Pesquisas revelaram habilidades vocais impressionantes nas orcas, demonstrando sua capacidade de imitar palavras humanas. Um estudo publicado em 2018 na revista científica Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences mostrou como esses magníficos mamíferos marinhos, já conhecidos por sua inteligência e habilidade de caça, podem reproduzir sons humanos básicos.
A pesquisa foi centrada em Wikie, uma orca de 14 anos que participou de uma série de experimentos controlados. Segundo a National Geographic, as orcas nadam até 64 quilômetros por dia e possuem o maior cérebro entre os mamíferos marinhos. Contudo, este estudo ultrapassou os limites do que se sabia sobre as capacidades vocais desses animais.
A equipe de pesquisadores, composta por especialistas da Alemanha, Espanha, Reino Unido e Chile, desenvolveu uma abordagem sistemática para testar a flexibilidade vocal das orcas. “Nós achamos que o mais convincente seria apresentar algo que não estivesse em seu repertório – e, nesse caso, ‘olá’ não é algo que uma orca diria,” explicou Josep Call, professor de origens evolucionárias da mente na Universidade de St Andrews e coautor do estudo.
O experimento começou com Wikie sendo treinada para replicar três sons familiares de orcas produzidos por seu filhote de três anos. Em seguida, ela foi exposta a cinco sons de orcas que nunca tinha ouvido antes, e, posteriormente, a três sons de orcas imitados por humanos. Na última etapa, Wikie ouviu seis palavras e frases humanas, incluindo “olá”, “Amy”, “ah ha”, “um, dois” e “tchau tchau”.
Wikie, a orca, conseguiu imitar vários sons humanos (Abramson et al./CBS News).
Os resultados foram surpreendentes. Wikie conseguiu reproduzir diversos sons, com algumas palavras humanas sendo perfeitamente imitadas já na primeira tentativa. As gravações dessas tentativas causaram reações variadas: enquanto algumas imitações pareciam incomuns, outras foram impressionantemente precisas. Um ouvinte comentou: “O ‘olá’ soou demoníaco.” Outro brincou: “Ok, aquele segundo ‘olá’ foi um pouco demoníaco. Isso foi mesmo uma orca ou o Diabo falando através de uma caixa fantasma?”
O que torna o feito de Wikie particularmente notável é a diferença fundamental entre o aparelho vocal das orcas e o dos humanos. Apesar dessas diferenças fisiológicas, ela conseguiu produzir sons reconhecíveis semelhantes à fala humana. Call destacou: “Mesmo com uma morfologia tão diferente, elas ainda conseguem produzir um som que se aproxima do que outra espécie, nesse caso nós, consegue produzir.”
O estudo também revelou que, embora Wikie tenha reproduzido a palavra “olá” com mais de 50% de precisão em testes subsequentes, “não há evidências de que elas entendam o que o ‘olá’ significa,” segundo Call. Ainda assim, esta pesquisa fornece a primeira evidência científica de imitação vocal em orcas, o que pode ajudar a explicar os distintos dialetos observados em populações selvagens.
As implicações deste estudo vão além da imitação vocal. Como os maiores membros da família dos golfinhos e predadores de topo nos ecossistemas marinhos, a capacidade das orcas de aprender e reproduzir sons novos adiciona mais uma camada à nossa compreensão de suas habilidades cognitivas. Porém, os pesquisadores enfatizam a necessidade de mais estudos com orcas selvagens para entender completamente os mecanismos do aprendizado de sons dessas criaturas.
