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Os números não deixam mentir. Acidentes aéreos são muito mais raros do que os acidentes em terra. Pelo menos 3 mil pessoas morrem em todo o mundo vítimas de acidentes de trânsito todos os dias.
E na média dos últimos anos, são apenas 250 vítimas fatais por ano na aviação comercial. Em 2019, por exemplo, foram 8 acidentes fatais em mais de 5 milhões de voos.
Mas toda essa segurança veio em resposta a muitos acidentes do passado, que eram bem mais frequentes. Aqui está a história do Desastre de Tenerife, o maior desastre aéreo de todos os tempos.
O desastre de Tenerife
A ilha de Tenerife, que pertence a Espanha, é a maior das ilhas Canárias, e é famosa por ser um dos principais pontos turísticos do território espanhol, sobretudo durante as épocas mais quentes.
E, ironicamente, o terrível Desastre de Tenerife envolveu dois Boeings 747 que nunca deveriam ter ido para lá, e a maior tragédia da aviação, viria a acontecer no solo, na sequência de tristes coincidências e erros fatais.
O primeiro Boeing, da holandesa KLM, saiu de Amsterdã, enquanto o outro, da Panam, saiu de Los Angeles, nos Estados Unidos. O destino das duas aeronaves era o Aeroporto de Gran Canária, a cerca de 200 quilômetros de Tenerife. Mas o destino acabou desviando a rota dos dois aviões.
No começo da tarde daquele domingo, um grupo terrorista explodiu uma bomba no movimentado aeroporto de Gran Canária, causando uma imensa confusão no local e desviando a rota de vários aviões, incluindo os dois Boeings.
Sem que pudessem pousar em Gran Canária, as aeronaves foram para o aeroporto de Tenerife, que era bem menor e menos equipado.
Além dos Boeings, vários outros voos foram desviados para Tenerife, congestionando o aeroporto.
Com apenas uma pista de pouso e uma faixa lateral para fazer o táxi, os controladores tiveram muita dificuldade para controlar todos os aviões.
Para piorar a situação, justamente naquele dia um forte nevoeiro atingiu a região, diminuindo consideravelmente a visibilidade. Nem os pilotos eram capazes de enxergar os outros aviões nem a torre os conseguia controlar à distância por não haver radares no solo.
Uma hora após a explosão em Las Palmas, o aeroporto de Gran Canaria foi reaberto. Com todos impacientes, era finalmente hora de seguir viagem para o destino programado.
O comandante Jacob Van Zanten, do avião da KLM, era considerado o melhor instrutor desse novo modelo, e aparecia em todos os anúncios da marca em revistas.
Ele estava aflito esperando a autorização para deixar Tenerife, e tinha um motivo para estar impaciente. Se a aeronave não respeitasse os horários determinados pela empresa, o comandante poderia ser processado por fazer os funcionários trabalharem além do limite legal de horas.
Próximo das cinco da tarde, ele comunicou a torre que estava deixando o aeroporto, rumo a Gran Canaria.
Mas durante a comunicação com os controladores, mais uma coincidência fatal aconteceu.
Naquela época, os meios de comunicação entre tripulantes e torre não eram tão modernos como hoje em dia. Por conta disso, tanto o Boeing da KLM quanto o da Panam usavam a mesma frequência para se comunicar com a torre.
Quando o comandante holandês comunicou que estava iniciando a manobra de decolagem, os controladores concordaram dizendo “OK”, mas logo em seguida pediram para que a aeronave aguardasse uma segunda ordem.
Mas ao ouvir a mensagem da outra aeronave, o comandante da Panam se atravessou na comunicação, dizendo que ainda estava no solo, no meio da pista de decolagem.
Essa interrupção fez com que Van Zanten ouvisse apenas o “OK” dos controladores, e começasse a acelerar.
A torre, tentando em desespero alertar o piloto, pediu que ele parasse o avião. Ainda havia tempo e pista de sobra para impedir o pior, mas o piloto não ouviu a comunicação.
Isso porque, enquanto a torre comunicava, o piloto transmitia a eles a frase “Vamos”.
Nos sistemas de comunicação dos anos 70, se duas pessoas se comunicavam ao mesmo tempo para o mesmo dispositivo, elas eram incapazes de ouvir o que a outra estava transmitindo.
Por conta da forte neblina, o holandês só avistou o outro avião no meio da pista quando ele estava a poucos metros de distância. A tragédia era inevitável.
Van Zanten tentou decolar muito antes do avião atingir a velocidade correta, mas não conseguiu. Ao mesmo tempo, o piloto americano ligou os motores e acelerou o avião na direção do gramado, em uma tentativa desesperada de sair da pista. Mas também não teve sucesso.
O trem de pouso e os motores do jumbo da KLM bateram contra a parte superior do avião da Panam. Com o choque veio uma enorme explosão.
O avião holandês, então, caiu na pista, matando todas as 235 pessoas a bordo. No Boeing norte-americano, 61 pessoas conseguiram fugir pelos espaços abertos na fuselagem. Infelizmente, os outros 319 ocupantes não tiveram a mesma sorte.
A tragédia é lembrada até hoje como o acidente com mais vítimas fatais na história da aviação, e um dos que mais contribuiu para uma série de melhorias de tecnologias, procedimentos e treinamentos, que foram fundamentais para que nenhuma outra tragédia parecida acontecesse desde então.