Um dos continentes do mundo está se dividindo, enquanto especialista emite um alerta

por Lucas Rabello
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Separar-se nunca é fácil — seja em relacionamentos ou, como estamos descobrindo, em continentes. Um dos maiores blocos de terra do mundo, a África, está passando por uma transformação lenta, mas dramática, que acabará redesenhando o mapa do nosso planeta. Embora esse processo leve milhões de anos, os sinais já são visíveis, e os cientistas estão de olho nas mudanças que ocorrem ao longo da costa leste do continente africano.

A superfície da Terra é composta por placas tectônicas, enormes blocos de rocha que flutuam sobre o interior derretido do planeta. Essas placas estão em constante movimento, embora em um ritmo extremamente lento, e suas interações criam montanhas, terremotos e até novos oceanos. Na África Oriental, duas placas tectônicas estão se afastando uma da outra, um processo que, um dia, dividirá o continente e criará uma nova massa terrestre.

Esse fenômeno está centrado no Vale do Rift da África Oriental, uma enorme formação geológica que se estende por países como Etiópia, Quênia, Tanzânia e Somália. O rift é, basicamente, uma grande rachadura na crosta terrestre, e está se expandindo a cada ano. Em algumas áreas, o solo está se separando a uma taxa de apenas alguns milímetros por ano, mas em outras, as fissuras já são bem visíveis, oferecendo uma prévia das mudanças dramáticas que estão por vir.

O solo se abriu em alguns lugares, e em um processo que pode levar milhões de anos, um novo continente e oceano se formarão (Julie Rowland, Universidade de Auckland).

O solo se abriu em alguns lugares, e em um processo que pode levar milhões de anos, um novo continente e oceano se formarão (Julie Rowland, Universidade de Auckland).

De acordo com o professor Ken Macdonald, geofísico da Universidade da Califórnia, essa separação lenta, porém constante, pode levar à formação de um novo continente e de um novo oceano. Ele explica que, ao longo do próximo milhão a cinco milhões de anos, é provável que o Oceano Índico inunde o Vale do Rift da África Oriental, criando um novo corpo d’água e isolando uma parte da África como uma massa terrestre separada.

Embora isso possa parecer algo saído de um filme de ficção científica, o processo é muito real — e já está em andamento. No entanto, para aqueles de nós que estamos vivos hoje, as mudanças serão quase imperceptíveis. Como o professor Macdonald observa, “na escala da vida humana, você não verá muitas mudanças. Você sentirá terremotos, verá vulcões entrando em erupção, mas não verá o oceano invadir em nosso tempo de vida”.

O Rift da África Oriental é um ponto quente para atividade geológica, e a região já está acostumada a terremotos e erupções vulcânicas. Esses eventos são resultado direto das forças tectônicas em ação e servem como um lembrete do poder imenso que molda nosso planeta. Com o tempo, o rift afundará cada vez mais, permitindo que as águas do oceano inundem a área e redesenharem o mapa da África Oriental.

O Rift da África Oriental está se separando. (USGS)

O Rift da África Oriental está se separando. (USGS)

Quando isso acontecer, países como Etiópia e Somália podem ganhar novas linhas costeiras, enquanto outros podem ser divididos ao meio, separados do continente africano pelo novo oceano. Claro, essas mudanças estão tão distantes no futuro que é impossível prever como o mundo — ou mesmo a civilização humana — estará nessa época.

A ideia de um novo continente e oceano em formação pode parecer uma preocupação distante, mas é um lembrete fascinante de como o nosso planeta é dinâmico. A Terra está em constante mudança, e mesmo que não percebamos isso no nosso dia a dia, as forças da natureza estão sempre em ação, remodelando o mundo de maneiras que ecoarão por milhões de anos.

Por enquanto, os cientistas continuarão monitorando o Rift da África Oriental, estudando seus movimentos e aprendendo mais sobre os processos que impulsionam a deriva continental. Embora não vivamos para ver o resultado final, a história da divisão da África é um testemunho poderoso da natureza em constante evolução do nosso planeta — e um lembrete de que, até mesmo o chão sob nossos pés, nunca é tão sólido quanto parece.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.