Aviso: Este artigo contém discussões sobre suicídio, o que pode ser angustiante para alguns leitores.
Criado pelo médico australiano Philip Nitschke, o Sarco pod — uma cápsula de morte assistida — ganhou atenção mundial por sua proposta de oferecer um fim de vida “pacífico, confiável e sem medicamentos” em apenas 10 minutos. O dispositivo, que lembra uma nave espacial futurista, promete reduzir o sofrimento físico e emocional de pessoas que desejam interromper a própria vida. Mas como exatamente essa tecnologia funciona, e por que ela está no centro de debates éticos e legais?
O processo começa quando a pessoa entra na cápsula, feita de material transparente, e se deita confortavelmente. Ao pressionar um botão interno, ela ativa a liberação de nitrogênio gasoso no ambiente. Em menos de um minuto, o nível de oxigênio dentro do pod cai drasticamente, substituído pelo nitrogênio. Sem oxigênio suficiente, o cérebro entra em estado de hipóxia — uma condição que leva à perda de consciência em cerca de dois minutos. A morte ocorre após aproximadamente 10 minutos, quando o coração para de bater devido à falta prolongada de oxigênio.
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O Dr. Nitschke insiste que o processo é “indolor”
A primeira morte registrada com o Sarco pod aconteceu em 23 de setembro de 2023, na Suíça, país onde o suicídio assistido é legalizado sob certas condições. Uma mulher norte-americana de 64 anos, cujo nome não foi divulgado, entrou na cápsula sozinha e acionou o mecanismo. De acordo com o médico Florian Willett, que acompanhou o procedimento, a morte foi “rápida, tranquila e digna”. Nitschke descreveu que a paciente perdeu a consciência em dois minutos e faleceu seis minutos depois. O caso, porém, gerou consequências: Willett foi detido pela polícia suíça para esclarecimentos, destacando a sensibilidade legal do tema.
Em um episódio do podcast How It Ticks, em dezembro de 2023, Nitschke detalhou o processo fisiológico. Ele explicou que, ao respirar nitrogênio puro, os pulmões não recebem oxigênio, causando uma queda abrupta nos níveis de oxigênio no sangue. “O cérebro percebe a falta de oxigênio e desliga funções não essenciais quase imediatamente, levando à perda de consciência em duas respirações”, afirmou. O médico ressaltou que, ao contrário de métodos como asfixia ou estrangulamento — que causam pânico e dor —, a hipóxia induzida pelo Sarco pod mantém a pessoa calma. “Ela respira normalmente, mas sem oxigênio. Não há sensação de sufocamento”, disse.
Nitschke também abordou possíveis reações físicas durante o processo. Contrações musculares involuntárias podem ocorrer após a perda de consciência, mas ele as descreveu como “naturais” e sem relação com sofrimento. “São sinais de que o sistema nervoso está desligando, mas a pessoa já está inconsciente e não sente nada”, explicou. Apesar da descrição técnica, o inventor faz um alerta claro: “Uma vez que o botão é pressionado, não há volta”.
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O pod foi usado pela primeira vez no ano passado (The Last Resort:Exit International)
A polêmica em torno do Sarco pod vai além da tecnologia. Grupos contrários à eutanásia argumentam que a facilidade do método poderia banalizar a morte ou pressionar pessoas vulneráveis. Por outro lado, defensores destacam o direito de indivíduos com doenças terminais ou dores crônicas incapacitantes de escolherem uma morte sem dor. A detenção de Willett após o primeiro uso do dispositivo ilustra os desafios legais: mesmo em países onde o suicídio assistido é permitido, novos métodos exigem regulamentação específica.
Enquanto o debate continua, o Sarco pod já está disponível para download gratuito em formato 3D — uma decisão intencional de Nitschke para democratizar o acesso. Apesar disso, montar o dispositivo exige conhecimentos técnicos e acesso a materiais específicos, como nitrogênio líquido. Para o criador, a tecnologia representa um avanço na discussão sobre autonomia corporal e dignidade no fim da vida. Resta saber como governos e sociedades responderão a esse desafio ético — e quantos optarão por pressionar o botão.
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