Os Jogos Olímpicos de Munique em 1972 não são apenas lembrados pelo talento atlético, mas também pelo devastador ato terrorista que abalou o mundo. O eco dessa tragédia durou anos, resultando em uma operação secreta israelense conhecida como Operação Cólera de Deus, uma narrativa carregada de desejo de vingança, estratégia brilhante e complexidades morais.
Enquanto os olhos do mundo estavam voltados para os Jogos Olímpicos de Munique, uma tragédia se desenrolava. Oito membros do Setembro Negro, um grupo palestino, iniciaram um audacioso ataque contra atletas israelenses. O objetivo deles era aterrorizante: uma situação de reféns exigindo a libertação de 236 prisioneiros. Oa incidente resultou na morte de todos os nove reféns israelenses, um fato transmitido ao vivo para 900 milhões de espectadores em todo o mundo.

A Ascensão da Operação Cólera de Deus
Com Israel imerso em luto, um plano secreto foi lançado: a Operação Cólera de Deus. Além dos ataques imediatos a bases da OLP na Síria e no Líbano, havia um plano de longo prazo mais calculado. A Primeira Ministra de Israel, Golda Meir, delegou ao Mossad, a agência de inteligência de elite de Israel, a tarefa de localizar e neutralizar os responsáveis pelo massacre de Munique.
A operação ocorreu de forma rápida e implacável. Em apenas seis semanas após Munique, agentes do Mossad em Roma neutralizaram Wael Zwaiter, supostamente ligado ao Setembro Negro. As ações não foram comuns. Em um dos casos, um agente do Mossad se disfarçou de jornalista italiano para armar uma armadilha mortal para Mahmoud Hamshari em Paris. Essas ações ocorreram em diversos continentes, mostrando a audácia e a capacidade do Mossad.

Deslizes e Repercussões
No entanto, no universo da espionagem, erros são quase inevitáveis. Em 1973, um grande equívoco aconteceu. Na tentativa de eliminar Ali Hassan Salameh, uma figura-chave do Setembro Negro, o Mossad acidentalmente matou um garçom marroquino inocente na Noruega. Esse erro não apenas colocou a operação sob os holofotes internacionais, mas também expôs a extensa rede europeia do Mossad.
Dúvidas surgiram sobre a precisão da operação. Críticos questionaram a legitimidade da lista de alvos do Mossad, sugerindo que muitos tinham pouca ou nenhuma ligação com o massacre de Munique. Estes, argumentavam, estavam simplesmente associados a causas palestinas, com ligações tênues com o Setembro Negro e a OLP. Tais atos, segundo os opositores, agravaram a já delicada situação no Oriente Médio.

O Dilema Ético na Operação Cólera de Deus
Uma operação da magnitude da Operação Cólera de Deus não ocorreu sem questionamentos internos. Enquanto os agentes estavam firmes em sua missão, eles se confrontavam com suas implicações morais. “Yonatan”, um agente do Mossad, exemplificou esse dilema, ponderando sobre a retidão de suas ações, mas também questionando que outra atitude Israel poderia ter tomado após Munique.
David Kimche, então vice-chefe do Mossad, esclareceu o ethos da operação. Não se tratava apenas de assassinar; era a maneira como isso era feito. Era uma mensagem para os adversários: o alcance do Mossad era ilimitado e eles podiam agir a qualquer momento, em qualquer lugar.
No entanto, a Operação Cólera de Deus fez mais do que buscar vingança. Ela, de certa forma, redefiniu o próprio núcleo do contraterrorismo. Antes de Munique, assassinatos não eram uma prática padrão no Mossad. Após Munique, os assassinatos direcionados se tornaram uma peça central do contraterrorismo israelense, método que os EUA adotariam anos depois, pós 11 de setembro, em sua estratégia contra o terrorismo.

Um Legado Duradouro
Mas a Operação Cólera de Deus foi bem-sucedida? Não é uma pergunta de resposta simples. Ao menos 18 alvos associados ao massacre de Munique foram eliminados. No entanto, além dos números, suas implicações são vastas.
A operação serviu como um desestímulo ao terrorismo? Talvez, já que uma forte mensagem sobre as consequências de atacar cidadãos israelenses foi enviada. Por outro lado, ela serviu como incentivo para organizações terroristas, retratando as ações do Mossad como excessivas? É possível.
O que é inegável é o papel fundamental da operação na formação das narrativas modernas de contraterrorismo. Ela mesclou as fronteiras entre justiça e vingança, ações sancionadas pelo estado e execuções extrajudiciais, estratégia e impulso.
Em um mundo constantemente em luta contra o terrorismo e suas contramedidas, a Operação Cólera de Deus permanece um estudo fascinante. Ela serve como um lembrete vívido dos extremos que as nações podem alcançar em nome da justiça e da segurança. Em uma era onde a informação é poder, compreender operações como esta nos oferece insights valiosos sobre as dinâmicas de segurança global.
Com informações de Britannica