Segredos existem por toda parte, mas não é todos os dias que desvendamos algum deles: ainda por cima nos locais mais remotos dos Andes, onde há um lago deslumbrante que, por 500 anos, permaneceu desconhecido por nós.
Situado na remota região de Chachapoyas, a Laguna de Los Condores se tornou um dos sítios arqueológicos incas mais importantes do país a partir de 1997, quando várias múmias foram descobertas em uma espécie de mausoléu dentro da selva.

Os corpos encontrados foram levados para o Museu Leymebamba e acredita-se que ainda existam milhares de outros corpos preservados em outros dos dezessete mausoléus escondidos e ainda não escavados.
Esse local é pouco conhecido e estima-se que apenas cerca de cento e cinquenta pessoas o visitavam por ano até 2016, quando o primeiro teleférico foi construído nas montanhas.

A apenas 80 km ao norte de Laguna estão as ruínas do topo da montanha de Kuelap, conhecidas como “Machu Picchu do norte” – este local era utilizado com um centro religioso e político para o povo chachapoyan pré-inca.
A escavação Laguna de Los Condores é uma das descobertas mais significativas relacionadas aos incas na América do Sul, sendo esse um dos únicos dois grandes cemitérios incas conhecidos que escaparam da destruição feita pelos conquistadores espanhóis, de acordo com a bioantropóloga Dra. Sonia Guillen, principal especialista em múmias do Peru.

Gullen acredita que a descoberta foi um verdadeiro milagre, uma vez que as múmias revelam como os incas lidavam com seus mortos de maneira geral.
“Eles curavam a pele para preservá-la transformando-a em couro e extraíram os órgãos de dentro do corpo através do ânus” – disse a Dra. Sonia Guillen.

Assim sendo, eles prosseguiam a mumificação, cercando o corpo do falecido com oferendas com vasos, penas, panelas, cestos e até mesmo Quipos – um instrumento utilizado para comunicação, como registro contábil e como registros mnemotécnicos entre os incas.

Segundo a especialista, essas múmias de Laguna de Los Condores provavelmente pertenciam a alta classe social da civilização inca, por conta da falta de desgaste dos ossos geralmente associados ao trabalho manual e pela maneira pela qual foram sepultadas. A mumificação entre os incas de alta classe social eram uma maneira de mantê-los conectados, como se ainda fizessem parte do mundo dos vivos. Segundo Guillen, a múmia inca participava de reuniões importantes e também tomava decisões, sendo que algumas delas até mesmo tinham propriedades!
Os corpos foram encontrados em posição fetal, e cada uma das múmias pode contar uma história diferente: desde a idade em que morreram, através dos dentes, como maiores informações sobre seu posto na sociedade, dado o meio fúnebre, modo de mumificação e oferendas dispostas.

O tipo de sepultamento como os mausoléus de Laguna de Los Condores foram cruciais para o povo inca florescer na região, pois substituíram o modo de enterro chachapoyano pela tradição inca de mumificação ao conquistarem a área.
“Quando os incas conquistaram essa área, substituíram o padrão funerário, esvaziando os mausoléus dos mortos pré-incas de Chachapoya e transformando-o em locais sagrados”.
É impressionante como um lugar tão bonito e histórico, que já foi uma comunidade próspera por mais de 500 anos, pudesse cair no esquecimento, não é mesmo?