O que significa falar sempre sobre si mesmo, segundo a psicologia?

por Lucas Rabello
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Você já conversou com alguém que transforma qualquer assunto em uma oportunidade para falar sobre a própria vida? Seja em um encontro casual, uma reunião de trabalho ou até mesmo em redes sociais, é comum encontrar pessoas que dominam as conversas relatando experiências pessoais, conquistas ou problemas. Esse hábito, aparentemente inocente, pode revelar traços profundos da personalidade e impactar significativamente as relações sociais.

Segundo especialistas, quando alguém foca excessivamente em si mesmo durante um diálogo, isso pode indicar egocentrismo ou até mesmo narcisismo. Esses indivíduos costumam buscar validação constante, usando as interações como um palco para reforçar sua autoimagem. A psicóloga Sonia García, do Colegio Oficial de Psicologia de Madri, explica em entrevista ao site de saúde Cuídate Plus que essas pessoas frequentemente demonstram “ares de superioridade e grandeza”, acreditando-se melhores que os outros. Além disso, elas tendem a exagerar suas realizações, esperando reconhecimento ou tratamento especial, enquanto ignoram as necessidades emocionais de quem está ao redor.

Mas por que isso acontece? A necessidade de falar incessantemente sobre si mesmo muitas vezes está ligada a inseguranças internas. Paradoxalmente, quem busca aprovação constante pode estar tentando compensar fragilidades emocionais, como medo de rejeição ou baixa autoestima. Em vez de construir conexões genuínas, o comportamento acaba funcionando como uma máscara para esconder vulnerabilidades.

Um fenômeno curioso relacionado a isso é o chamado boomerasking. O termo descreve a prática de fazer perguntas a outras pessoas apenas para redirecionar a conversa para si mesmo. Por exemplo: alguém pergunta “Como foi sua viagem?”, mas, antes que você termine de responder, interrompe com “Ah, isso me lembra quando eu fui para…”. Essa tática, que parece um interesse superficial pelo outro, na verdade revela uma priorização clara do próprio ego.

Outro ponto crítico é a falta de empatia. Quem centraliza os diálogos em si mesmo geralmente tem dificuldade para ouvir e se colocar no lugar dos outros. Relações saudáveis dependem de troca equilibrada: compartilhar experiências, mas também demonstrar curiosidade e apoio mútuo. Quando um lado monopoliza a atenção, o outro pode se sentir invisível, levando a frustrações e afastamento.

As consequências sociais são evidentes. Conversas desequilibradas desgastam laços, pois transmitem desinteresse e individualismo. Com o tempo, amigos, familiares ou colegas podem evitar interações, reduzindo oportunidades de conexões significativas. Em casos extremos, o comportamento alimenta um ciclo vicioso: quanto mais a pessoa busca validação, mais os outros se distanciam, aumentando sua carência emocional.

Vale destacar que falar de si mesmo é natural e saudável em muitos contextos. Compartilhar histórias, opiniões e sentimentos é parte essencial da comunicação. O problema surge quando o diálogo perde a reciprocidade, tornando-se um monólogo constante. Identificar esse padrão pode ser o primeiro passo para mudanças, seja buscando autoconhecimento ou apoio profissional.

Para conviver harmoniosamente, é importante praticar a escuta ativa e cultivar a curiosidade genuína pelo próximo. Afinal, cada pessoa carrega histórias únicas, e uma conversa só se torna verdadeiramente rica quando há espaço para todos.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.

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