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Pompeia, o dia em que as pessoas viraram pedra

Lucas R.

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A baía de Nápoles, uma região portuária e de agricultura fértil onde estava Pompeia, se situava a apenas 240 quilômetros de Roma, a capital do mundo ocidental naquela época.

Pompéia, com seus 20 mil habitantes, servia como destino turístico onde os romanos tiravam férias. Seus banhos públicos eram famosos em todo o Império. Aos pés do imponente Monte Vesúvio, Pompeia, como de costume, abria seus comércio às 8 da manhã daquele fatídico dia 24 de agosto do ano 79, mas ainda havia pouca gente nas ruas. Isso porque na noite anterior, como era comum no Império Romano, as pessoas ficavam acordadas até tarde vendo lutas de gladiadores e peças de teatro, tudo em celebração ao deus do fogo, Vulcano. Eles jamais poderiam imaginar que dali a poucas horas, um dos maiores desastres de todos os tempos estaria por acontecer.

Dos ricos e pobres, todos se achavam abençoados por viver em Pompeia, acreditando que a fertilidade da terra era um presente divino. Eles jamais podiam imaginar que o solo era tão fértil por causa das antigas explosões do Vesúvio.

Na verdade, para eles aquela era uma montanha qualquer, apenas um belo e silencioso vizinho que completava a paisagem da próspera e rica cidade. Eles não sabiam o que era um vulcão, e nem sequer tinham um nome para isso.

Essa foi a razão pela qual pequenos tremores naquela quente manhã, que poderiam servir como um sinal de alerta de que algo devastador se aproximava, passaram despercebidos.

Era pouco mais de 10 horas, quando um estrondo ensurdecedor ecoou pela planície, seguido por um forte tremor e uma chuva de rochas vulcânicas.

Em questão de minutos, o dia virou noite. A fumaça negra do Vesúvio bloqueou completamente a luz solar. As pessoas, assustadas com o barulho e impressionadas com o céu negro, saíram de suas casas. Mas a nuvem negra não era apenas fumaça. O Vesúvio lançou na atmosfera toneladas e mais toneladas de rochas que atingiram sem dificuldade os 10 quilômetros de altura. Fatalmente, essas rochas quentes começaram a cair em todas as direções, destruindo com requintes de crueldade uma das cidades mais ricas
de seu tempo.

Homens e mulheres, crianças e idosos… Todos ainda sem saber o que se passava. Milhares de pessoas corriam sem rumo, marcando as cinzas suaves e a lama vulcânica com pegadas de desespero humano que permaneceriam desconhecidas por quase 2 milênios.

As pessoas que correram para o norte escolheram um caminho que ajudou a salvar suas vidas. Os que escolheram o leste foram de encontro a um caminho sem volta. Foram, por azar, para o meio de uma zona de precipitação que seria rapidamente enterrada sob um metro de pedra-pomes. Outros, ficaram em casa rezando, e não tiveram a menor chance de escapar.

À medida que mais e mais cinzas caíam, entupiam o ar, dificultando a respiração. As pessoas inalaram uma mistura de dióxido de carbono quente, sulfeto de hidrogênio, cloreto de hidrogênio e dióxido de enxofre, que queimavam o sistema respiratório. Esses gases misturados com cinzas finas, que uma vez inaladas, formavam uma espécie de cimento nos pulmões.

Os edifícios desabavam – um a um. Então, um fluxo piroclástico de gás venenoso superaquecido e rocha pulverizada descia pela encosta da montanha a 160 quilômetros por hora, engolindo tudo e todos em seu caminho. A exposição ao calor de até infernais 900 graus era suficiente para causar uma morte quase instantânea nas pessoas mais próximas ao vulcão, fazendo o sangue ferver e os crânios explodirem.

Nas que estavam mais distantes, no centro de Pompeia, a até 10 quilômetros do Vesúvio, a temperatura do ar chegou a escaldantes 250 graus.
Para piorar a situação, a erupção causou um tsunami na baía de Nápoles. Ondas de até 8 metros inutilizaram o porto de Pompeia. Quem sobreviveu e tentou fugir pelo mar não conseguiu.

Quando a erupção do Vesúvio chegou ao fim no dia seguinte, Pompéia foi enterrada sob milhões de toneladas de cinzas vulcânicas. Foram 18 horas de uma das erupções mais famosas da história.

Ao todo, cerca de 16 mil cidadãos de Pompeia e Herculano, uma cidade próxima, perderam suas vidas. Algumas pessoas voltaram à cidade em busca de parentes ou pertences perdidos, mas não havia muito o que encontrar.

Pompeia, uma cidade bonita, próspera e centenária, foi enterrada não apenas pelas cinzas, mas pelo esquecimento. A cidade permaneceu praticamente intocada até 1748, quando um grupo de exploradores que procuravam artefatos antigos chegou à Campânia e começou a cavar.
Eles descobriram que as cinzas tinham agido como um conservante maravilhoso: por baixo de todo esse pó, Pompéia estava quase exatamente como havia estado por quase dois mil anos antes. As ruínas estavam intactas. Esqueletos, petrificados pelas cinzas vulcânicas, estavam exatamente onde caíram. Objetos cotidianos e utensílios domésticos ainda estavam espalhados pelas ruas.

Desde então, Pompéia foi sendo desenterrada, junto com uma infinidade de descobertas que ajudaram a revelar como o desastre aconteceu. Segundo os especialistas, por exemplo, depois que as cinzas esfriaram ao redor dos corpos intactos, o lento desaparecimento da carne deixou uma cavidade ao redor dos esqueletos, o que permitiu que fosse preenchida com gesso – foi assim que os corpos de algumas vítimas foram petrificados e transformados para sempre… em múmias de gesso.

Às sombras do mesmo Vesúvio, as ruínas de Pompeia estão abertas a turistas do mundo todo. Os visitantes podem passear pelas ruas romanas e conferir casas antigas, mercados de peixe, templos, teatros e até bordéis, mas nem toda a cidade foi desenterrada, e projetos de pesquisa ainda estão em curso para que toda a história da cidade seja conhecida.

Hoje, o Monte Vesúvio é o único vulcão ativo na Europa continental. Sua última erupção foi em 1944 e sua última grande explosão foi em 1631. Outra erupção é esperada no futuro próximo, o que pode ser devastador para as 700.000 pessoas que vivem nas “zonas de risco” ao redor do Vesúvio.

Mas felizmente, hoje sabemos muito mais do que os antigos romanos. E sinais de uma grande erupção serão muito melhor interpretados do que há quase 2 mil anos, permitindo que cidades como Nápoles sejam evacuadas a tempo.

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Editor-chefe do portal Mistérios do Mundo desde 2011. Adoro viajar, curtir uma boa música e leitura. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.