Imagine caminhar por uma floresta ou parque e avistar o que parece ser chiclete grudado em um tronco de árvore. Manchas coloridas e intrigantes que variam de verde e amarelo a rosa e preto. Seu primeiro pensamento pode ser: “Quem faria uma coisa dessas?” Mas, ao observar mais de perto, descobre-se que não são pedaços de goma descartados. São entidades vivas chamadas líquens.
Primeiro, vamos esclarecer um equívoco comum: os líquens não são apenas um organismo. São uma combinação fascinante de dois, e às vezes até mais, organismos distintos vivendo em harmonia. Imagine uma grande parceria onde cada entidade traz algo único para a mesa. É isso que os líquens representam no vasto reino da natureza.
Em 1867, quando os cientistas começaram a estudar essas formações interessantes, acreditava-se que os líquens eram compostos por duas partes principais. A primeira é um fungo, conhecido como micobionte. Pense neste fungo como a base ou a espinha dorsal. Ele fixa o líquen em superfícies como troncos de árvores, dá-lhe estrutura e desempenha um papel crucial na reprodução. Agora, o interessante é que esses fungos não pertencem todos à mesma árvore genealógica. Alguns pertencem à divisão Ascomycota, como as trufas que valorizamos em pratos gourmet, enquanto outros são da divisão Basidiomycota, onde encontramos cogumelos comuns como o champignon.
Do outro lado desta parceria, temos uma alga ou uma cianobactéria, coletivamente chamada de fotobionte. Se o micobionte é a base, o fotobionte é o chef, preparando comida para ambas as entidades. Como? Através do mágico processo de fotossíntese, convertendo a luz solar em glicose. Assim como em qualquer grande parceria, há troca. Enquanto o fotobionte prepara as refeições, o micobionte oferece proteção, um lugar para viver e ajuda na absorção de nutrientes essenciais. É a versão da natureza de uma situação perfeita de companheiros de quarto!
Mas aqui está uma reviravolta: enquanto esses fungos são majoritariamente dependentes de seus parceiros algais ou bacterianos para sobreviver, estes últimos podem levar vidas independentes. Isso mesmo. Os fotobiontes, seja a alga verde do gênero Trebouxia ou a cianobactéria do gênero Nostoc, podem sobreviver e prosperar por conta própria. No entanto, eles se beneficiam da parceria líquen, ganhando proteção contra potenciais predadores e raios UV prejudiciais. O micobionte também lhes oferece água e sais minerais, garantindo que estejam bem nutridos.
Agora, vamos retroceder um pouco. Lembra quando dissemos que os líquens geralmente são compostos por dois organismos? Bem, as coisas ficaram ainda mais intrigantes em 2016. Cientistas, seres sempre curiosos, se perguntaram por que não conseguiam replicar a formação de líquens em laboratórios apenas combinando os parceiros conhecidos. A resposta levou a uma descoberta revolucionária: há uma terceira parte envolvida – a levedura. Esse fungo unicelular, distinto do principal fungo micobionte, parecia ser a cola que mantém tudo junto. Portanto, essencialmente, o que parecia um duo era na verdade um trio em muitos casos!
E as surpresas não pararam por aí. Com pesquisas mais aprofundadas, descobriu-se que os líquens não eram apenas uma parceria ou mesmo um trio. Eles são agitados microecossistemas. Junto com a levedura, existem outras bactérias, protozoários e até mesmo vírus vivendo harmoniosamente dentro da estrutura do líquen. Essa revelação foi tão revolucionária que alguns cientistas, como Hawksworth e seus colegas, sugeriram redefinir os líquens. Em vez de vê-los como uma mera parceria, eles deveriam ser vistos como “ecossistemas auto-sustentáveis” com vários microorganismos interagindo de forma contínua.
O termo “simbiose” foi cunhado em 1876 por Albert Bernhard Frank, especificamente para descrever o relacionamento único entre fungos e algas em líquens. Mal sabia ele que isso era apenas a ponta do iceberg. Ao longo dos anos, percebemos que os líquens são mais do que apenas colaborações mutualísticas. Eles são mini-mundos, cada um com seu próprio conjunto de habitantes, trabalhando juntos em perfeita harmonia.
Então, da próxima vez que você estiver passeando e avistar essas manchas coloridas em troncos de árvores ou rochas, reserve um momento para apreciá-las. Elas não são apenas organismos simples. São ecossistemas dinâmicos, cada um contando uma história de colaboração, evolução e as maravilhas da natureza. De aparências semelhantes a goma até comunidades intrincadas e auto-sustentáveis, os líquens são realmente uma das maravilhas mais fascinantes da natureza.