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Pesquisa mostra que Covid-19 pode causar danos também ao coração

Leonardo Ambrosio

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De acordo com novos relatórios médicos, há outras partes do corpo além do pulmão que sofrem com a doença causada pelo novo coronavírus.

O novo coronavírus, causador da Covid-19, ataca principalmente o pulmão dos pacientes, mas de acordo com novos relatórios médicos, há outras partes do corpo que sofrem com a doença, como o coração.

De acordo com uma pesquisa publicada recentemente no ‘JAMA Cardiology‘, 1 a cada 5 pacientes com Covid-19 desenvolvem problemas cardíacos. Segundo o estudo, publicado em 27 de março, nem todos os que desenvolvem problemas no coração tinham histórico de doenças cardíacas.

Para os cardiologistas, ainda é difícil afirmar com exatidão como o coronavírus afeta o coração, mas já existem algumas hipóteses. É possível, por exemplo que a falta de oxigênio faça com que o coração se esforce mais que o normal para bombear o sangue pelo corpo. Outra hipótese é a de que o vírus tem a capacidade de infectar o coração.

Não é uma novidade, no entanto, que os vírus tenham a capacidade de causar problemas cardíacos em seres humanos. Um estudo de 2018, publicado na ‘New England Journal of Medicine‘, já afirmava que os pacientes infectados com o vírus da gripe comum tinham cerca de seis vezes mais probabilidade de sofrer ataques cardíacos em relação às pessoas saudáveis. Ainda mais impressionante, uma revisão publicada pela ‘JAMA Cardiology’ mostrou que, na maioria das epidemias causadas pelo influenza, as pessoas morreram mais de ataques cardíacos do que de pneumonias. De acordo com essa revisão, as infecções virais são capazes de prejudicar o fluxo sanguíneo no coração, o que por sua vez provoca batimentos irregulares e eventuais ataques.

“Nós estamos vendo casos de pessoas que não possuem doenças prévias no coração que estão sofrendo danos cardíacos”, disse Erin Michos, diretor associado de cardiologia preventiva na Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins. Vale ressaltar, no entanto, que de acordo com Michos a maioria dos casos da Covid-19 que causam problemas cardíacos são considerados “graves” – aqueles em que os sintomas são mais fortes e os pacientes precisam ser mantidos internados.

Assim como as células do pulmão, as células cardíacas são cobertas com uma proteína chamada “ACE2” (enzima conversora de angiotensina 2), que servem como portas de entrada para o coronavírus no nosso organismo. Segundo Michos, a ACE2 tem uma função protetiva, mas ela é quem acaba abrindo as nossas defesas para o vírus. Durante um processo de inflamação, a ACE2 age como um anti-inflamatório, impedindo que as células imunes causem danos às células do próprio corpo. O problema está no momento em que o coronavírus consegue se ligar às proteínas ACE2, eliminando-as e reduzindo a proteção anti-inflamatória do nosso organismo.

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Além disso, o coronavírus também tem o potencial de causar danos indiretos ao coração. Em casos mais graves da Covid-19, o organismo dispara o que os médicos estão chamando de “tempestade de citocina”, que danificam o fígado e o coração. A citocina é uma substância responsável pelo controle da imunorreação do nosso organismo, porém em alguns casos mais severos de inflamação, ela pode ter um considerável potencial danoso ao nosso corpo.

Os danos são medidos pela presença de um proteína chamada ‘troponina’ em exames sanguíneos. Tal proteína é liberada pelas células do coração quando elas estão danificadas.

Há no momento uma forte discussão entre os médicos envolvendo os pacientes com pressão alta que se encontram em grande risco para a Covid-19. Um artigo recente sugeriu que os medicamentos para pressão alta podem ser prejudiciais, já que costumam aumentar a quantidade de sangue que o coração bombeia, diminuindo a pressão sanguínea. Por isso, os cardiologistas discutem se essas pessoas deveriam ou não tomar esses remédios. Até o momento, no entanto, o consenso é de que os pacientes que já estão em um tratamento devem manter os remédios atuais.

Um outro problema que vem preocupando as autoridades médicas é a descoberta de que a hidroxicloroquina, vista por alguns governantes como um divisor de águas para o surto de Covid-19, pode causar problemas cardíacos. De acordo com Michos, o objetivo agora é descobrir, por meio de novas pesquisas, o que de fato faz com que algumas pessoas sejam mais propensas aos danos cardíacos causados pelo Covid-19, bem como descobrir quais drogas realmente são indicadas para combater a doença sem prejudicar outros órgãos.

Fonte: LiveScience.

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Leonardo Ambrosio tem 26 anos, é jornalista, vive em Capão da Canoa/RS e trabalha como redator em diversos projetos envolvendo ciências, tecnologia e curiosidades desde 2014.

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