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Origem de misteriosa terra escura da Amazônia é revelada

Lucas R.

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Origem de misteriosa terra escura da Amazônia é revelada
Descoberta revela que solo fértil na Amazônia foi criado intencionalmente por culturas antigas, prática mantida por comunidades indígenas.

Manchas antigas de solo preto super fértil têm sido um mistério para arqueólogos por décadas. Essas manchas, espalhadas pela densa floresta amazônica, têm sustentado comunidades agrícolas por milhares de anos. Pesquisas recentes agora lançaram luz sobre esse enigma, revelando que essas manchas não foram um mero acidente, mas foram intencionalmente criadas por culturas antigas. Ainda mais fascinante, essa prática continua a ser mantida pelas comunidades indígenas modernas.

Imagine tentar cultivar culturas em um solo que é extensivamente lixiviado de nutrientes. É uma tarefa assustadora, certo? Taylor Perron, um dos autores do estudo, explica: “Se você quer ter grandes assentamentos, precisa de uma base nutricional. Mas o solo na Amazônia é naturalmente pobre para o cultivo da maioria das culturas.” É aqui que a terra escura entra em jogo. Ao contrário do solo naturalmente ocorrente na Amazônia, esta terra escura está repleta de componentes essenciais como carbono, fósforo e potássio. Esses elementos transformam manchas de outra forma inférteis em centros agrícolas prósperos.

A origem desta terra escura tem sido um tema de debate entre estudiosos. Enquanto alguns acreditavam que era cultivada intencionalmente, outros argumentavam que era um subproduto acidental de outras práticas agrícolas. Para desvendar esse mistério, os pesquisadores embarcaram em uma jornada para o Território Indígena Kuikuro na Amazônia brasileira.

No assentamento indígena moderno de Kuikuro II, a equipe observou uma prática fascinante. Os locais estavam acumulando resíduos orgânicos ricos em nutrientes da pesca e da agricultura de mandioca em montes de lixo. Com o tempo, essas pilhas se decomporam e se transformaram na cobiçada terra escura. Este solo enriquecido foi então usado para cultivar culturas que, de outra forma, lutariam no solo nativo da Amazônia. Morgan Schmidt, outro autor do estudo, elabora: “Vimos atividades que fizeram para modificar o solo, como espalhar cinzas ou carvão, que eram obviamente ações intencionais.” Os aldeões até tinham um nome para esta terra escura – “eegepe”.

Mas era essa uma prática recente ou tinha raízes antigas? Para responder a isso, a equipe comparou a terra escura de Kuikuro II com amostras de sítios arqueológicos próximos. Algumas dessas amostras tinham até 5.000 anos! As descobertas foram impressionantes. Tanto as amostras antigas quanto as modernas de terra escura tinham composições idênticas, enriquecidas com elementos vitais. Schmidt aponta: “Esses elementos reduzem a toxicidade do alumínio no solo, um problema notório na Amazônia, tornando o solo melhor para o crescimento das plantas.”

A conclusão dos pesquisadores foi clara: a criação de terra escura foi um ato deliberado, praticado por milênios. Essa sabedoria antiga não só impulsionou a produção de alimentos em solos de baixa fertilidade, mas também teve um benefício ambiental inesperado. A terra escura armazenava grandes quantidades de carbono devido à matéria orgânica usada em sua criação. Samuel Goldberg, outro autor do estudo, destaca: “Os antigos amazonenses colocaram muito carbono no solo e muito disso ainda está lá hoje.” Esse armazenamento de carbono é exatamente o que nosso mundo moderno precisa para a mitigação das mudanças climáticas.

Goldberg sugere ainda: “Talvez pudéssemos adaptar algumas de suas estratégias indígenas em uma escala maior, para fixar carbono no solo, de maneiras que sabemos que ficariam lá por muito tempo.”

Este estudo, agora publicado na revista Science Advances, não apenas desvenda um mistério antigo, mas também oferece um farol de esperança para o futuro do nosso planeta. A sabedoria dos antigos amazonenses, parece, ainda tem muito a nos ensinar.

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Editor-chefe do portal Mistérios do Mundo desde 2011. Adoro viajar, curtir uma boa música e leitura. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.