Você já notou pequenos caroços brancos ou amarelados ao redor dos lábios ou nas regiões íntimas? Se a resposta for sim, respire fundo: você não está sozinho e, muito provavelmente, não há motivo para pânico. Essas bolinhas, que muitas vezes geram dúvidas e preocupações, são chamadas de manchas de Fordyce — e elas são mais comuns e inofensivas do que você imagina.
Descritas pela primeira vez em 1896 pelo dermatologista norte-americano John Addison Fordyce, essas pequenas marcas são, na verdade, glândulas sebáceas em miniatura. Sim, aquelas mesmas estruturas responsáveis por produzir o óleo natural da pele, o sebo, que ajuda a manter a hidratação e a proteção contra bactérias. A diferença é que, em vez de estarem associadas a pelos (como acontece no rosto ou no couro cabeludo), essas glândulas aparecem isoladas em áreas onde não há folículos pilosos. Por isso, é possível encontrá-las principalmente nas bordas dos lábios, dentro das bochechas, no pênis, no escroto, na vulva ou até mesmo no mamilo.
Manchas de Fordyce ao redor dos lábios – elas também aparecem em outros lugares, mas não vamos te mostrar fotos disso.
Apesar de serem totalmente benignas, as manchas de Fordyce costumam causar alarme por sua localização. Afinal, quando surgem nas regiões genitais, é fácil confundi-las com condições mais sérias, como verrugas genitais, herpes ou infecções sexualmente transmissíveis. A semelhança visual, especialmente no estágio inicial dessas doenças, pode levar a interpretações equivocadas. No entanto, há diferenças cruciais: as manchas de Fordyce não doem, não coçam, não se espalham e nem mudam de formato com o tempo. Além disso, elas não são contagiosas — ou seja, não há risco de transmissão durante relações sexuais ou contato íntimo.
Segundo a Cleveland Clinic, instituição referência em saúde, cerca de 80% da população mundial apresenta essas manchas em alguma parte do corpo. Elas podem ser mais visíveis em pessoas com pele mais clara ou em áreas onde a pele é mais fina, mas sua presença não está ligada a hábitos de higiene, infecções ou qualquer tipo de doença. Em alguns casos, fatores como alterações hormonais na adolescência ou predisposição genética podem influenciar seu aparecimento.
Apesar de não representarem riscos à saúde, muitas pessoas buscam tratamentos por questões estéticas. Procedimentos como laser, micropunch (uma técnica cirúrgica para remoção) ou peelings químicos são opções, mas é importante destacar que nenhum deles é necessário do ponto de vista médico. Além disso, intervenções sem orientação profissional podem causar irritação ou cicatrizes. Por isso, a recomendação é sempre consultar um dermatologista antes de tomar qualquer decisão.
Vale reforçar: se você identificar caroços, feridas ou erupções que causem dor, coceira, sangramento ou aumento repentino de tamanho, procure um médico. Esses sintomas podem indicar condições que exigem atenção, como infecções ou dermatites. No caso das manchas de Fordyce, porém, a única “ação” necessária é aceitar que elas fazem parte da diversidade natural do corpo humano.
“Por um lado, tive uma das minhas descobertas médicas nomeada em minha homenagem. Por outro lado, é sobre aquelas pequenas bolinhas que você tem nos genitais.” (Domínio Público)
Curiosamente, a história do Dr. Fordyce nos lembra como a medicina está repleta de descobertas cotidianas. Enquanto estudava glândulas sebáceas, ele notou que algumas delas apareciam fora do padrão esperado — e, em vez de ignorar o fenômeno, documentou-o. Hoje, mais de um século depois, seu nome permanece associado a uma característica anatômica que intriga (e às vezes assusta) milhões de pessoas.
Para finalizar, um lembrete amigável: não há dois corpos iguais. Marcas, sardas, cicatrizes e até pequenas glândulas visíveis são parte do que nos torna únicos. Enquanto a indústria da beleza insiste em padrões de pele impecável, a realidade é que a maioria de nós tem texturas, relevos e particularidades que merecem ser normalizadas. Portanto, da próxima vez que notar aquelas bolinhas discretas, lembre-se de que elas são apenas mais um detalhe da complexidade — e da beleza — do organismo humano.