Em um momento incrível na história da humanidade, uma espaçonave feita por seres humanos adentrou o Sol pela primeira vez. Em 28 de abril de 2021, a sonda Parker, da NASA, entrou na coroa solar, a atmosfera superior do Sol. A sonda não apenas sobreviveu para contar a história, como também fez medições no local, dando aos cientistas uma riqueza de dados nunca antes vista sobre o coração do nosso Sistema Solar.
“A sonda Parker ter tocado o Sol é um momento monumental para a ciência solar, e um feito verdadeiramente notável. Este marco não apenas nos fornece percepções mais profundas sobre a evolução do Sol e seus impactos em nosso Sistema Solar, mas nos ensina um pouco mais sobre as estrelas presentes no resto do Universo”, disse Thomas Zurbuchen, administrador associado do Diretório de Missões Científicas na sede da NASA.
A sonda Parker foi lançada em 2018, com o objetivo principal de sondar a coroa solar. Em uma missão que deve durar sete anos, a espaçonave pretende fazer um total de 26 aproximações, ou periélios. O periélio de abril foi o oitavo, e o primeiro a realmente entrar na coroa do astro. Em suas quase cinco horas dentro da atmosfera solar, Parker mediu flutuações do Sol e amostras de partículas. Anteriormente, nossas estimativas dessas propriedades dependiam de informações totalmente externas. “Voando tão perto do Sol, a sonda Parker agora detecta condições na camada magneticamente dominada da atmosfera solar – ‘corona’ -, algo que ainda não havíamos conseguido fazer”, disse o astrofísico Nour Raouafi, cientista do projeto Parker no Laboratório de Física Aplicada Johns Hopkins.
O Sol não tem uma superfície sólida. Em vez disso, seus limites são definidos pelo que chamamos de “superfície crítica de Alfvén”, onde a gravidade e os campos magnéticos do Sol são muito fracos para conter o plasma solar. Acima desse ponto, o vento solar emerge, soprando com força através do Sistema Solar, tão rápido que as ondas carregadas pelo vento se separam do sol. E um dos objetivos principais da sonda Parker é justamente descobrir mais sobre a superfície crítica de Alfvén.
A sonda também investigou um fenômeno conhecido como “ziguezague solar”, torções em forma de Z no campo magnético do vento solar. Atualmente, não se sabe onde ou como elas se formam. Nós sabemos sobre os ziguezagues desde a década de 1990, mas só depois das investigações de Parker, realizadas em 2019, é que descobrimos que elas são mais frequentes do que imaginávamos. Foi no sexto sobrevoo da sonda que os dados mostraram aos cientistas que os ziguezagues ocorrem a partir de determinados pontos do Sol. Agora, Parker os detectou dentro da atmosfera solar, sugerindo que pelo menos alguns dos ziguezagues vêm da coroa inferior.
Nós ainda não sabemos exatamente como essas estruturas curiosas se formam, mas com dezenas de periélios a serem realizados, é provável que a ciência venha a descobrir ainda mais sobre elas. “Temos observado o Sol e sua coroa por décadas, e sabemos que há física interessantes acontecendo por lá para aquecer e acelerar o plasma do vento solar. Ainda assim, não podemos dizer exatamente o que é essa física”, disse Raouafi. “Com a sonda Parker voando para a coroa dominada magneticamente, teremos as tão esperadas percepções sobre o fundamento interno dessa região misteriosa”.