito acabou indo parar no Livro dos Recordes como a guerra mais curta da história. Apesar de ter não ter durado nem uma hora, ela resultou na morte de 500 soldados do autoproclamado sultão, que havia usurpado o trono. Mas, como e por que tudo tudo aconteceu?
Zanzibar era um país insular no oceano Índico que hoje faz parte da Tanzânia. Essa ilha havia permanecido sob o controle nominal dos sultões de Omã desde 1698, após a expulsão dos portugueses que haviam declarado a posse do lugar em 1499.
A ilha foi declarada independente em 1858 pelo sultão Majid bin Said e, posteriormente, os sucessores estabeleceram sua capital e sede de governo na Cidade de Zanzibar.
Por um longo período, o Reino Unido se manteve em interação cordial com o país e seus governantes, mas essa relação viria a mudar, já que os britânicos tinham um interesse especial no território. Neste mesmo contexto estava a Alemanha envolvida: os alemães tinham interesse na África Oriental e conflitos de interesses começaram a surgir.
Sendo assim, no decorrer do século 19, o sultão Khalifah garantiu o direito das terras do Quênia para os britânicos e o de Tanganica para os alemães, o que resultou na proibição da escravidão por essas terras.
Isso não foi nada agradável para os alemães, que recusaram hastear a bandeira do Sultanato de Zanzibar.
O clima de tensão levou a confrontos armados entre as tropas alemãs e a população local, resultando na morte de 20 árabes. Por outro lado, Khalifah enviou tropas zanzibaris para restaurar a ordem naquele território.
A operação foi bem sucedida, mas uma onda de ressentimentos contra os alemães surgiu. Assim, outros conflitos adicionais se seguiram, como o em Bagamoyo, onde 150 nativos foram mortos pelas forças militares alemãs.
Posteriormente, um tratado foi assinado, concedendo a divisão de poder e terras para as duas potências.
Já em 1896, o então Sultão Hamad bin Thuwaini, que era aliado ao império britânico e também chamado de “marionete dos ingleses”, foi assassinado por seu próprio primo, Khalid bin Barghash, que se auto declarou sultão poucas horas depois e usurpou o trono com o apoio dos alemães.
Os britânicos, já tendo uma ampla influência sob a região, não deixariam barato e foi aí que a guerra mais curta da história se iniciou.
O recém falecido sultão Hamad havia reinado Zanzibar por três anos e, quando seu primo Barghash se auto proclamou sultão, ele uniu um exército de 2500 homens, mas os britânicos não ficaram nada contentes com isso.
Khalid, ao contrário do então falecido Hamad, seria um sultão difícil de ser controlado e por isso o governo britânico apontou para um candidato alternativo, Hamud bin Muhammed, que era mais favorável e disposto em relação aos interesses do império.
Os ingleses tentariam uma negociação, ao mesmo tempo que reuniam forças para caso as negociações com Khalid falhassem.
Khalid não ficou nada contente com a situação quando foi alertado pelo cônsul e agente diplomático, Basil Cave sobre o que estava acontecendo e logo começou a se preparar para lutar contra os ingleses.
Os ingleses enviaram uma declaração com algumas regras que Khalid deveria cumprir em comunhão com o exército britânico, o que foi, claramente, descartado. Várias mensagens foram trocadas porém as negociações simplesmente fracassaram.
Como ultimato, os britânicos ordenaram que Khalid deixasse o palácio até às 9 da manhã do dia 27 de agosto, caso contrário ele seria forçado a sair! Afinal, ao longo da história, sabemos que os britânicos jamais deixam seus interesses em segundo plano, não é mesmo?
Bem, a resposta de Khalid foi que não haveria intenção de deixar o palácio e, mesmo havendo troca de mensagens horas antes do horário estipulado, as tentativas de rendição não tiveram sucesso.
Quando o relógio bateu as 9 horas da manhã, o general Lloyd Mathews ordenou que a frota de navios britânicos iniciassem o bombardeamento do palácio e isso durou 38 minutos, matando 500 defensores de Khalid.
Nenhum britânico morreu durante essa batalha, mas Khalid e cerca de quarenta seguidores conseguiram fugir no consulado alemão a partir do palácio. Khalid havia sido removido de Zanzibar sob promessa de que jamais colocaria os pés no local posteriormente, porém mesmo assim ele foi capturado pelas forças britânicas mais tarde, no ano de 1916.
Após o conflito, Hamud bin Muhammed se tornou sultão de Zanzibar, onde governou até sua morte, seis anos mais tarde.