Desde os primórdios da civilização humana, a nossa espécie vem alterando de forma drástica a conjuntura do nosso próprio planeta. Nenhuma outra espécie chegou ao patamar de desenvolvimento que os seres humanos chegaram, mas igualmente nenhuma outra espécie causou tanta destruição à sua própria casa. Um novo relatório divulgado em Paris, no começo desta semana, chama ainda mais atenção para este assunto.
O documento, feito pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidades e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), afirma que a natureza está sofrendo um declínio sem precedentes no último século, e que o processo de extinção de diversas espécies está mais acelerado do que nunca. E o que é mais alarmante: mais de um milhão de espécies estão correndo sério risco de desaparecerem da face da Terra caso os países e as pessoas não tomem medidas apropriadas para lidar com a situação caótica em que nosso planeta se encontra. [5 fatos que mostram que podemos estar caminhando para uma extinção em massa]

Os novos dados publicados pelo IPBES contam com a participação de 130 governos internacionais, mais de 15 mil fontes científicas e centenas de autores e estudos diferentes. A plataforma vem chamando este estudo de “a mais compreensiva análise de seu tipo em toda a história”, e o panorama é deveras assustador.
De acordo com as análises publicadas, os seres humanos tomaram uma posição ainda mais perigosa em relação ao seu próprio planeta a partir do último século, quando avanços nas tecnologias e práticas de pesca, caça, agricultura, desmatamento e mineração acabaram por gerar também um rastro de destruição sem precedentes em nossa história. Em outras palavras, estaríamos pagando o preço do nosso desenvolvimento desenfreado com o próprio caos em nossa casa.
Além disso, o aquecimento global, que a muito também deve à contribuição humana, vem gradativamente deteriorando e muitas vezes acabando com o habitat natural de mamíferos, aves, insetos, peixes e até mesmo plantas. Os dados dão conta de que 20% das espécies terrestres passaram por processos de extinção desde o começo dos anos 1900, bem como 40% das espécies de anfíbios e um terço dos animais marinhos. Ao mesmo tempo, as áreas urbanas na Terra mais que dobraram desde 1992 (em um intervalo de apenas 27 anos).
“Ecossistemas, espécies, populações selvagens, variedades locais e espécies de plantas e animais domesticados estão encolhendo, se deteriorando ou desaparecendo. A rede interconectada de vida na Terra, tão essencial, está se tornando menor e mais fraca. Esta perda é um resultado direto da atividade humana e constitui uma ameaça direta ao ser humano em todas as regiões do planeta”, escreveu o professor alemão Josef Settele, um dos coautores da análise. Para se ter uma ideia da forma como o ser humano está alterando constantemente o planeta Terra, mais de 1/3 de toda a superfície terrestre, bem como 66% do ambiente marinho em todo o mundo já foi afetado de alguma maneira pelo ser humano.
Outra assustadora descoberta do relatório mostra que as emissões de gases poluentes dobraram desde 1980, aumentando a temperatura global em 0,7ºC, o que coloca não apenas a natureza como um todo, mas os próprios seres humanos em um risco sem precedentes. Caso nada seja feito para resolver o problema do aquecimento global, o panorama pode ser desesperador para as gerações que estiverem vivendo nas próximas décadas.
Felizmente, não estamos completamente perdidos. Iniciativas como a própria IPBES, responsável pelos dados publicados, bem como outros projetos que visam a alertar as nações sobre práticas abusivas ao meio-ambiente correm contra o tempo para conscientizar a todos sobre o nosso papel crucial na manutenção da saúde do nosso próprio planeta. Entretanto, de acordo com os pesquisadores, ainda não alcançamos o patamar necessário de ações afirmativas no sentido de garantir uma melhor atenção a esta causa.
“Apesar do progresso na conservação da natureza e na implementação de políticas, este relatório também aponta que os objetivos globais de conservação e do uso sustentável da natureza não podem ser alcançados pelas trajetórias atuais, e os objetivos para 2030, bem como metas posteriores, só podem ser alcançadas através de mudanças transformativas envolvendo fatores econômicos, sociais, políticos e tecnológicos”, escreveu o IPBES em seu comunicado oficial sobre o relatório.