O epicentro do surto de coronavírus, a cidade chinesa de Wuhan, não apresentou nenhum novo caso de transmissão doméstica da doença entre os dias 18 e 22 de março. Isso fez com que a China até mesmo pensasse em flexibilizar as medidas de quarentena, permitindo que os moradores deixassem a região no próximo mês.
No entanto, um fenômeno alarmante vem chamando a atenção das autoridades médicas, e pode acabar mudando os planos dos chineses. É que muitos moradores de Wuhan que haviam sido declarados “curados” da Covid-19 estão voltando a apresentar testes positivos. De acordo com dados fornecidos por vários centros chineses de isolamento, algo entre 5% e 10% dos pacientes “curados” voltam a apresentar testes positivos para a doença.
Ainda que muitos desses pacientes “de segunda viagem” não apresentem sintomas da Covid-19, as autoridades médicas temem o fato deles se tornarem novamente vetores da doença no país, possibilitando uma nova onda da doença e ameaçando os planos de flexibilizar as medidas de isolamento social.

A “National Public Radio”, dos Estados Unidos, conversou com quatro desses pacientes que testaram positivo após terem sido considerados curados. Dois deles eram profissionais da área da saúde, que estavam lidando com o tratamento dos doentes, enquanto os outros dois não tinham relação com a área médica. Entre eles era comum o fato de que a segunda ocorrência da Covid-19 não apresentava os sintomas típicos, mesmo entre os que tiveram sintomas mais graves na primeira vez que foram testados positivos.
Para os virologistas, é improvável que se trate de uma segunda infecção, mas ainda não há como afirmar com certeza o que explica os segundos testes positivos. As quatro pessoas entrevistadas pela “National Public Radio” estão sendo mantidas em observação médica, e ainda não se sabe se elas seguem sendo capazes de contagiar outras pessoas.
Uma das hipóteses possíveis é que esses pacientes tenham recebido um teste falso-negativo. De fato, há registro de pacientes que inclusive chegaram a perder a vida por complicações da Covid-19 depois de testarem negativo várias vezes até conseguirem o diagnóstico definitivo.
Em fevereiro, o diretor da Academia Chinesa de Ciências Médicas, Wang Chen, afirmou que os testes envolvendo ácido nucleico, comuns na China, apresentavam eficácia em apenas 30-50% das vezes. Com tudo isso em mente, uma outra hipótese que surge é a de que os pacientes estão recebendo falsos-positivos por conta de resíduos do vírus que permanecem no organismo após o fim dos sintomas.
Como a China estava pretendendo liberar a saída dos moradores de Wuhan da região apenas mediante um teste negativo para a Covid-19, essas alarmantes novidades podem colocar os planos em risco, uma vez que o país poderia estar liberando uma série de portadores assintomáticos do coronavírus para circularem livremente pelo país.