No verão de 2016, um acidente brutal em um parque aquático nos Estados Unidos deixou o mundo em alerta. O protagonista da história era o Verrückt, um toboágua gigante que ostentava o título de mais alto do planeta, com 51,38 metros de altura — mais elevado que as Cataratas do Niágara. Construído no Schlitterbahn Waterpark, no Kansas, a atração prometia uma experiência radical: uma queda equivalente a 17 andares de prédio, seguida por uma subida de 16,7 metros, tudo em velocidades que ultrapassavam 100 km/h. Mas o que deveria ser diversão terminou em uma cena de horror, envolvendo a morte de Caleb Schwab, um menino de 10 anos.
A Engenharia Arriscada do Verrückt
Inaugurado em 2014, o Verrückt (que significa “louco” ou “insano” em alemão) foi projetado para ser um marco da engenharia de entretenimento. Os criadores, no entanto, enfrentaram desafios desde o início. Para evitar que os visitantes fossem arremessados para fora do brinquedo, uma rede de proteção foi instalada ao longo do percurso, sustentada por postes de metal. Apesar disso, relatos posteriores indicavam falhas nos testes iniciais: jangadas usadas pelos passageiros chegavam a sair do trilho durante os primeiros experimentos.
Os requisitos para entrar no brinquedo eram rígidos: apenas pessoas acima de 1,40 metro de altura e com peso mínimo de 45 kg. Mesmo assim, em 7 de agosto de 2016, Caleb — filho de Scott Schwab, um político local — subiu os 264 degraus até o topo do toboágua, acompanhado por duas mulheres adultas. Ninguém imaginava que aquele seria seu último passeio.
O Acidente que Virou Pesadelo
Ao descerem em uma jangada de três lugares, a força da queda projetou Caleb para cima. O impacto foi tão violento que o menino colidiu com um dos postes de metal que sustentavam a rede de proteção, resultando em ferimentos fatais. Testemunhas descreveram a cena como “além de qualquer pesadelo possível”. Nathan, irmão de 12 anos que aguardava ao pé do brinquedo, foi o primeiro a entender a tragédia. Ele gritava desesperado: “Ele voou do Verrückt! Ele voou do Verrückt!”.
A mãe de Caleb, Michele, relembrou em entrevistas o momento em que funcionários do parque a impediram de se aproximar do local. “Um homem me segurou e disse: ‘Confie em mim, você não quer ver’”, contou. A família só conseguiu confirmar a morte do garoto horas depois, quando autoridades locais entregaram a notícia.
O Impacto na Família e as Consequências Jurídicas
Nos meses seguintes, a família Schwab buscou conforto em vídeos caseiros de Caleb. Scott, o pai, desabafou: “Às vezes, não conseguimos olhar. Outras vezes, você não dorme e precisa reviver as memórias”. Em 2017, um acordo financeiro foi fechado com os donos do parque e o fabricante das jangadas, embora o valor não tenha sido divulgado. Ainda assim, processos continuaram contra a empresa responsável pela construção do Verrückt e um consultor de segurança envolvido na aprovação do brinquedo.
O Schlitterbahn Waterpark, que operava há 50 anos, emitiu um comunicado afirmando estar “devastado” e destacando que a segurança era prioridade. “Somos pais e avós. Muitos de nós já havíamos usado o Verrückt com nossas próprias famílias”, dizia a nota. Apesar das declarações, o parque enfrentou críticas severas. Investigadores revelaram que o brinquedo nunca passou por uma inspeção técnica independente antes da abertura.
O Fim do Verrückt e do Parque
Em setembro de 2018, o Schlitterbahn Waterpark fechou as portas definitivamente. Dois meses depois, o Verrückt foi desmontado peça por peça, encerrando um capítulo sombrio na história dos parques de diversão. O caso também levou a mudanças nas regulamentações de segurança para brinquedos radicais no Kansas, incluindo exigências de inspeções rigorosas e padrões de engenharia mais altos.
Embora o nome Verrückt tenha desaparecido fisicamente, a lembrança do acidente permanece. Para Nathan e os pais de Caleb, a dor é um processo contínuo. Em entrevistas, Michele descreveu a jornada como “uma luta diária”, enquanto Scott refletiu sobre a importância de manter viva a memória do filho. O incidente não só expôs falhas graves em um brinquedo aclamado, mas também levantou debates globais sobre a obsessão por recordes e a segurança em atrações extremas.
A história do Verrückt serve como um alerta silencioso: até mesmo projetos considerados “inovadores” podem esconder riscos invisíveis. E para uma família no Kansas, o preço dessa lição foi incalculável.