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O que aconteceria se as abelhas fossem extintas?

Lucas R.

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O que aconteceria de verdade se as abelhas fossem extintas?
É verdade que a humanidade sobreviveria apenas mais 4 anos se as abelhas fossem extintas? O que de verdade aconteceria se elas sumissem?

“Se as abelhas desaparecessem da face da Terra, o homem teria apenas quatro anos para viver.” Você já deve ter ouvido essa frase antes. Ela é geralmente atribuída a Einstein e parece bastante plausível. Afinal, Einstein sabia muito sobre ciência e natureza, e as abelhas nos ajudam a produzir alimentos. Mas, com grande parte do medo e conspirações que existem por aí, vale a pena fazer um desmembramento básico para entender o que realmente aconteceria com a extinção das abelhas.

Primeiro, a parte fácil: “Eu nunca vi nada definitivamente vincular a citação a Einstein“, diz Mark Dykes, o inspetor chefe do Texas Apiary Inspection Service. Mas e quanto a frase em si? Isso é mais complicado.

Por que a polinização das abelhas é tão importante?

O que aconteceria de verdade se as abelhas fossem extintas?
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É quase impossível exagerar a importância dos polinizadores em nosso ecossistema. Caso você tenha perdido essa aula de ciências do ensino básico, a polinização é o transporte do pólen, do local onde ele é produzido – ou seja, dos órgãos masculinos da flor – para a parte feminina da flor. Esse transporte pode ser feito pelo vento, água e animais como as abelhas. Para que se reproduza, gerando novas plantas, sementes e frutos, a maioria das plantas precisa ser antes polinizada. Este processo tem um papel muito importante na produção de cerca de 70% de frutas, vegetais e sementes que chegam às nossas mesas.

Embora as abelhas não sejam os únicos polinizadores que temos (morcegos, pássaros, borboletas e algumas moscas também podem fazer esse trabalho), são de longe as melhores criaturas para o trabalho. Em parte, isso é porque elas precisam de pólen para alimentar suas larvas, então elas são biologicamente direcionadas para coletá-lo. Outros polinizadores visitam as flores apenas para sugar o néctar, e qualquer pólen que fique no processo é um feliz acidente.

“Além disso, a maioria das espécies são peludas, e esses pêlos atraem grãos de pólen, tornando as abelhas ainda mais propensas a polinizar”, diz Jessica Beckham, pesquisadora de pós-doutorado em abelhas da Universidade do Norte do Texas. As abelhas também fornecem alimento para algumas espécies de aves, por isso, se um evento cataclísmico enviasse todas as nossas abelhas para o arrebatamento, os tremores secundários poderiam agitar a cadeia alimentar.

Os humanos poderiam sobreviver sem abelhas?

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Infelizmente, esse arrebatamento pode estar chegando. Quase meio bilhão de abelhas morreram em quatro dos estados do Brasil nos primeiros meses deste ano. Aqui, assim como em outras partes do mundo, a causa desse problema é complicada e multifacetada, mas um fator se destaca claramente dos demais: os pesticidas.

Mas voltando à pergunta original: se as abelhas se forem, por extensão, estamos condenados também?

Dykes diz que não é apenas a atribuição da citação de Einstein que é problemática, é também a mensagem. É provável que os humanos sobrevivam muito depois que as abelhas morreram.

“A maioria das nossas fontes alimentares são polinizadas pelo vento”, diz Dykes, o que significa que a brisa faz o trabalho dos pássaros e das abelhas. O milho e o trigo, dois itens básicos da dieta ocidental típica, são polinizados pelo vento e não seriam afetados por uma catástrofe maciça contra os polinizadores.

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No entanto, embora de uma perspectiva de calorias, o nosso sistema alimentar esteja seguro, do ponto de vista da diversidade, as coisas seriam sombrias. Grande parte de nossos produtos, como amêndoas, pêssegos, ameixas, maçãs e cerejas, dependem da polinização assistida por abelhas. De fato, “Uma análise do mercado global de culturas descobriu que os polinizadores são essenciais ou altamente, moderadamente ou ligeiramente necessários para 91 cultivos consumidos por seres humanos”, diz Beckham. “Nós definitivamente perderíamos muitos dos alimentos que tornam nossas dietas vibrantes, saudáveis ​​e nutritivas”.

E não seriam apenas frutas e vegetais os afetados. Sem itens básicos, a criação de animais para o abate iria diminuir, uma vez que não haveria mais comida para eles. Além da produção de carne, leite, ovos e outros alimentos também seriam afetados.

Como o nosso suprimento alimentar mudaria?

O cenário acima, é claro, presume que não substituímos nossos polinizadores perdidos por nenhuma opção alternativa. As plantas podem ser polinizadas à mão (ou, no futuro, por drones). Mas contratar humanos é caro. “Diplomados do MIT calcularam que o custo de polinização manual de um hectare de maçãs seria de aproximadamente US$ 5.715 a US$ 7.135. Isso encareceria muito todos os produtos.

O USDA estima que as abelhas fazem de US$ 11 a US $ 15 bilhões em trabalho para os agricultores americanos a cada ano. Esse é um custo que seria absorvido pelos compradores, resultando em um aumento brusco nos preços, o que traria consequências socioeconômicas reais, empurrando frutas frescas e vegetais para fora do alcance dos trabalhadores pobres, que já consomem menos desses itens do que os vizinhos mais ricos.

Dentro de apenas 3 meses após a morte de nossa última abelha, os produtores enfrentariam um rendimento recorde de colheita baixa. Nas cidades, os mercados se esforçariam para explicar aos consumidores por que os custos de basicamente tudo aumentaram 5, 10 ou 20 vezes. Dentro de seis meses, muitos agricultores – especialmente os de pequena escala – provavelmente teriam colheitas difíceis e talvez não conseguiriam mais se manter. No final do primeiro ano, “teríamos uma dieta muito branda e pobre em nutrientes”, prevê Dykes.

Embora não seja o fim da humanidade, Dykes gosta de salientar que seria sensato pensar um pouco sobre a cadeia de eventos que nos levaria a esse ponto – e se há alguma maneira de evitá-lo. “Se perdermos todas as nossas abelhas, essa é a menor das nossas preocupações”, diz ele. Como naquele momento, estaríamos vivendo em um mundo tão sujo e tóxico que teríamos problemas muito maiores do que pagar R$40,00 por apenas uma maçã.

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Editor-chefe do portal Mistérios do Mundo desde 2011. Adoro viajar, curtir uma boa música e leitura. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.