Pesquisador alerta que a África está se dividindo em dobro da velocidade com a formação de um novo oceano

por Lucas Rabello
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Por milhões de anos, os continentes da Terra se movimentaram em uma dança lenta, impulsionada pelo movimento incessante das placas tectônicas. Um dos exemplos mais dramáticos dessa evolução geológica está acontecendo hoje na África, onde o continente está se dividindo aos poucos em duas partes.

O que antes era considerado um processo que levaria dezenas de milhões de anos agora está se acelerando, de acordo com cientistas, abrindo caminho para a formação de um novo oceano que redefinirá a geografia do planeta.

Por que a África está se dividindo?

A história começa ao longo do Vale do Rift da África Oriental, uma enorme fenda que se estende pela Etiópia, Quênia e Tanzânia. Em 2005, uma rachadura de 56 quilômetros de comprimento surgiu no deserto da Etiópia, marcando um marco visível em um processo que começou há 30 milhões de anos. Essa fenda é a expressão superficial de forças tectônicas mais profundas: a Placa Africana está se dividindo lentamente em duas placas menores—a Placa Somali, a leste, e a Placa Núbia, a oeste.

Os mesmos movimentos tectônicos que criaram o Mar Vermelho e o Golfo de Áden, que hoje separam a África da Península Arábica, estão em ação aqui. Enquanto a Placa Arábica se move para o nordeste, a Placa Somali está se separando do resto da África a uma taxa de alguns milímetros por ano. Essa separação gradual está formando um vale repleto de vulcões, fontes termais e terremotos—um lembrete vívido das poderosas forças que remodelam o solo.

Cientistas descobriram um novo oceano começando a se formar enquanto a África se divide lentamente (Universidade de Rochester).

Cientistas descobriram um novo oceano começando a se formar enquanto a África se divide lentamente (Universidade de Rochester).

Uma Linha do Tempo Mais Rápida do que o Esperado

Inicialmente, os geólogos acreditavam que a divisão completa levaria dezenas de milhões de anos. Mas estudos recentes sugerem que o processo está mais acelerado do que se pensava, com as placas se afastando a uma taxa de aproximadamente 1,27 centímetros por ano. Embora isso pareça insignificante, em termos geológicos, o efeito é cumulativo. O professor Ken MacDonald, geofísico marinho da Universidade da Califórnia, prevê que um novo oceano pode surgir em 1 a 5 milhões de anos.

“Em termos humanos, as mudanças serão sutis”, explica MacDonald. “As pessoas que vivem perto do rift sentirão terremotos e verão vulcões entrando em erupção, mas a chegada do oceano é um evento distante.” A eventual inundação do vale do rift pelo Oceano Índico criará um novo mar, isolando o leste da África como um continente separado.

Dos Lagos aos Novos Continentes

O Vale do Rift da África Oriental já abriga alguns dos sistemas de água doce mais impressionantes da Terra, incluindo o Lago Vitória, o Lago Tanganica e o Lago Malawi. Esses corpos d’água contêm 25% da água doce superficial não congelada do planeta e sustentam 10% de todas as espécies de peixes da Terra. Segundo Alexandra Doten, ex-consultora da NASA e da Força Espacial, esses lagos não são apenas tesouros ecológicos—eles são pistas para o destino tectônico da região.

De acordo com cientistas, daqui a milhões de anos, a África estará dividida em duas partes.

De acordo com cientistas, daqui a milhões de anos, a África estará dividida em duas partes.

“Os Grandes Lagos Africanos estão ao longo do caminho do rift”, observa Doten. “À medida que a Placa Somali continua se movendo para o leste, o rift se expandirá, formando eventualmente um novo oceano. O leste da África se tornará um novo continente, cercado por água.”

O que Vem por Aí?

Embora a transformação completa esteja a milênios de distância, os cientistas estão monitorando de perto o progresso do rift. Avanços na tecnologia de satélites e no monitoramento sísmico permitiram que os pesquisadores mapeassem os braços do rift com precisão sem precedentes. Essas ferramentas ajudam a prever atividades vulcânicas e riscos de terremotos, oferecendo insights importantes para as comunidades que vivem perto do rift.

Por enquanto, a divisão serve como um lembrete da natureza dinâmica da Terra. As mesmas forças que um dia uniram o supercontinente Pangaea agora estão separando a África, ilustrando a capacidade infinita do planeta de se transformar. Como diz MacDonald, “Esta é uma foto de um processo que moldou continentes por bilhões de anos—e continuará a fazê-lo muito depois de partirmos.”

Na linha do tempo geológica, a divisão da África é um evento passageiro. No entanto, oferece uma rara oportunidade de testemunhar o nascimento de um novo oceano, um fenômeno que poucos humanos verão. Para cientistas e mentes curiosas, é um vislumbre humilde do poder das forças internas da Terra—e um testemunho das mudanças lentas, mas implacáveis, que moldam nosso mundo.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.

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