O calendário etíope, também conhecido como calendário ge’ez, é uma das formas mais antigas de medir o tempo ainda em uso no mundo. É o calendário oficial na Etiópia e também é utilizado pela Igreja Ortodoxa Etíope.
A principal peculiaridade do calendário etíope é que ele está cerca de sete anos e nove meses atrás do calendário gregoriano, amplamente adotado em todo o mundo. Essa diferença se deve a uma série de fatores históricos, religiosos e astronômicos.
O calendário etíope tem suas raízes no calendário alexandrino, que por sua vez é baseado no antigo calendário egípcio. O calendário alexandrino foi criado no século III a.C. por astrônomos gregos em Alexandria, no Egito. Esse calendário consistia em 12 meses de 30 dias cada, com um mês adicional de cinco ou seis dias, totalizando 365 ou 366 dias por ano.
A estrutura básica do calendário etíope é semelhante, com 12 meses de 30 dias e um 13º mês chamado “pagumen” de cinco ou seis dias, dependendo se o ano é ou não bissexto.
A principal causa da diferença entre os dois calendários é a forma como eles calculam a data da Anunciação – o evento bíblico em que o Arcanjo Gabriel anunciou a Maria que ela daria à luz Jesus Cristo. No calendário etíope, a Anunciação é fixada no ano 5500 a.C., enquanto no calendário gregoriano, é estabelecida no ano 1 d.C.
Essa diferença na data da Anunciação está relacionada a discrepâncias na interpretação do cômputo alexandrino, usado para calcular a data da Páscoa e outros eventos religiosos.
O cômputo alexandrino é baseado no ciclo lunar e na duração do ano solar, e foi desenvolvido por Hipátia de Alexandria, no século V d.C. Quando a Igreja Ortodoxa Etíope adotou o calendário alexandrino, também adotou o cômputo alexandrino. No entanto, os cálculos do cômputo alexandrino foram posteriormente revisados na Europa, levando à criação do calendário juliano e, eventualmente, do calendário gregoriano.
Outra razão para a diferença entre os calendários é o método de cálculo dos anos bissextos. O calendário etíope insere um dia adicional no 13º mês a cada quatro anos, enquanto o calendário gregoriano adiciona um dia extra no mês de fevereiro a cada quatro anos, exceto nos anos divisíveis por 100, mas não por 400.
Essa diferença no cálculo dos anos bissextos resulta em uma discrepância de aproximadamente três anos a cada quatro séculos.
A Etiópia é um dos poucos países que manteve seu calendário tradicional, apesar da adoção generalizada do calendário gregoriano. A razão para isso é o forte apego do povo etíope à sua identidade cultural e religiosa.
O calendário etíope está profundamente enraizado na história e na tradição do país e é um elemento fundamental da vida cotidiana e das práticas religiosas. A resistência à mudança também é reforçada pelo orgulho nacional e pela crença de que o calendário etíope é uma expressão única da identidade e da história do país.
A diferença entre o calendário etíope e o gregoriano de sete anos e nove meses pode ser um desafio para aqueles que não estão familiarizados com o sistema, especialmente no que diz respeito à comunicação e aos negócios internacionais. No entanto, os etíopes costumam usar ambos os calendários em contextos formais e informais, facilitando a adaptação e a compreensão mútua.